Geralmente meus palpites para os indicados ao Oscar saem com muito mais antecedência. Em anos recentes, consegui inclusive soltar uma matéria como esta faltando quatro meses para o anúncio dos indicados. Seja como for, tudo ainda não passa de especulação guiada pelo burburinho e o disse me disse de avaliações da imprensa especializada, e algumas premiações menores, que podem influenciar os membros votantes da Academia. A vantagem de uma previsão mais próxima ao anúncio – ainda faltando dois meses – é que erra-se menos.
Na nossa primeira parada, os convido para vislumbrar as atrizes que vem despertando falatório de possíveis indicações, enaltecidas pela crítica e fazendo florescer paixões por seus trabalhos em festivais. Nesta primeira olhada iremos considerar as possíveis indicações para Melhor Atriz. Vem com a gente e prepare seu caderninho.
A esta altura é certo apontar que a vitória está entre as mãos de duas atrizes (reparem que eu disse vitória e não indicação). Frances McDormand é a primeira e atualmente favorita por seu trabalho em Três Anúncios para um Crime, drama criminal cômico dirigido pelo britânico Martin McDonagh (Na Mira do Chefe), e vencedor do prêmio do público no Festival de Toronto deste ano. A Sra. Joel Coen interpreta uma mãe em busca de justiça pelo assassinato da filha, sacudindo as autoridades locais de uma cidadezinha americana. O filme guarda certas semelhanças com a obra que lhe rendeu sua estatueta, Fargo (1996), dirigido pelo maridão. Seguindo de muito perto temos a britânica Sally Hawkins, representada pela fantasia distorcida do mexicano Guillermo del Toro, A Forma da Água. No filme, Hawkins tem um incrível desempenho na pele de uma mulher muda e sonhadora, que vem sendo descrita como uma versão menos alegre de Amélie Poulain. O trabalho de Hawkins impressiona por ser todo realizado através de linguagens de sinais e expressões faciais e corporais.
Leia nossa crítica de ‘A Forma da Água’
Além das duas favoritas, outras atrizes já estavam praticamente cimentadas na categoria, isso antes de seus filmes sequer ficarem prontos. É o caso com a veterana Meryl Streep, recordista de indicações da Academia, ao ponto de se tornar ridículo. Realmente parece que todo e qualquer desempenho da atriz termina indicado. Aqui sua nova chance chega com The Post – A Guerra Secreta, filme do aclamado Steven Spielberg, sobre um grupo de jornalistas num caso verídico envolvendo um dos mais prestigiados veículos norte-americanos. Seria o Spotlight de 2017? Com o mesmo hype temos a jovem Emma Stone, vencedora do último prêmio por La La Land – Cantando Estações. Stone vive a tenista Bille Jean King em A Guerra dos Sexos, comédia dramática, mas de muito conteúdo, que fala sobre direitos igualitários para mulheres e feminismo, dos mesmos diretores de Pequena Miss Sunshine (2006).
Leia nossa crítica de ‘A Guerra dos Sexos’
Outras duas tidas como certas são a jovem Saoire Ronan e o furacão Kate Winslet. Ronan, de 23 anos, é uma das atrizes mais talentosas de sua geração, e tem duas indicações ao Oscar no currículo para provar. Dessa vez, ela vem arrancando elogios por onde passa com Lady Bird, drama independente sobre o amadurecimento de uma jovem mulher. O filme marca a estreia na direção da atriz Greta Gerwig. Já Winslet, propriamente referida como furacão, exatamente o que é no filme que pode lhe render nova indicação, Roda Gigante, de Woody Allen. A atriz é uma verdadeira força da natureza na pele de uma mulher presa a uma vida que não tolera mais, apesar de tê-la salvo no passado, vislumbrando nova chance de felicidade. O teor amargo do longa é o prato perfeito para a atriz realizar sua refeição.
Leia nossa crítica de ‘Roda Gigante’
Leia nossa crítica de ‘Lady Bird: É Hora de Voar’
A campanha por indicações é uma verdadeira corrida, praticamente esportiva. Então, é muito empolgante ver novidades se juntando ao páreo. Neste quesito duas novas concorrentes chegam por fora e já conquistam lugar cabeça a cabeça com as líderes. Que Jessica Chastain é uma das atrizes mais talentosas da atualidade ninguém duvida. E pensar que a ruiva chegou em nossos conscientes há menos de dez anos. Mas ainda lhe falta a vitória, e apesar das duas indicações, Chastain coleciona mais trabalhos que ficaram de fora, mesmo tendo qualificações suficiente para tal – quem viu Armas na Mesa sabe. Ela chega quebrando a banca, literalmente, com A Grande Jogada (Molly´s Game), estreia na direção do baita roteirista Aaron Sorkin (A Rede Social), na pele de Molly Bloom, bela contraventora conhecida como A Princesa do Poker. Por outro lado, a australiana Margot Robbie, apesar de ter chegado chutando a porta com O Lobo de Wall Street (2013), ficou mais estabelecida como eye candy, em especial por ter revirado a cultura pop do avesso na pela da Arlequina. Isso é, até a chegada de I, Tonya, filme no qual está à frente e é o centro, dominando com a segurança de uma veterana. Robbie é pura explosão aqui e se for indicada não será um disparate. Se vencer, melhor ainda.
Leia nossa crítica de ‘A Grande Jogada’
Leia nossa crítica de ‘I, Tonya’
Mais abaixo no páreo, mas não totalmente fora das possibilidades, temos um grande lote de atrizes. A veteraníssima Dama Judi Dench pode conquistar nova indicação com Victoria & Abdul, no qual interpreta novamente a Rainha Victoria da Inglaterra. Vale lembrar que seu último trabalho ao lado do diretor Stephen Frears – que também dirige aqui – Philomena, a rendeu sua última indicação. Outra veterana da lista, sempre preterida pela Academia – com quatro indicações e nenhuma vitória – Annette Bening vem despertando falatório com Film Stars Don´t Die in Liverpool, sobre o romance entre uma estrela veterana e um jovem ator.
Leia nossa crítica de ‘Victoria e Abdul’
Passando para jovens atrizes, a primeira parada é a estrela Jennifer Lawrence, que com mãe! entregou sua atuação mais ousada da carreira, num filme igualmente polêmico. Carey Mulligan, indicada ao Oscar por Educação (2009), é outra que pode estar no páreo por sua performance no drama racial de época Mudbound, que vem dando o que falar. O problema: é um lançamento da Netflix, ainda olhado com desprezo pelos membros votantes da Academia. Falando em atrizes preteridas, já passou da hora de Michelle Williams levar para casa uma estatueta do Oscar. A atriz possui quatro indicações sem vitória e este ano tem dois trabalhos, não lançados, que podem garantir-lhe nova lembrança entre os votantes. O primeiro é All the Money in the World, drama criminal de Ridley Scott, que pode ser ferido pela polêmica com Kevin Spacey (este é o filme do qual o ator precisou ser deletado). No longa, Williams interpreta uma mãe que tem seu filho sequestrado. Já em O Rei do Show, ela interpreta a esposa de P.T. Barnum (Hugh Jackman) notório showman do ramo de espetáculos circenses.
Menções Honrosas:
É raro uma atriz emplacar na categoria oriunda de um filme estrangeiro, não falado em inglês. Mas pode acontecer e já aconteceu algumas vezes em anos recentes, por exemplo, vide as duas indicações de Marion Cotillard (2008 e 2015), Emmanuelle Riva (2013) e, ano passado, a de Isabelle Huppert. Na categoria temos a alemã Diane Kruger, que venceu o prêmio de melhor atriz no prestigiado Festival de Cannes, pelo filme Em Pedaços, no qual interpreta uma mulher enfrentando a pior dor de todas, a perda do marido e filho. A chilena Daniela Vega, com seu segundo trabalho como atriz, no filme Uma Mulher Fantástica, igualmente recebeu inúmeros elogios e seria muito bom vê-la saindo com uma indicação para a disputa. Lembrando que seu filme é o selecionado do Chile por uma vaga na categoria de produção estrangeira. Assim como Em Pedaços, o da Alemanha. Ambos disputam espaço com nosso Bingo – O Rei das Manhãs.
Leia nossa crítica de ‘Em Pedaços’
Leia nossa crítica de ‘Bingo – O Rei das Manhãs’
A britânica Claire Foy (The Crown) foi eleita para viver a forte personagem feminina Lisbeth Salander, depois de Noomi Rapace e Rooney Mara, em A Garota na Teia de Aranha. E 2018 pode ser um grande ano para a atriz, se ainda lhe render uma indicação por Uma Razão Para Viver, biografia dramática, que marca a estreia do ator Andy Serkis na direção. Outro filme que tem tudo para arrebatar os votantes é Trama Fantasma, novo trabalho de Paul Thomas Anderson, que promete a aposentadoria do protagonista Daniel Day-Lewis. Apesar do show ser dos dois, a jovem belga Vicky Krieps anuncia uma atuação impactante, e dela, quem sabe, sair com uma indicação.
A Warner inscreveu seu sucesso Mulher Maravilha em diversas categorias, incluindo melhor atriz para a israelense Gal Gadot. Embora poucos acreditem na indicação da moça, quem sabe? Outra cuja indicação soa distante, mas não deixa de ser mencionada em certos círculos é Nicole Kidman por O Estranho que Nós Amamos, de Sofia Coppola. Finalizando a lista dos azarões, a mexicana Salma Hayek, considerada uma over actress por alguns (ou uma atriz exagerada), já tem sua indicação por Frida (2002), e foi elogiada pelo drama cômico Beatriz at Dinner. Embora muitos não gostem de indicações para crianças, a pequena Brooklynn Prince chamou atenção em The Florida Project e tem uma indicação de melhor revelação no Gotham Independent Awards. Fechando as principais possibilidades, Cynthia Nixon, mais conhecida como a Miranda Hobbes da série Sex and the City, lança sua candidatura na pele da poetiza Emily Dickinson em Além das Palavras.
Leia nossa crítica de ‘Mulher Maravilha’
Leia nossa crítica de ‘O Estranho que Nós Amamos’