sexta-feira , 10 janeiro , 2025
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Alice no País das Maravilhas

 

 


Subversivo diretor de histórias conhecidas (Planeta dos Macacos; A Fantástica Fábrica de Chocolate), Tim Burton traz às telas, desta vez, uma fusão dos livros de Lewis Carroll – “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “Através do Espelho e o Que Alice Encontrou Por Lá” – roteirizada por Linda Woolverton (O Rei Leão; A Bela e a Fera).

No filme, Alice retorna ao mundo subterrâneo que visitou há treze anos, quando ainda era uma criança. Lá, reencontrará personagens como o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), o Coelho Branco e a Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).

É sabido que Tim Burton não gosta de apenas refilmar histórias. Ele conta a sua versão. Geralmente, o resultado é uma versão mais “apimentada”, sombria. Neste caso, isso não acontece.

O novo “Alice…” continua com o aspecto macabro das histórias originais, seus personagens mantém a essência alucinógena de noção entre o que é realidade ou o que é imaginação, mas o dedo que imperou nesta produção foi o dedo Disney e não o dedo Burton, ou seja, o programa a ser encontrado nos cinemas será muito divertido, mas nada corajoso e com o máximo de lições de moral possível.

A versão em 3D continua com os problemas de sempre: a nitidez ainda não é a mesma que a de uma projeção digital, por exemplo, e o brilho ainda não atinge sua melhor regulagem, pois os óculos 3D tornam a imagem mais escura do que o normal. Mas nada que atrapalhe a sensação ótima de imersão que o formato proporciona, com planos excelentes de plateia da festa de noivado de Alice, destacando cada fileira de pessoas, num imenso corredor de gente cercado de plantas. A sequência em que Alice caiu no buraco da árvore para encontrar a portinha de entrada para Wonderland é vertiginosa e arrisco a advertir os espectadores de estômago mais frágil. Eis um dos poucos momentos em que percebe-se o mão criativa de Tim Burton.

Outra fato que sempre ocorre entre as parcerias Tim Burton X Johnny Depp é o destaque absoluto para o ator, que rouba a cena com talento que impressiona. Depp sai-se muito bem como o Chapeleiro Maluco – exceto por protagonizar uma cena de dança patética, de dar vergonha alheia –, mas finalmente chegou a vez de Helena Bonham Carter (esposa e atriz constante nos filme de Tim Burton) ter os olhos do público voltados para ela. Sua versão para cabeçuda Rainha Vermelha (ou Rainha de Copas) é a típica vilã empática: é sarcástica e engraçada, com a patetice e o deprimente jeito desconjuntado escondidos na perversidade de seus atos desesperados e sua histeria sem fim.

A qualidade da produção, os cenários computadorizados, os figurinos maravilhosos (reparem na quantidade de trocas de roupa de Alice) e o cuidado com os efeitos 3D ressaltam e fazem deste um programa bem divertido e que fará os adultos reviverem a imaginação – e o medo dos personagens – da época em que leram os livros de Lewis Carroll.

Só isso já vale o ingresso, mas só isso não fazem de Alice no País das Maravilhas um filme “maravilhoso”.

 


Crítica por:
Fred Burle (Fred Burle no Cinema)

 

 

Alice no País das Maravilhas

 

 
Tim Burton é um daqueles diretores com estilo próprio, que tem uma marca registrada em todas as sua produções. Dono de uma criatividade peculiar, ele é o responsável por algumas obras-primas do cinema, como Edward Mãos de Tesoura, Peixe Grande, Ed Wood e A Lenda do Cavalheiro sem Cabeça. Mesmo os fãs de Batman que torcem o nariz para o primeiro longa do homem morcego, dirigido por Burton em 1989, precisam admitir que o cineasta fez uma Gothan City impecável e transformou o Coringa de Jack Nicholson em pergonagem célebre.

Pouco baladado em premiações de cinema, Burton ganhou fama mundo afora por seu jeito colorido e folclórico de contar histórias, além de ter transformado o galã Johnny Depp no mais performático ator americano. A dupla volta às telas com um projeto ousado: levar Alice – a personagem imortalizada nos livros de Lewis Carroll – de volta ao País das Maravilhas 13 anos depois de sua primeira aventura por lá.

Fazendo boa bilheteria nos EUA e chegando ao Brasil no feriado de 21 de abril, Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland) é um dos filmes mais esperados do ano. Em versão 3D e com visual pop, o longa deve ser encarado como uma respeitosa homenagem ao clássico de Carrol, nada além disso.

A primeira hora do filme é chata pra caramba, daquelas chatices que fazem você bocejar e até dormir no cinema. Alice (a pálida e insossa Mia Wasikowska), agora uma jovem que vai ser pedida em casamento, não se lembra do País das Maravilhas, mas é visitada pelo coelho e acaba sendo levada para lá novamente.

Em Wonderland reencontra velhos amigos como o Chapeleiro Louco (Johnny Depp em atuação pouca expressiva) e descobre que a malvada Rainha Vermelha (a ótima Helena Bonhan-Carter) está dominando o lugar.

Visualmente o filme é bacana, com direção de arte e fotografia impecáveis. Aliás, a parte técnica é um luxo, dando ao longa um status de grande produção que fez valer cada centavo investido. Alice usa vestidos deslumbrantes, o que torna o figurino da personagem um dos mais originais já vistos no cinema.

O roteiro demora a engrenar, mas quando acontece não faz de Johnny Depp o protagonista, mantendo o foco em Mia, que mesmo não sendo lá essas coisas até fica bonitinha diante de tantos personagens feios. Mas o grande momento do longa é mesmo a Rainha de Helena Bonham-Carter. A ‘cabeçuda’ literalmente salva o filme, com as melhores cenas e diálogos excelentes.

O 3D dá uma noção de profundidade interessante em algumas cenas, mas não chega a ser fundamental como em Avatar. E, ao contrário do filme de James Cameron, Burton trabalha com o visual, mas sabe contar uma história.

Porém, é preciso admitir que o Tim Burton dos anos 1990 era bem mais legal que o dos anos 2000. Nesta década ele fez filmes como os remakes de Planeta dos Macacos e A Fantástica Fábrica de Chocolate, ambos sem brilho o suficiente para fazer parte da cinebiografia memorável do cineasta.

Se você não tem muita expectativa, Alice no País das Maravilhas vai divertir na medida certa. Para os que acham que este é o filme do ano, no entanto, a decepção pode ser enorme. De qualquer forma o filme cumpre o que Burton sempre faz em suas produções: é uma ode ao cinema esteticamente perfeito. Em outros tempos, em se tratando de Tim Burton, isso também significava um cinema inesquecível e encantador. Mas dessa vez ficou só na estética mesmo.

 

Crítica por: Janaina Pereira (Cinemmarte)

 

 

Alguém Tem Que Ceder

 

 

O estúdio de ‘Alguém Tem Que Ceder’, a Warner Bros, não botava muita fé no seu sucesso, já que é muito difícil uma comédia romântica com seus protagonistas quase na terceira idade agradar aos adolescentes, que é o público que vai mais ao cinema. Mas como, graças a Deus, na sétima arte a lógica não funciona ao pé da letra, o filme fez bastante sucesso.

A direção ficou por conta de Nancy Meyers que tem boa mão para comédias leves (O Pai da Noiva e Do que as Mulheres Gostam). A ela se somaram dois grandes atores que transitam muito bem entre comédia e drama, Jack Nicholson e Diane Keaton.

O roteiro é bastante simples mas por outro lado não é desagradável nem escatológico, não apela a coisas nojentas como quase todas as comédias que circulam por ai atualmente.

Nicholson faz um executivo do mundo da música que apesar dos seus mais de 60 anos nunca teve uma relação estável com nenhuma mulher, sendo um dos maiores mulherengos de todos os tempos. Ele está de namorico com uma jovem garota que poderia ser a neta, eles decidem passar o fim de semana na casa de praia da mãe dela, que é Diane Keaton. Já no primeiro dia ele tem um ataque cardíaco e Diane, mesmo a contra gosto, aceita que ele fique se recuperando em sua casa por algum tempo. Sim, internauta, vai pintar um clima, e as brigas do começo vão dando lugar ao romance, e é ai justamente que a fita perde um pouco da graça. A partir de meio mais ou menos torna-se um romance e há poucas piadas.

Keanu Reeves faz um papel que chama a atenção, está muito diferente do seu padrão de interpretativo, ou seja, cara de “nada”. Aqui ele está encantador e charmoso, realmente uma surpresa.

Alguém tem que Ceder vai agradar em cheio aos casais com mais de 35 anos de idade.


Crítica por:
Andrea Don

 

 

Água Negra

Os remakes orientais estão tomando conta de Hollywood. Após ‘O Chamado’, ‘O Grito’ e ‘The Eye – A Herança’, ‘Água Negra’ seria inevitável. Quando o filme original já é meio fraco, a refilmagem geralmente não consegue ser pior. Mas Walter Salles conseguiu segurar a barra e criou um filme bastante interessante.

O problema deste remake é que, enquanto os marketeiros tentavam vendê-lo como mais um horror assustador, o filme pendia para o lado ‘drama-horror-psicológico’, estilo de filme não tão comercial. Ou seja: ao assistirmos ao filme, por melhor que ele seja, nos sentimos enganados e lesados. Exemplo? É a mesma coisa que pedir ao garçom uma coca-cola e receber uma água (analise barata, mas ainda comparativa).

‘Água Negra’ é uma viajem ao submundo dos problemas familiares e psicológicos, esquecendo a tão falada garotinha que supostamente deveria assustar, mas apenas inferniza. E neste quesito ele se torna um ótimo e bem estruturado drama familiar, com direito à um suspense psicológico que incomoda, mas não assusta.

Jennifer Connelly tem uma ótima interpretação, assim como em ‘A Casa de Areia e Névoa’, ela consegue transmitir o que se passa apenas com os olhares. E isto é ser uma atriz de talento. E a novata Ariel Gade (que interpreta a filha de Connelly), promete ser uma das mais talentosas atrizes da nova geração. Salles também consegue levar uma direção interessante e bem feita, aproveitando um roteiro bem estruturado.

No filme, uma mulher recém-divorciada passando por uma penosa disputa pela custódia da filha acaba procurando um novo lar para viver. Para não ser encontrada pelo ex-marido, ela se esconde em um prédio antigo e passa a ser atormentada por outro problema: o fantasma de uma antiga moradora do lugar.

Um filme bastante complexo e interessante de se ver, mas lembre-se: leve em consideração que o filme não é um terror baratos com fantasmas voando, e sim um drama intenso com uma história fantasmagórica como plano de fundo.

 

Awake – A Vida por um Fio

 

 

Após alguns anos longe da tela, Hayden Christensen (Star Wars) volta às telonas neste drama mesclado com suspense, ao lado de Jessica Alba (Quarteto Fantástico).

No filme, Clay Beresford (Hayden Christensen) vive um garoto que tem quase tudo o que deseja; uma bela namorada, uma mãe dedicada e muito dinheiro. Porém vive um drama interno, precisa de um transplante de coração devido o seu ser fraco.

Quando encontra um doador que tenha o mesmo tipo raro de sangue que ele, pensa que sua vida finalmente será feliz por completo. Contra a vontade da mãe, ele resolve operar com um médico que é seu amigo e ainda casar com sua namorada (Jessica Alba) que sua mãe não aprova. Mas, ao entrar na mesa de cirurgia, mesmo anestesiado, ele fica acordado sem poder se mover, mas sentindo cada corte e ouvindo cada palavra.

Seu desespero só intensifica quando percebe que na verdade, sua cirurgia faz parte de um complô com algumas pessoas queridas que ele jamais imaginaria ser traído.

O elenco de apoio conta com o talentoso Terrence Howard (indicado ao Oscar por Ritmo de um Sonho), e com a experiente atriz Lena Olin (A Insustentável Leveza do Ser).

O filme é dirigido pelo estreante Joby Harold, que assina também o roteiro, e ao final do filme ficamos com a sensação de que merecia um desfecho mais empolgante, todavia se trata de um filme intrigante com cenas detalhadas da cirurgia feita no coração e com uma estória que não havia sido explorada por Hollywood, é indicada para uma típica sexta feira a dois à procura de emoção passageira no cinema.

 


Crítica por:
Janis Lyn Almeida Alencar
Site Oficial : —

 

 

500 Dias com Ela

 

Inbetween Days*

Sinopse: Depois do fim do confuso relacionamento com Summer, Tom está decidido a reconquistar a garota.

O filme 500 Dias com Ela ((500) Days of Summer) conta a história do começo e do fim de um relacionamento amoroso. Qualquer pessoa que já tenha presenciado esse tipo de acontecimento conseguirá perceber como as situações reais são retratadas na tela.

Um dos maiores méritos do roteiro está em conseguir fazer com que o próprio espectador também viva o “namoro” de Tom e Summer. Mesmo com a atuação sempre apática de Zooey Deschanel (Sim, Senhor), somos convidados a se apaixonar pela garota. Por outro lado, com o desenrolar dos acontecimentos, passamos a odiá-la com a mesma intensidade.

O enredo é narrado de forma não-linear, mas é facil situar cada cena dentro do todo com a ajuda de vinhetas animadas. No decorrer do filme, o número do dia em questão – são 500 no total, como diz o título – é apresentado tendo como fundo a pintura de uma árvore. A figura de fundo acompanha a trajetória do amor de Tom, ficando verdejante quando as coisas andam bem, e depois ressecando quando ele chega no fundo do poço.

Com essa estrutura diferenciada, criam-se espaços para liberdades criativas. Um exemplo são as digressões que o narrador faz para mostrar o passado e outras características dos personagens, como acontece em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001).

Entre as demais ousadias, há uma cena musical fantástica e algumas oportunidades em que um dos atores olha diretamente para a câmera, ou faz depoimentos típicos de documentários. Essas pequenas viagens em um filme que repensa um relacionamento amoroso que terminou remete a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Nas duas produções o sofrimento do homem que perdeu a mulher amada é o mote.

Logo no início de 500 Dias com Ela, Tom é descrito como um rapaz romântico por ter ouvido demais músicas inglesas deprimentes. Em seu quarto há referências às bandas Joy Division e The Smiths. Com isso, fica claro que a música também é um personagem do filme – com direito a cenas em karaokês. Quem tem esse mesmo gosto musical irá encontrar mais um motivo para ver esse longa imperdível.

Para ver o trailer, clique aqui.

* O título da canção do The Cure fala daquela fase em que o dono do coração partido não sabe muito bem se ama ou odeia o(a) ex.

 


Crítica por:
Edu Fernandes (HomemNerd)

 

 

400Contra1 – Uma História do Crime Organizado

 

Sinopse: Willian tem diversas passagens pela prisão, onde conhece os militantes contra a ditadura. Ele e seus colegas lutam por ter direitos iguais aos demais presos. Assim nasce o Comando Vermelho.

400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho é mais um filme nacional sobre a violência urbana. O pior é que qualquer pessoa que lê as páginas policiais dos jornais já se sabe o final antes de começar a sessão. O desafio é trazer frescor para uma produção que por si só não traz atrativos diferenciados.

A opção encontrada foi de contar a história de forma não-linear, de modo que o espectador construa a linha do tempo como um quebra-cabeça cronológico. Com isso, a sequência do assalto a banco que aconteceu em 1980 fica diluída no decorrer do filme e se perde a oportunidade de se realizar uma cena marcante.

Com tantas idas e vindas, o enredo fica muito confuso. A falta de preocupação por parte da maquiagem de envelhecer o aspecto dos atores só colabora para o caos. Passam-se 10 anos e alguns personagens não mudam sequer o penteado, especialmente a advogada interpretada por Bruna Messina (Olhos Azuis).

Daniel de Oliveira (Zuzu Angel) traz uma atuação muito irregular. Enquanto na tela ele realmente convence como o bandido William, a locução feita por ele está muito ruim. Em alguns momentos ele tenta entrar no personagem usando apenas a voz e parece estar brincando.

Muitos filmes nacionais preocupam-se em não vangloriar demais os bandidos-heróis. 400 Contra 1 não tem esse raciocínio, o que é deplorável. O filme acaba tornando-se uma peça publicitária do Comando Vermelho – algo nada desejável para o bem da sociedade.


Crítica por:
Edu Fernandes (CineDude)

 

 

400Contra1 – Uma História do Crime Organizado

 

Cidade de Deus significou um grande salto em qualidade e criatividade para o cinema brasileiro, mas deixou de herança um outro (ingrato) lado da moeda: influenciou incontáveis outros filmes nacionais que o sucederam, mas até agora, nenhum alcançou o seu nível de excelência.

O filme é uma livre adaptação do livro homônimo de William da Silva Lima, um dos idealizadores do Comando Vermelho. William contou de forma bem parcial e subjetiva, em seu livro, a história da citada organização, que nasceu da revolta dos presos comuns da ditadura, que passaram a ver na disciplina dos presos políticos uma forma de também se organizarem e confrontarem a militância, o que culminou em muitos conflitos e que tomou rumos diferentes do idealizado inicialmente, tornando-se o Comando, atualmente, uma das maiores facções criminosas do país.

Quem o interpreta William na ficção é Daniel de Oliveira, que realiza mais um bom trabalho, apesar de não ter conseguido desvencilhar-se totalmente do sotaque de mineiro. Com ele estão Daniela Escobar como seu explosivo caso amoroso; o excelente Fabrício Boliveira, na pele do preso Cavanha; e Branca Messina, o grande destaque do filme, como a advogada que pesquisava a visão que os presos tinham sobre a ditadura e que, posteriormente, tornaria-se cúmplice deles nas revoltas que se sucederiam.

Inicialmente, o longa desenvolve-se bem, com um apuro fotográfico impressionante, uma primorosa trilha sonora black e montagem adequada ao estilo setentista. Mas é esta mesma montagem a responsável, junto com a direção, por deixar o ritmo desandar, fornecendo poucas informações, o que facilmente desvia a atenção do público para outras coisas e dá a impressão de filme arrastado, no qual as peças demoram a se encaixar.

Toda a ação, sangue e tiros são deixados para o final e isso poderia ter sido melhor distribuído, como forma de prender a atenção em momentos de marasmo da história. E falta um grande momento de produção cinematográfica, que poderia ter vindo da sequência da rebelião, encolhida diante do potencial que possuia para épico.

O problema é que este gênero possui bons parâmetros comparativos e fica difícil não rebaixá-lo diante de obras grandiosas (em qualidade) como Tropa de Elite, Cidade de Deus e Hunger (ainda inédito no Brasil). No rastro do filme de Fernando Meireles, 400Contra1 – Uma História do Crime Organizado alcança seus méritos, mas não passa de mais um para a estatística dos que poderiam, mas não chegaram lá.

 


Crítica por:
Fred Burle (Fred Burle no Cinema)

 

 

360

 

Pessoas e seus problemas. “360” parte dessa questão existencial para contar uma história (baseada na obra de Arthur Schnitzler) com gente de todas as partes do mundo que traem, se apaixonam e buscam um novo rumo para a tristeza do presente, em suas vidas.
O novo trabalho do diretor brasileiro Fernando Meirelles é um drama composto por elementos que na somatória da equação não consegue pontuação nem para ir pra recuperação. É o típico ‘filme miojo’: enroladinho com tempero fabricado. Falta carisma aos personagens, o público tentará se conectar com algumas das histórias mas será uma tarefa complicada.

Na trama, conhecemos muitas pessoas, de muitos lugares do planeta, e suas histórias que em alguns casos, se cruzam. Histórias de muitos, sentimentos de todos. Assim poderíamos definir bem todo o caminho de um transferidor até a marca máxima, o limite de 360 graus.

É o empresário que está em crise no casamento, uma mulher elegante que trai o marido com um fotógrafo brasileiro, uma jovem que tenta a vida em caminhos que levam à prostituição, um homem apaixonado que enfrenta o desafio de amar uma mulher casada, uma brasileira recém traída que tenta voltar ao Brasil, um senhor que viaja para reconhecer (ou não) o corpo de sua filha desaparecida e acaba sendo tocado pelo jeito alegre de uma brasileira e um ex-presidiário que tenta a todo custo segurar seus desejos.

Americanizar sequencias que tinham outra naturalidade vira quase um objetivo, o que nos leva a uma história sem alma, com muitos idiomas e em muitas partes, forçadas. Mesmo com as presenças sempre interessantes de Rachel Weisz (que já trabalhara com Fernando Meirelles em outro filme), Ben Foster (que fez o ótimo “O Mensageiro”) e Anthony Hopkins, o filme não consegue subir todos os degraus que precisava para agradar os cinéfilos.

É disparado o pior trabalho de Meirelles no mundo do cinema. O paulistano que nos brindou com o maravilhoso “Cidade de Deus” e o interessante “Ensaio Sobre a Cegueira” não consegue repetir o bom trabalho que fizera nesses. A trama poderia ter sido melhor contada e apresentada ao público. O espectador é surpreendido por um vazio quando o filme acaba, fruto também do esquisito roteiro de Peter Morgan (lembrando que Peter tem grandes roteiros no currículo mas que nesse longa não consegue acertar).

Decepções à parte, sempre vale a pena conferir o filme e tirar suas próprias conclusões. A grande questão é que temos pouco tempo para entrar nas salas de cinema e dentre muitos filmes do circuito (que entrarão junto com ‘360’ na sexta-feira (17/08)) esse não é nem a terceira melhor escolha, talvez a quarta.


Crítica por:
Raphael Camacho (Blog)

 

 

300

 

Se pensarmos apenas do ponto de vista técnico, de efeitos visuais e do quanto o filme acrescenta com isso, temos uma das mais belas experiências dos últimos tempos. As cenas de lutas entre os exércitos Persa e de Esparta são de uma beleza louvável. Na maioria das vezes não parecem cenas gravadas com um fundo azul e depois inseridas digitalmente, mas sim que o diretor Zack Snyder (Madrugada dos Mortos) construiu um novo conflito entre esses povos. Cada lança, cada luta, cada sangue jorrado é de uma realidade impressionante.

Mas como cinema é uma experiência onde principalmente a narrativa deve ser levada em consideração, “300” acaba sua exibição devendo e muito para o espectador. A história do exército liderado por Leônidas contra a tentativa de dominação do rei Xerxes é um de uma superficialidade que beira a ingenuidade no momento de se construir um roteiro. Mais preocupado em estabelecer logo as cenas de conflito, as cenas em que são explicadas as motivações da invasão a Esparta e a formação do exército de 300 pessoas é extremamente corrida, como sendo apenas um fiapo para justificar todo o sangue que transborda na tela. Diálogos que desvalorizam o excelente original de Frank Miller e a utilização de uma trilha extremamente melodramática só contribuem para enfraquecer esta que poderia ser uma excelente aventura, um excelente entretenimento.

Com personagens sem profundidade, nunca nos fica claro a real intenção de Leônidas: queria ele salvar seu povo ou apenas se afirmar como um soberano? Da mesma forma, qual a motivação de tantos o seguirem, já que nada fica estabelecido durante a projeção? O único que consegue ter um mínimo de coesão é Xerxes (vivido por Rodrigo Santoro), que demonstra ser “apenas” um ser desalmado que quer o poder pelo poder, tendo como objetivo a dominação dos povos. Ao mesmo tempo, em um mar de personagens masculinos-machões (sem qualquer vestígio de sentimento ou qualquer outra característica que os torna humanos), Xerxes consegue ser um personagem acima, já que transita entre todas as formas não se apresentado como homem, mulher, nem sequer um ser humano. Xerxes é um Deus, que nem sequer deve ser considerado humano como nós.

Recheado de polêmicas e discussões sobre sua profundidade, “300” demonstra ser algo bem menor do burburinho que gerou. Embora tenha acertos, é um filme que realmente poderia ter ido muito além, já que para isso tinha uma boa história, um elenco competente e um bom diretor. Mas às vezes (como neste caso), a vontade de se fazer um filme para a massa faz minar todas as características que fazem de uma obra (quadrinhos, livros) algo realmente considerável e acima da média de outros do gênero, fazendo com que alguns saiam bem feitos como “Sin City”, e outros que ficam pelo meio do caminho, como “300” (apenas para ficar na comparação entre obras de Frank Miller). Como grande vilão do filme Rodrigo Santoro consegue ser o que há de melhor no longa (o que não é difícil, já que é um excelente ator), mas pode contribuir muito mais (e escolher projetos melhores) do que aconteceu com “300”. De positivo fica toda a exposição que nosso “ator para exportação” conseguiu para efetivamente participar de bons projetos pelo mundo afora.

 


Crítica por:
Rodrigo Soares