sexta-feira, abril 26, 2024

‘Vice’ – Você sabe quem é Dick Cheney?

Com oito indicações ao Oscar 2019, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, ‘Vice’ estreia amanhã nos cinemas trazendo a biografia do político norte-americano Dick Cheney. Vocês sabem quem ele é? Bom, talvez devessem.

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Nascido em 30 de janeiro de 1941 no Nebraska, região central dos Estados Unidos, Richard Bruce Cheney é o típico norte-americano conservador, seguidor dos bons costumes, que quer ver “a América grande de novo”. Nessa época, porém, ele era apenas um beberrão, que falava besteira, enchia a cara e tinha empregos instáveis, o que levou sua namorada na época, Lynne, ameaçar deixá-lo se ele não tomasse rumo na vida. A partir daí, Richard, mais conhecido como Dick, se formou em Ciência Política e, com isso, ganhou um estágio com o deputado William A. Steiger, com quem mais tarde foi trabalhar na Casa Branca, durante os governos dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford.

É nesse período que ele conhece o então deputado federal Donald Rumsfeld, que o ensina sobre as artes da dissimulação e da manipulação política que ocorria na Casa Branca. Tem-se aí o início de uma parceria sólida que duraria décadas, com Rumsfeld sempre puxando o estagiário Dick para cima, até por fim ser superado por este e ser “convidado” pelo presidente Nixon a aceitar o cargo de representante dos Estados Unidos na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Bruxelas, Bélgica. Percebam que esta é uma aliança militar criada entre os EUA, a Alemanha, a França e a Inglaterra em 1949 para conter um suposto avanço da União Soviética no mundo. Rumsfeld fica no cargo de 1969 a 1974, quando é chamado de volta à Casa Branca pelo próprio Dick Cheney.

Conservadores ao extremo, Dick Cheney e Donald Rumsfeld voltam a trabalhar juntos na Casa Branca, e Rumsfeld é nomeado Secretário de Defesa dos Estados Unidos pelo então presidente Ford. Este cargo, a bem da verdade, funciona como um gerente de guerras, participando do Gabinete e do Conselho de Segurança Nacional. É o indivíduo encarregado das forças militares do país e da defesa interna e externa dos EUA. Em outras palavras – como a própria História comprova – é o cara que fica procurando onde pode inventar uma nova guerra para trazer benefícios ao seu país.

Os dois fazem uma campanha fervorosa pela reeleição do presidente Ford, porém, perdem para Jimmy Carter. Desempregados, cada um volta à sua vidinha comum, e Rumsfeld vai trabalhar na G. D. Searle & Company, pela qual consegue a legalização do aspartame no país.

Em 1989, Dick Cheney aceita o cargo de Secretário de Defesa da gestão de George H. W. Bush pai, onde fica até 1993, sendo responsável, por exemplo, pela Guerra do Golfo, na qual os EUA montou uma coalizão junto com o Reino Unido e, patrocinado pela ONU, interviu na “ameaça” iraquiana de Saddam Hussein, que invadira o Kuwait. Esta guerra foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU através da Resolução 678, e foi a primeira tentativa aberta dos EUA de entrar em conflito direto com o Iraque. Dick Cheney, também conhecido como gerente das guerras por possuir o cargo de Secretário de Defesa, vê aí uma oportunidade de se apossar do petróleo iraquiano, e a desculpa da libertação humanitária do Kuwait veio muito bem a calhar. Essa guerra também ficou conhecida internamente como Operação Desert Storm. Guardem esse nome.

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Após a vitória do democrata Bill Clinton nas eleições de 1993, Dick Cheney, ainda bastante estimulado pela Guerra do Golfo e as questões do petróleo, aceita o cargo de presidente e CEO da Halliburton, onde fica de 1995 a 2000. Esse período no comando do ouro negro terá grande influência na sua trajetória por vir, pois é justamente na virada do milênio que George Bush pai o procura pela primeira vez para que aceite ser vice na campanha de seu filho. Depois de muito charminho extremamente calculado, visando fazer com que o então candidato republicano fizesse suas vontades, Cheney acaba aceitando e, juntos, a chapa Bush Filho-Cheney ganha as eleições em 2001, após a renúncia de Bill Clinton por causa das acusações de abuso sexual contra sua ex-estagiária, Monica Lewinsky.

De volta à Casa Branca, Dick Cheney articula o Gabinete de Governo de Bush Filho de modo que houvesse um representante aliado em cada um dos grandes poderes norte-americanos, visando garantir a defesa de seus interesses: Pentágono, Câmara, Casa Branca, etc.. Entretanto, mal começou a tomar gosto pela coisa e os Estados Unidos sofreram um atentado que mudaria a história mundial: os ataques às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Uma vez que George Bush estava já em segurança no Air Force 1 (o avião oficial presidencial), coube à Dick Cheney tomar as decisões no momento dos ataques. Fechados em uma sala de reuniões, foi ele – com aval do presidente, que havia lhe dado carta branca muito antes – que decidiu que os EUA entrariam em guerra para não deixar os atentados passarem em branco. Sob seu comando, descobriu-se a identidade e o paradeiro de Osama Bin Laden, após a invasão ao Afeganistão, e, depois de subjugar o inimigo público No.1 do mundo, os Estados Unidos invadiram o Iraque, sob o pretexto de que aquele país possuía armas com potencial de destruição em massa.

Durante todo esse tempo, George Bush filho foi apenas o rosto odiado, mas o mandante dos crimes era, de fato, seu vice.

O que sabemos hoje, anos depois, é que o Iraque nunca possuiu essas armas; que o Osama Bin Laden pode ter sido o mandante dos atentados às Torres Gêmeas, mas sua morte não solucionou a questão; e que as duas guerras com o Iraque, nos anos 1990 e 2000, favoreceram a revolta dos extremistas islâmicos e o levante do que hoje conhecemos como Estado Islâmico – o grupo/seita de seguidores islâmicos que planejam atentados com homens-bomba ao redor do mundo.

Vale ressaltar também que o governo norte-americano, em 1991, pagou à Halliburton o equivalente a U$8,5 milhões de dólares para estudar o uso de forças militares privadas conjuntamente com os militares norte-americanos nas áreas de conflito. Quando saiu da presidência da empresa, Dick Cheney recebeu um pacote de benefícios no valor de U$36 milhões de dólares e, enquanto era vice-presidente dos EUA, recebeu da empresa uma soma maior que U$398 milhões de dólares. Quando a guerra foi anunciada, a Halliburton ganhou um contrato com o governo no valor de U$7 bilhões de dólares, cujo contrato foi cuidado em todos os aspectos por Donald Rumsfeld. Tirem suas conclusões.

Após o fim do governo de George W. Bush, em 2009, Barack Obama entrou na presidência, e como primeiro decreto decidiu retirar as tropas norte-americanas do Iraque. Essa decisão lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz naquele ano, ainda que, mesmo após receber o prêmio, as tropas ainda se mantivessem no Golfo Pérsico.

Como vemos, mesmo sendo um sujeito de bastidores, Dick Cheney é um cara que sempre articulou ardilosamente por trás das cortinas, e todas as suas ações levaram à conquista de seus propósitos ambiciosos: o poder, o controle dos EUA e a subjugação daqueles considerados inimigos. Suas escolhas levaram ao estado de guerra constante que vivemos hoje, à discriminação dos muçulmanos e à morte de milhares de inocentes que nunca tiveram nada a ver com a guerra pelo petróleo.

Dick Cheney ainda está vivo e sua história chega amanhã nos cinemas, no filme ‘Vice’. Christian Bale interpreta o político e, vejam só, os dois fazem aniversário no mesmo dia: hoje, 30 de janeiro.

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