quarta-feira, maio 8, 2024

Primeiras Impressões | ‘The Last of Us’ já se consagra como uma das melhores séries do ano

Cuidado: possíveis spoilers à frente.

Em 2013, Neil Druckmann e a Naughty Dog lançavam um dos melhores games de todos os tempos – o primeiro capítulo de ‘The Last of Us’. A produção, ambientada em um planeta pós-apocalíptico, gira em torno de um fungo que destruiu a população mundial e que deixou poucos sobreviventes. Com vendas estelar e uma aclamação universal, a produção caiu no gosto popular, levando alguns fãs a se questionarem em que momento ela ganharia uma adaptação fílmica ou seriada. Dito e feito, a HBO adquiriu os direitos intelectuais do jogo e se aliou tanto a Druckmann quanto a Craig Mazin para trazer a icônica narrativa à vida.

Conhecendo o histórico de releituras da companhia, não tínhamos muito com o que nos preocuparmos. Afinal, podemos citar ‘Game of Thrones’ e a série pré-sequência ‘A Casa do Dragão’ como ótimas investidas da emissora, ou então a fantasia ‘Fronteiras do Universo’ e o drama super-heroico ‘Watchmen’ como títulos que encontraram sucesso imediato. O resultado, dessa forma, não poderia ser diferente: ao menos o episódio piloto da ambiciosa série é impecável em todos os sentidos, recuperando a essência do game e servindo como um tributo para qualquer pessoa que tenha se aventurado pela brilhante criação de Druckmann. Navegando entre a dor da perda, a barbárie humana e governos autoritários, o capítulo de estreia é absurdamente bem arquitetado, pincelado com referências fílmicas e guiado por um grandioso elenco.

Afastando-se dos comodismos que tanto vimos nos últimos tempos na televisão, ‘The Last of Us’ aposta em uma cronologia linear que se inicia ainda nos anos 1960, com um biólogo fazendo uma constatação um tanto quanto pessimista – que se, caso a temperatura planetária viesse a aumentar, estaríamos sujeitos a espécies de fungos que poderiam entrar no organismo e se reproduzir a ponto de nos controlarem e dominarem as nossas mentes, levando-nos a cometer atos terríveis apenas para ficar vivos. Quarenta anos mais tarde, o surto se inicia e a derradeira premonição se torna verdade, promovendo um pânico generalizado e uma desesperança que se apossa de cada dos um dos sobreviventes.

No centro de tudo, temos Joel (Pedro Pascal) que, pouco antes de tudo acontecer, vive com a filha, Sarah (Nico Parker), e mantém uma relação complexa com o irmão, Tommy (Gabriel Luna). Enquanto acreditam que as coisas seguem a normalidade, somos bombardeados com pequenos eventos aparentemente não relacionados – como as viaturas policiais, pessoas apavoradas e uma crescente tensão que não deixa de existir em qualquer momento. Nos primeiros vinte minutos, os eventos não tomam proporção drástica, levando o tempo necessário para se concretizarem – entretanto, mesmo aqueles que não jogaram os games conseguem prever o que acontecerá. E, quando o surto se inicia, o magnífico trabalho de direção transforma um escopo aberto em um angustiante barril de pólvora claustrofóbico prestes a explodir (com direito a um plano-sequência de tirar o fôlego).

Vinte anos mais tarde, Joel se vê confinado nas ruínas da cidade conhecida como Boston, encarcerado e vivendo sob um regime tirânico e militar que condena as pessoas a uma estrita lista de regras e uma ideologia punitivista que não dá segundas chances. Sozinho e transformando-se em um homem frio e calculista, ele se recusa a esquecer a morte da filha e se alia a Tess (Anna Torv) para conseguir o que precisa para sair dali, cruzar a zona de risco biológico e reencontrar o irmão. E Joel vê uma passagem cair em mãos quando a rebelde Marlene (Merle Dandridge) o encarrega de levar uma jovem garota chamada Ellie (Bella Ramsey em uma atuação incrível e instigante) para um local seguro, visto que, pelo que o episódio indica, ela é a chave para a cura.

Como já mencionado, o elenco protagonista e coadjuvante está impecável, mas é Pascal que nos arrebata com uma performance admirável e emocionante. Interpretando um homem assombrado por eventos passados e com um coração recheado de mágoa, Pascal encarna toda a complexidade da psique humana em apenas um episódio, desfrutando de uma química encantadora ao lado de cada um dos colegas, principalmente Ramsey e Parker. O astro rouba os holofotes das sequências em que aparece, transmutando-se como um camaleão e navegando pelo intrincado universo de Druckmann e Mazin. Não é surpresa que a série ajude a eternizar a carreira de Pascal como um dos atores mais versáteis da atualidade.

Os elementos estruturais também não deixam a desejar: a paleta de cores acompanha a tomada descomunal da natureza frente a pequenez do homem, pegando referências de clássicas produções de desastres que sempre nos chamaram a atenção; em contraposição ao mundo inóspito que rodeia o baluarte humano, temos tons neutros que refletem a descrença e a desilusão de um futuro – e a compreensão de que a liberdade é apenas uma utopia. É a partir desses conceitos imagéticos que temas como ambientalismo, luta de classes, traumas e recomeço erguem-se e expandem-se para incursões infinitas.

‘The Last of Us’ já se consagra como uma das melhores séries do ano – e como uma das melhores do catálogo da HBO. A verdade é que tanta espera valeu a pena e os fãs podem ficar tranquilos: a adaptação é exatamente o que queríamos e consegue inclusive superar as nossas expectativas.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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