quinta-feira, abril 25, 2024

[Opinião] MCU começou oficialmente a “Era da Retcon”

[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA CONTÉM SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu a Falcão e o Soldado Invernal, WandaVision, Viúva Negra, Shang-Chi e Eternos não leia esta matéria para não receber spoilers.

O planejamento do Universo Cinematográfico Marvel sempre foi algo elogiadíssimo pelos fãs e pela crítica. Apesar de alguns erros ficarem nítidos, resultando na troca de atores ou no abandono de tramas. Como esquecer da pós-créditos de O Incrível Hulk (2008), que trazia Tony Stark (Robert Downey Jr.) recrutando heróis para a Iniciativa Vingadores? Ou ainda da busca internacional de Steve (Chris Evans) e Sam (Anthony Mackie) por Bucky (Sebastian Stan) que apesar de encerrar Capitão América: O Soldado Invernal (2014) com um gancho enorme, como se fosse ser desenvolvida, acabou virando um nota de rodapé em Vingadores: A Era de Ultron (2015) e terminou com 20 minutos de filme em Capitão América: Guerra Civil (2016)?

Fato é que essas retcon, essas mudanças ou correções com o “carro andando” se tornaram comuns no MCU de forma bem natural, mas, em 2021, tendo essa possibilidade de ouro de “recomeçar” nos cinemas e no streaming, a Marvel deu início a um processo gigante de correções ou ressignificações de pontos que foram mal explorados no passado ou até mesmo acertando erros que incomodaram demais os fãs e renderam várias críticas chatas a Kevin Feige e cia.

A primeira delas foi justamente em WandaVision com sua protagonista. Parte do MCU há seis anos, Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) sempre esteve aquém de sua contraparte original dos quadrinhos, que era extremamente problemática e poderosa. Nos cinemas, ela só era uma mulher de trinta anos interpretando uma adolescente que passou por coisas ruins na vida e podia mexer coisas com a mente.

Apesar do próprio Kevin Feige ter dado várias entrevistas ao longo desses seis anos para dizer que os poderes dela aumentariam com o passar dos filmes, ele também disse que sua aparição em Vingadores: Ultimato (2019) já seria praticamente sua forma final com plenos poderes. Então, chegou o filme e lá estava ela mexendo coisas com a mente de novo.

Com a série própria, a capacidade de manipulação da realidade enfim foi abordada e consolidada. Inclusive, quem não tiver visto a produção e chegar seco para Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) vai levar um grande susto com o upgrade que ela sofreu, se tornando praticamente uma personagem diferente. Partindo da ideia do luto da protagonista, a série faz Wanda perder a cabeça e ressignifica seus poderes, fazendo com que a mutação seja somada a entidade da Feiticeira Escarlate, quase como uma Força Fênix da magia. Assim, é bem provável que ela assuma um papel anti-heroico ou até mesmo de vilã, enquanto busca por seus filhos no Multiverso.

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Em Falcão e o Soldado Invernal, diversas mudanças sutis acontecem, abrindo portas para um novo futuro para o núcleo do Capitão América. Logo de cara, a história quase imaculada de que não houve outros Capitães América, apesar das tentativas, foi jogada no lixo com o brilhante arco de Isaiah Bradley (Carl Lumbly), o soldado afro-americano que foi cobaia involuntária de testes do governo americano de novas tentativas do soro, mostra que o legado do uniforme bandeiroso e do escudo estrelado foi construído não só com a inocência e heroísmo de Steve, mas também por muita podridão nos anos em que o herói passou congelado.

Essa “janela” do legado do herói já foi explorada também em Viúva Negra. No filme, o Guardião Vermelho (David Harbour) é um agente ex-KGB bonachão que vive bêbado, cujo passado remete a experimentos soviéticos que tentaram replicar nele os poderes e o símbolo do Capitão América, fazendo dele um tipo de Capitão Soviético.

No entanto, apesar de viver se gabando de suas histórias como herói aventureiro e até mesmo exagerando ou distorcendo casos para contar vitória, o Guardião comenta com muito entusiasmo sobre seus confrontos e batalhas contra o Capitão América, tanto que a primeira pergunta que ele faz para a “filha”, Natasha (Scarlett Johansson) depois de décadas sem vê-la, é se o Capitão América falou dele.

Como as datas não batem, Isaiah estava preso pelo governo e ele não aparenta estar mentindo sobre essas histórias, já que ele acredita mesmo nisso, a Marvel abriu de vez a porta para os problemáticos Capitães América que existiram nos quadrinhos enquanto Steve estava congelado. A maioria enlouqueceu e acabou morrendo tragicamente anos depois, manchando mais ainda o legado do soro do supersoldado, o que acaba colaborando com o ponto do Barão Zemo (Daniel Brühl).

Voltando para a série e continuando com o ponto de que Zemo estava certo, Sharon Carter (Emily VanCamp) foi outra afetada pelo soro, mas não diretamente. Ela talvez seja a personagem que mais sofreu com esse retcon, se mostrando uma pessoa completamente diferente. Ela foi introduzida em 2014 como novo interesse amoroso de Steve. Em 2016, isso se consolidou com um dos beijos mais anticlimáticos da história, praticamente confirmando a ela o papel diminuto de interesse amoroso. Porém, nos anos seguintes, a vida pessoal de Steve não voltou a ser abordada e para complicar ainda mais, ele voltou no tempo para viver sua vida ao lado da tia da garota. Esses casos de família, não é mesmo, Steve?

Enfim, o caminho dado a Sharon teve de ser abandonado justamente por falta de oportunidade de ter a personagem em tela. Com isso, de mocinha espiã, eles a transformaram em uma foragida internacional por ter ajudado os heróis contra os Tratados de Sokovia, levando ela para Madripoor, onde virou o Mercador do Poder. Lá, ela se consagrou como a maior traficante internacional de armas e artes do mundo, até conseguir se infiltrar novamente no governo americano. Ou seja, ela saiu da aba do ex para virar uma potencial oponente do novo Capitão América, Sam Wilson.

Retornando para Viúva Negra, a trama da organização russa de espiãs foi citada brevemente no passado, dando a entender que já havia acabado. Porém, com a morte precipitada de Nat, a Marvel recuperou o “Programa Viúva Negra” e mostrou que existe um verdadeiro exército de mulheres aprimoradas perambulando por aí e resolvendo – ou causando – muitos problemas na surdina, dando a Yelena (Florence Pugh) o rumo de tirar essas mulheres do controle da organização antes de substituir a irmã como a nova Viúva Negra dos Vingadores.

Então chegamos a Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, que veio disposto a passar uma belíssima borracha nas trapalhadas de Homem de Ferro 3 (2013). Na cena do Clube de Luta de Macau, é possível ver uma Viúva Negra lutando contra um soldado Extremis. No filme de 2013, o Extremis era um vírus que deveria recuperar soldados decepados em combate e aprimorá-los, dando a eles capacidades super-humanas. Porém, os experimentos deram errado e eles se tornaram bombas-relógio cuspidoras de fogo, sendo a única exceção Aldrich Killian (Guy Pierce), que eventualmente termina sendo derrotado e morto.

Pepper (Gwyneth Paltrow) também é infectada com o vírus, mas o filme termina com Tony dizendo que ela foi curada. Essa cura teria sido a remoção total do Extremis ou uma estabilização do vírus, conferindo a ela mais resistência e coisas do tipo? Essa participação do soldado Extremis em Shang-Chi deixa muitas perguntas, já que se pensava que o programa tinha morrido com Killian e que os outros soldados tivessem partido dessa para melhor. Ter um deles perambulando por aí pode indicar muitas coisas, inclusive a continuidade da IMA, uma organização importantíssima no Universo Marvel dos quadrinhos para ser desperdiçada em uma cameo de Homem de Ferro 3.

Outro vilão resgatado nessa sequência de Macau foi o Abominável. Apesar de terem dado a entender que ele havia morrido ao final de O Incrível Hulk, seu retorno havia sido apontado ainda na Fase Um. Em um dos Marvel’s One Shot, os curtas de bônus que vinham nos blu-rays da Fase Um, o Agente Coulson (Clark Gregg) discute a convocação do Abominável para os Vingadores caso o Hulk não esteja disponível. No entanto, nunca mais se falou nele, dando a entender que esse arco tivesse caído no esquecimento. Mas agora com a série da Mulher-Hulk vindo aí para o Disney+, é bem provável que o retorno do Abominável de Blonsky indique uma participação dele na produção. Vale lembrar que esse núcleo do Hulk é bem problemático, já que o Golias Esmeralda pertence à Universal, podendo apenas participar de filmes de outros personagens do MCU, mas nunca podendo estrelar um longa solo. Então, trazer esse universo dele para ser coadjuvante na série da prima de Bruce Banner (Mark Ruffalo), incluindo o próprio Bruce, é uma forma esperta de evitar conflitos contratuais e financeiros com a Universal.

Outra organização que sofreu um retcon pesado em Shang-Chi foram os Dez Anéis. Introduzidos em Homem de Ferro (2008) como um grupo terrorista do Oriente Médio que traficava armas e queria tomar o controle bélico da região, eventualmente negociando com Obadiah Stane (Jeff Bridges) e sequestrando Tony Stark, fazendo com que ele virasse o Homem de Ferro, o grupo voltaria a aparecer sob controle americano em Homem de Ferro 3, respondendo a Killian.

Isso fugiu demais da grandiosidade dessa organização nos quadrinhos. Então, em Shang-Chi, foi revelado que os verdadeiros Dez Anéis vinham atuando há milênios na Ásia, respondendo a Wenwu (Tony Leung), que, fazendo uso de dez anéis alienígenas, conquistou impérios e acumulou fortunas por milhares de anos, enquanto treinava um exército de guerreiros na China para seguirem expandido suas fronteiras de atuação e definindo momentos-chave da sociedade global.

Além disso, a figura do Mandarim, que foi esculachada com o ator desmiolado Trevor Slattery (Ben Kingsley) e já havia sido “retconizada” no One Shot All Hail The King, enfim ganhou uma abordagem que faz justiça ao personagem, trazendo uma interpretação mais respeitável ao vilão. Por fim, os Dez Anéis continuam sob nova direção, garantindo mais uma organização criminosa presente no MCU. Com isso, algumas sagas que envolvam essas organizações, como H.I.D.R.A., IMA, Dez Anéis e até mesmo o Tentáculo podem voltar a acontecer sem parecer forçadas. É uma ótima ação, principalmente pensando nos vindouros projetos de heróis urbanos.

Por fim, Eternos veio para remover aquela ideia de Guardiões da Galáxia Vol.2 (2017) de que um Celestial pode ser explodido por uma bomba de “baterias arbulax” ou algo do tipo. No filme de James Gunn, eles usam o Quase-Celestial Peter Quill (Chris Pratt) para distrair o Celestial Ego (Kurt Russell) enquanto o Bebê Groot (Vin Diesel) entra no sistema nervoso dele e aciona uma bomba. Um plano relativamente simples para matar uma criatura mais velha que o próprio tempo.

Em Eternos, o grupo superpoderoso usa todos os seus recursos e energias vitais para impedir que o novo Celestial saia do forninho, destruindo assim toda vida na Terra. Com esse novo padrão Celestial e com a visita de Arishem ao planeta, não esperemos mais que essas entidades sejam explodidas de formas simples. Na verdade, a partir de agora, é prudente cogitar que eles só possam ser derrotados por outras criaturas de mesmo calibre, como Knull e talvez até o próprio Galactus.

Para completar essa tendência de correções de curso com o universo em movimento, dois instrumentos narrativos perfeitos para essa ação já foram introduzidos e serão parte fundamental dessa nova fase: o Multiverso e Kang, o Conquistador (Jonathan Majors). Enquanto o primeiro já vem sendo trabalhado há algum tempo, o segundo foi introduzido na série Loki e se tornará o grande déspota temporal em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Ambos permitem a chegada de novas versões de personagens ou que elas se alterem por conta de viagens no tempo. Ou seja, poderão servir de muleta para qualquer possível erro ou decisão que não agrade o estúdio.

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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