Como afirmar quais são os melhores e piores filmes do ano? Bem, este é um tópico muito relativo, já que cinema e arte não são ciências exatas. Porém, ultimamente, as superproduções hollywoodianas são tratadas exatamente desta forma, como um esporte, competindo pelo pódio. Desde que os blockbusters foram criados ainda na década de 1970, os filmes de entretenimento parecem cada vez mais unicamente preocupados com seu retorno em bilheteria. Embora tal fator, obviamente, precise entrar em jogo, já que além de arte, cinema é um negócio e precisa gerar dinheiro, é necessário nunca esquecer de empregar ideias e inteligência a tais roteiros.
Mas foi quando um dos maiores vilões (ou seria herói?) – ao menos na visão de produtores (a não ser que elogiem seus filmes) – entrou em cena, que os filmes começaram a ser medidos em porcentagem. É claro que estou falando do Rotten Tomatoes, agregador mais famoso (ou infame) do meio, que faz as vias de um Super Crítico de cinema, dando força a um coletivo de avaliadores registrados. Veja por esse lado, se um crítico pode incomodar certos envolvidos com um filme, imagine um agregador, que aponta se a maioria aprovou ou não seu filme. Um pesadelo total, não é mesmo?
Leia nossa matéria que explica como funciona o Rotten Tomatoes, o pesadelo de Hollywood
Imagine os dois itens, críticas (Rotten) e bilheterias (público) entrelaçados, um afetando o desempenho do outro – ou melhor, o primeiro influenciando o segundo. É exatamente o que uma matéria recente do site Quartz, na qual nos baseamos para criar esta, apontou. Será que o público está dando mais ouvidos aos críticos? Aqui temos uma lista com dez filmes que receberam avaliações baixas da imprensa especializada e que por consequência, ou coincidência, afundaram no gosto do público e nas bilheterias. Vamos conhecê-los.
Transformers: O Último Cavaleiro (15%) – US$45 milhões
Tudo bem que tirando o primeiro filme de 2007, que obteve 57% de aprovação dos especialistas, a franquia Transformers nunca foi o forte dos críticos – as sequências receberam 19%, 35% e 18%, respectivamente. Até aí, ok, já que o público sempre comparecia lotando as salas de cinema e garantindo o lugar dos carros-robôs no pódio dos filmes mais vistos de seus respectivos anos. Aqui é que entra o fator Rotten Tomatoes, ou simplesmente um certo desgaste da franquia.
Das duas uma, ou as pessoas estão mais cientes em relação ao agregador, não só nos EUA, mas pelo mundo, ou completamente saturadas dos longos blockbusters explosivos de Michael Bay. Com uma irrisória aprovação de 15% – a parcela de profissionais que deu aval ao longa – a menor de toda a série até o momento – o quinto Transformers abriu sua carreira com 45 milhões de dólares nos EUA, o número mais baixo em bilheteria de toda a franquia, levando em conta que alguns filmes atingiram a marca de US$100 milhões só na estreia e o valor mais baixo havia sido US$70 milhões do filme original.
A Múmia (16%) – US$32 milhões
Enquanto a Paramount vê sua galinha dos ovos de ouro perder finalmente o fôlego junto ao público-alvo, a Universal não fica muito atrás em questão de prejuízo e amarga a “largada queimada” do Dark Universe, ambicioso projeto do mega empresário de cinema Alex Kurtzman, roteirista e produtor de franquias como Star Trek, Homem-Aranha e Transformers. Este ano fizemos uma matéria descortinando o Dark Universe – para saber mais clique no link.
A Múmia foi (ou seria) o primeiro passo deste universo interligando de monstros, com Kurtzman à frente do longa, jogando em todas as posições: roteiro, produção e direção. Bem, podemos dizer que não existem tantas outras pessoas para culpar pelo resultado. Quem sabe Tom Cruise? O astro é conhecido por dar pitaco e colocar seu dedo nos blockbusters que protagoniza. De qualquer forma, dificilmente Kurtzman deixaria Cruise fazer de seu Dark Universe, um Cruise Universe. Aqui, no entanto, creio que seja o caso de uma ideia mal concebida, já que assim que pipocaram as primeiras fotos, sinopse e finalmente o trailer, a maioria de cara torceu o nariz, prevendo o desastre. O filme obteve 16% de aprovação no agregador e rendeu 32 milhões de dólares em sua estreia nos EUA.
All Eyez on Me (16%) – US$26 milhões
Ao contrário dos dois primeiros itens na lista, este não é um blockbuster, mas uma biografia dramática. Pegando carona o sucesso de Straight Outta Compton – A História do NWA (2015), um dos grandes sucessos surpresa do verão norte-americano de dois anos atrás, biografia de um grupo de rap da década de 1980, que teve como integrantes nomes estabelecidos do mercado como Ice Cube e Dr. Dre. Straight Outta Compton fez sua estreia abrindo com mais de US$60 milhões em bilheteria, vivendo para uma carreira de mais de US$160 milhões só nos EUA (o 19º filme mais lucrativo do ano) e mais US$100 milhões ao redor do mundo – fechando com mais de US$200 milhões.
Além disso, o sucesso de 2015 obteve o aval da crítica, com 87% de aprovação no RT, e a indicação ao Oscar de roteiro original. Já All Eyez on Me, que relata outra figura muito amada do mundo do rap, Tupac Shakur, também ator, não caiu da mesma forma no gosto da crítica e público. Shakur foi assassinado em 1996, devido a uma rixa entre gangues rivais do mundo do rap. All Eyez on Me estreou com US$ 26 milhões, e arrecadou US$ 44 milhões durante a trajetória nas telonas, ou seja, menos do que a abertura de Straight Outta Compton. Fora isso, também não emplacou com os críticos, sendo aprovado apenas por 16% dos especialistas, o que deve garantir ao filme um lançamento direto no mercado de vídeo do Brasil.
Emoji: O Filme (8%) – US$25 milhões
Mostrando que a Hollywood atual funciona de reciclagens, todos querem garantir seu sucesso baseado em sucessos alheios. Ser original? Pra quê, se o que o público quer é repetição. Bem, nem sempre, ou ao menos que tenha o mínimo d qualidade. É o que prova esta animação. Uma Aventura LEGO (2014) foi um dos maiores sucessos do gênero em anos recentes, com 96% de aprovação dos críticos, quase US$70 milhões em sua estreia e US$470 milhões em caixa mundialmente. Quem diria que brinquedos de montar poderiam ser tão lucrativos e prestigiados no cinema. O que só mostra que uma boa ideia não tem limitações.
Mas ao contrário de uma boa ideia, uma cópia desta ideia pode ter seus percalços. LEGO mostrou que pecinhas de montar poderiam render uma boa animação. Desta forma, por que não adaptar para o cinema um aplicativo / jogo de celular, os infames Angry Birds. Bem, o resultado não foi o mesmo, já que não adianta ter só o mote sem um bom roteiro. Angry Birds obteve 44% de aprovação e uma bilheteria (boa) de US$350 milhões mundialmente – ficando abaixo de medalhões desgastados vide Kung Fu Panda 3 e A Era do Gelo 5. Mas nada prepararia pro desastre de Emoji: O filme. Sim, a grande ideia de fazer um filme dos rostinhos com emoções amarelos. Bem, ao menos tudo é amarelo, como LEGO, certo? Para a defesa da animação, eu, talvez o único ser humano vivo, não achei a pior coisa do mundo – leia a minha crítica. Emoji tem 8% de aprovação da imprensa e US$25 milhões em caixa na estreia.
A Torre Negra (16%) – US$19 milhões
Não é apenas um estúdio que fracassa, todos conhecem seus esqueletos no armário. Bem, talvez não a Disney. Seja como for, a Sony também possui sua cota de tiros no pé, e a mais nova é esta adaptação de uma cultuada série literária do mestre Stephen King. A trama de A Torre Negra é tão densa e complexa, se estendendo ao longo de diversos livros, que merecia um cuidado maior em sua adaptação. Não sei bem o que os envolvidos tinham na cabeça para confeccionar uma trama tão apressada e um filme que nem de perto faz jus a qualquer item contido no livro, em especial os personagens.
Aqui, no filme, a história é extremamente genérica, que apenas reproduz a batida “bem versus mal”, sem qualquer personalidade, surpresa ou inovação. Junte a isso a jornada do herói, levada à risca, sobre um menino que se descobre o escolhido e precisa combater o fim do mundo, não é brincadeira – mais clichê impossível. Nada se salva, tudo é altamente esquecível, e no meio disso, atores talentosos com Idris Elba e Matthew McConaughey descontam seus altos salários, mas perdem um pouco de suas almas. Para mais detalhes, leiam a minha crítica. A solução agora, se é que terá uma, é levar esta trama para as telinhas na forma de uma série de TV. A Torre Negra estreou nos EUA com US$19 milhões (ao menos em primeiro lugar, surrando O Sequestro, com Halle Berry – um filme pior, porém, mas divertido) e obteve apenas 16% de aprovação da imprensa.
Baywatch (19%) – US$19 milhões
Com o mesmo valor arrecadado na estreia, mas uma aprovação mais significativa da imprensa, com 3% a mais em relação à Torre Negra, Baywatch, adaptação de uma série de TV galhofa, tinha aspirações de ser o novo Anjos da Lei (2012). Infelizmente, os envolvidos esqueceram do principal e terminaram por inaugurar uma nova categoria no cinema: as comédias sem humor. Tudo é extremamente forçado, e o material não é digno dos atores, parecendo ter sido escrito por aquele adolescente espinhudo, que não pega ninguém, mas diz as maiores sacanagens para se auto afirmar.
Fora o humor escatológico sem graça, que insiste repetidas vezes em piadas que funcionaram (até criar uma exaustão) e também nas que não funcionaram, os personagens são mal resolvidos – funcionando em uma única nota – e a química entre eles é nula, em especial a dos protagonistas Dwayne Johnson (geralmente um poço de carisma, mas aqui claramente incomodado) e Zac Efron. Para não sermos totalmente injustos, existe sim uma boa química entre dois personagens pra lá de carismáticos no filme, que justamente roubam os holofotes e protagonizam os momentos que mais dão certo comicamente: Kelly Rohrbach (CJ Parker) e Jon Bass (Ronnie Greenbaum). Até mesmo as pontas de David Hasselhoff e Pamela Anderson o longa tratam de despir de humor. Leia mais na crítica do filme.
The House (17%) – US$9 milhões
Inédito no Brasil e com o destino certo de lançamento em vídeo, esta é a nova comédia dos humoristas Will Ferrell e Amy Poehler. É certo que o poder de Ferrell junto ao público não é mais o mesmo da década passada, na qual o comediante emplacava um sucesso atrás do outro. Mesmo assim, Ferrell ainda consegue tirar da cartola produções que caem no gosto do grande público, ao menos o suficiente para renderem uma sequência, vide Pai em Dose Dupla.
Aqui, a dupla Poehler e Ferrell, veteranos do humorístico Saturday Night Live – o programa de esquetes mais duradouro do mundo – interpretam um casal que está sem opções para conseguir dinheiro para a universidade cara da filha. No meio da crise e desesperados, os dois decidem transformar a casa em um cassino, tirando assim a paz da vizinhança. O filme marca a estreia na direção de Andrew Jay Cohen, roteirista de comédias de sucesso como Vizinhos (2014) e sua continuação (2016). The House guarda simplórios 17% de aprovação da imprensa, e juntou US$9 milhões em bilheteria através dos EUA em sua estreia.
O Que Será de Nozes 2 (11%) – US$8 milhões
Mostrando que não são apenas os filmes mirados aos jovens e adultos que sofrem com o desprezo do público e crítica, já temos duas animações no ranking dos maiores fracassos deste ano. A segunda é justamente esta continuação do longa de 2014, que igualmente não emplacou no gosto dos especialistas marcando exatos 11% de aprovação (reprisados aqui) e com bilheteria total de um pouco mais de US$64 milhões.
A continuação, que traz de volta as vozes originais de Will Arnett e Katherine Heigl, e adiciona Jackie Chan e Bobby Cannavale ao elenco de dubladores, conseguiu agradar mais críticos que Emoji, por exemplo. O motivo, no entanto, pode ter sido por um lançamento mais limitado para O Que Será de Nozes 2 e o fato de que provavelmente um número maior de jornalistas assistiu a Emoji, uma produção da Sony. O que reflete também a bilheteira mais inflada do filme das carinhas amarelas. Seja como for, Nozes 2 juntou US$8 milhões em sua estreia.
Diário de um Banana: Caindo na Estrada (20%) – US$7 milhões
Os filmes infantis não tiveram sorte neste verão norte-americano. Ou melhor, alguns não tiveram, e a maioria foi justificável. Esta é terceira continuação da franquia Diário de um Banana, iniciada em 2010, baseada nos livros de Jeff Kinney, e o primeiro filme a usar o garoto Jason Drucker como o protagonista Greg (substituindo Zachary Gordon dos três anteriores). Alicia Silverstone e Tom Everett Scott também são novidades, entrando no lugar de Rachael Harris e Steve Zahn como a mãe e o pai.
Desta vez, a franquia reformulada com novos rostos decide cair na estrada com a família, cinco anos depois da última aparição dos personagens na telona. Este, porém, foi o esforço menos satisfatório da série na opinião dos críticos, rendendo apenas 20% de aprovação, a média mais baixa de um filme da franquia. Fora isso, o fato de ter aberto sua carreira nos cinemas dos EUA com “apenas” US$7milhões faz do quarto Diário de um Banana o segundo maior fracasso do verão americano de 2017.
7 Desejos (18%) – US$5 milhões
Este era para ser somente mais um filme de terror, cujo objetivo era cair nas graças do grande público que lota as salas de multiplex prontos a consumir produtos do gênero. No entanto, esta mistura de Hellraiser (1987) e O Mestre dos Desejos (1997), que mostra uma jovem descobrindo uma caixa que lhe concede todo tipo de desejo, falhou ao atender os pedidos dos fãs de terror e dos críticos.
Veículo para a jovem Joey King (O Ataque), clone de Chloe Grace Moretz, 7 Desejos obteve uma das avaliações mais baixas do ano, com 18% de aprovação dos especialistas. Seja como for, junte a isso uma abertura de somente US$5 milhões e temos uma das obras de terror (gênero geralmente muito rentável, levando em conta seu baixo orçamento e apelo junto ao fiel público) mais mal sucedidas dos últimos tempos. Além disso, 7 Desejos leva o prêmio como o filme que mais naufragou neste verão norte-americano.