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Elysium (3)

TÃO COMPLEXO QUANTO UMA NOVELA DAS 8

 

Ficção científica é poderosa quando concilia fantasia com crítica da realidade. Mas, não está imune às trivialidades. Pela proposta, “Elysium” era uma das grandes promessas da temporada. E havia a expectativa por seu diretor e roteirista, Neil Blomkamp, do ótimo “Distrito 9”.

No ano de 2154, a Terra devastada tornou-se uma grande favela, na qual vive a maioria miserável da população. Os mais ricos habitam a estação espacial Elysium (referência aos Campos Elísios da mitologia greco-romana), desfrutando das benesses da tecnologia, como máquinas que curam qualquer doença. Max (Matt Damon), ex-presidiário, trabalha em uma das fábricas androides. Depois de um acidente no trabalho, ele precisa ir à Elysium para se curar, ou morrerá em 5 dias. Também quer ajudar a filha de Frey (Alice Braga), sua amiga de infância. Em troca de um serviço de risco, Max receberá a ajuda de Spider (Wagner Moura) para chegar à estação espacial.

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O filme tem poucas qualidades e muitos problemas de concepção de roteiro. Entre as qualidades está o uso dos efeitos especial – o mínimo para um orçamento de 115 milhões de dólares. A concepção de Elysium impressiona e remete à estação de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Apesar de irregular, há boas sequencias de ação, especial na parte final. A direção não teme a violência, chegando ao gore. Considerando que as produções atuais não mostram o sangue, há méritos na escolha de Blomkamp – não se trata de sadismo do crítico, apenas é algo que transmite mais humanidade para a ação, algo perseguido pela direção.

Das atuações, três valem destaque. Sharlto Copley, protagonista de “Distrito 9”, faz o mercenário Kruger, em uma atuação forte. O brazuca Wagner Moura está muito bem como Spider, um coiote que faz o transporte clandestino da terra para Elysium, mas nada que se compare com outros papéis. Alice Braga tem atuação regular, mas isso decorre mais de sua personagem do que de seu talento – muito superior. E aqui começam os problemas…

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As personagens são tão planos quanto as de uma novela da Glória Peres. Não há profundidade. Temos tipos. Só faltavam os atores segurarem plaquinhas indicando suas funções. Spider é o mercenário com consciência social. Frey é a médica sofrida que deseja curar sua filha. Max é um miserável que deseja sair da miséria. Delacourt (Jodie Foster) é a política gélida e desalmada e John Carlyle (William Fichtner) o porco capitalista. Apenas o mercenário Kruger tem mais densidade. Esses estereótipos só não implodem o filme por causa da qualidade do elenco.

Tanta uniformidade serve para a criação de uma narrativa esquemática e obvia, previsível para alguém que tenha assistido meia dúzia de filmes de ação ou ficção. O trailer já permite imaginar seu desenvolvimento. O roteiro abre licenças na própria mitologia e aceita furos para facilitar o quesito evolução. A mais gritante é a facilidade com que a nave de Wagner Moura chega à Elysium. E se o filme tem a qualidade de ser enxuto, também pode soar monótono, exceto pela parte final. E aqui uso o critério da plateia: na minha sessão, não notei grande empolgação.

Em entrevista, o diretor-roteirista declarou: “Todo mundo que não tem essa riqueza a quer e vai tentar tê-la, e o Primeiro Mundo provavelmente irá tentar se aferrar e ela, e a coisa vai ficar mais sombria”, e continuou: “O que você, como membro da plateia, acha que deve ser feito?” Bom, já que ele perguntou…

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Discordo da simplicidade da visão política do filme. Ele aponta três grandes problemas: desigualdades socioeconômicas, imigração e problemas ambientais. Ufa! Enfrentar tudo isso com personagens tão planos… coragem! Os culpados são os de sempre: os países ricos, as limitações à imigração, as elites, a maneira predatória com que o mundo gira e o capitalismo de maneira geral. Há uma emulação do discurso a la Occupy Wall Street. Max é um decalque dos 99% da população mundial. Em Elysium, habitam o 1%, a classe dominante que, na busca do lucro, fodeu com o meio-ambiente. A solução é implodir o sistema e criar o mundo perfeito. Sem ironias, se você concorda com algum desses elementos, é provável que o filme lhe agrade.

No fundo, a crítica é generalista, quase infantil. Isto já começa com a dificuldade de traçar o conceito da estação Elysium. Seria outro país ou um bairro nobre? Temos uma única sociedade ou várias? Normalmente, essa ambiguidade bem-vinda. Aqui, torna-se um incômodo. A crítica mais parece um grito de “contra tudo que aí está”. Será que Blomkamp estaria querendo surfar na onda de protestos?

Como falamos de um blockbuseter, não ia comentar a filosofia do filme. Mas, como quase inexistem críticas que toquem no tema – a maioria solta elogios genéricos – e uma das funções da crítica é gerar debates, vale colocar alguns contrapontos.

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Se o alvo é o capitalismo, a economia de marcado, “rádio blá”, sinceramente… Nenhum outro sistema econômico foi tão eficiente. Criou problemas? Sim, mas resolveu muitos outros. Além do mais, não foi criado em laboratório, nasceu da dinâmica social. Realmente não acredito que Blomkamp tenha sido tão estreito em sua crítica.

Como falamos, “Elysium” tem vários alvos. Em homenagem a Wagner Moura, chamemos esse problema de “sistema”. Mais uma simplificação grosseira: derrubando tudo, o bem venceria. Em outras palavras: se o sistema fosse derrubado, as bênçãos dos céus criariam um paraíso terrestre (ao menos na área de saúde…).

Segue-se a ideia de que o homem é bom e a sociedade o corrompe. Não compro essa tese. Os arranjos sociais são imperfeitos e problemáticos porque somos pessoas defeituosas, egoístas, mesquinhas, baixas, pecadoras. O bem e o mal convivem em cada um de nós. Como podemos construir o paraíso se o inferno está em nós? A sociedade é uma construção imperfeita operada por pessoas guiadas por medos e paixões. É como pensar que nossos problemas se resolveriam acabando com Brasília! Desculpa, mas enquanto não abandonarmos a máxima “farinha pouca meu pirão primeiro”, não sairemos do atoleiro.

Os arranjos humanos mais eficientes foram aqueles que buscaram minimizar os males dos nossos defeitos, não os que queriam criar uma sociedade perfeita. Não temos o direito à perfeição, apenas de escolhermos o menos pior, mas, distraídos venceremos! O que “Elysium” faz é expor uma visão utópico. E a dificuldade de criar utopias nas artes é não ultrapassar a fronteira sutil entre o profundo e edificante e a visão infantil e brega da vida.

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Não quero bancar o dono da verdade. Estamos sempre correndo o risco da contradição. Como disse, faço apenas um contraponto, entre outras razões, pelo histórico do diretor. Blomkamp criou uma alegoria poderosa em “Distrito 9”. Mesmo explicito em sua metáfora, o filme desenhou a complexidade do apartheid, de como as pessoas podem ser baixas, de como a ganância de empresas pode não ter limites e como governos podem, sim, servir aos privilegiados. Ao mesmo tempo, não deixou de expor que temos a capacidade de nos humanizarmos. Nessa comparação, “Elysium” é decepcionante, com profundidade de “Salve Jorge”. Mas, ainda aposto no diretor.

R.E.D. – Aposentados e Perigosos

(RED)

 

Elenco: Bruce Willis, Helen Mirren, Brian Cox, Morgan Freeman, John Malkovich, Karl Urban, Richard Dreyfuss, Mary-Louise Parker e Ernest Borgnine.

Direção: Robert Schwentke

Gênero: Ação

Duração: 90 min.

Distribuidora: Paris Filmes

Estreia: 12 de Novembro de 2010

Sinopse: Em ‘RED – Aposentados e Perigosos‘, Frank (Willis), Joe (Freeman), Marvin (Malkovich) e Victoria (Mirren) costumavam ser os maiores agentes da CIA – mas os segredos que eles guardam apenas serviu para torná-los os maiores alvos da agência. Agora, acusados de assassinato, eles devem usar toda a sua experiente astúcia e o trabalho de equipe para manterem-se vivos e um passo à frente de uma nova geração de agentes treinados.

Para interromper a operação da agência de inteligência, a aposentada equipe embarca em uma missão impossível para invadir a sede da CIA, onde descobrirão uma das maiores conspirações e encobrimentos da história do governo.

Curiosidades:
» Baseado na cultuada Graphic Novel da DC Comics, RED – Aposentados e Perigosos, de Warren Ellis e Cully Hamner.

Trailer:

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Cartazes:

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Fotos:

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As Bem Armadas

 MISS ANTIPATIA

As Bem Armadas é a comédia de maior sucesso de 2013 nos Estados Unidos. Arrecadando quase $160 milhões, somente por lá, o filme traz a parceria entre Sandra Bullock (Tão Forte e Tão Perto) e a comediante número 1 da América do Norte na atualidade, Melissa McCarthy (Uma Ladra Sem Limites). No filme, Bullock vive Sarah Ashburn, uma agente do FBI certinha. McCarthy é Shannon Mullins, detetive da polícia, desleixada, grosseira e com uma lixeira no lugar da boca.

As duas são o contraponto perfeito. Então por que não juntá-las num filme? As Bem Armadas é mais um buddy cop movie que chega em 2013. Aqui, as parcerias calham de serem mulheres. A trama principal realmente não importa, e o filme não se dá muito ao trabalho de desenvolver bons vilões. Tudo porque o que conta é a química entre as protagonistas, esse é um filme sobre elas, e os envolvidos realmente não desejam tirar o foco disso.

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O surpreendente é que a coisa funciona. É claro que esse é um filme rotineiro e formulaico, que passa por todos os clichês do gênero, sendo o central o das parceiras que se odeiam para ao final se considerarem irmãs. Essa é uma produção regida pela fórmula, mas que encontra nas suas entrelinhas a salvação. Diferente de A Família, outra comédia formulaica que estreia amanhã, esse filme se esforça em criar situações inusitadas e cenas estranhas e bizarras, que conseguem chamar a atenção.

Em uma determinada cena, Bullock e McCarthy precisam colocar uma escuta no celular de um criminoso, dentro de uma boate. A cena é bem orquestrada, e após a transformação de Bullock (mostrando que está em excelente forma no auge de seus 49 anos), a loucura se instala com as duas na pista de dança ao lado de diversos figurantes, fazendo uso de gestos cronometrados e movimentos ensaiados. A cena é rápida, mas digna dos melhores pastelões.

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Os diálogos também são bons. Escrito pela jovem Katie Dippold (que já tem encomendada a continuação anunciada do filme), o roteiro é rápido e dinâmico. Mesmo sem acertar em todas as tentativas, ele é esperto o suficiente para continuar seguindo em frente, e realizando novas tentativas. O texto joga tudo o que pode na tela, para ver o que consegue acertar. Os melhores momentos, no entanto, fazem parte do aparente improviso de McCarthy.

Esse é o melhor trabalho, e filme, da comediante Melissa McCarthy, o que inclui Missão Madrinha de Casamento, do mesmo Paul Feig, que a descobriu no superestimado filme citado. Feig se tornou um especialista em comédias escrachadas com mulheres. Seus filmes mostram que o sexo feminino pode ser tão sujo e incorreto quanto o masculino. Embora nenhum dos dois filmes sejam obras-primas, o esforço de Feig é louvável em oferecer personagens substanciais, e desde já icônicos, a suas atrizes.

A Família

OS ADDAMS DA MÁFIA

Conhece a expressão “filme de uma piada só”. Pois A Família, nova produção estrelada pelos veteranos Robert De Niro (O Casamento do Ano) e Michelle Pfeiffer (Bem Vindo à Vida), se encaixa justamente no quesito. Não que isso seja uma coisa ruim, e na maioria das vezes se refere à estrutura e tema de certos filmes. Essa é a fórmula do peixe fora d´água, usada repetidamente no cinema, e imortalizada em muitas franquias de sucesso como A Família Addams e A Família Buscapé – para ficar dentro da temática de famílias.

A Família é exatamente assim. Troque apenas o clima macabro de terror dos Addams, e a inocência campestre e sem sofisticação dos Clampett, por tudo relacionado a crimes e violência implícita na máfia. Na trama, a família Manzoni é relocada por agentes federais, como parte do programa de proteção às testemunhas, depois que o patriarca Giovanni delatou um poderoso chefão. Correndo risco de vida, a família adere ao programa, artifício muito usado nos Estados Unidos, e assim passam a viver sob nova identidade.

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O problema é que essa família estava mais do que acostumada a seu estilo de vida, e constantemente não conseguem se adaptar às novas comunidades, precisando ser novamente relocada. Sua última parada é na Normandia, França, local no qual encontramos a família durante o filme, sob a alcunha de Blake. Assim como os filmes citados, todo tipo de comportamento inadequado é cometido pela família, é claro sempre utilizando a temática da obra. Daí o termo “filme de uma piada só”.

A mãe (Pfeiffer) taca fogo num mercado porque os funcionários criticam os americanos, o pai dá sumiço em um encanador que queria extorqui-lo, a filha (Dianna Agron, da série Glee) espanca um sujeito abusivo a raquetadas, e o filho (John D´Leo, Viajar é Preciso) realiza um verdadeiro esquema em seu colégio, e por aí vai. A questão é que dentro de sua fórmula, o filme se sai relativamente bem, e consegue se tornar um passatempo que não dará dor de cabeça ao público.

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Baseado no livro de Tonino Benacquista, A Família é dirigido por Luc Besson, cineasta francês de renome, responsável por filmes como Nikita – Criada para Matar, O Profissional e O Quinto Elemento. Besson andava meio sumido dos holofotes, e essa produção marca sua volta aos filmes chamativos, depois de 14 anos (desde quando escorregou com Joana d´Arc). Anteriormente intitulado como Malavita, o filme apresenta um conceito e ideias mais interessantes do que sua realização de fato.

Por exemplo, ao pensarmos em filmes sobre mafiosos, pensamos automaticamente em De Niro. O ator já participou de tantos projetos sobre o tema, que tê-lo num filme assim já é clichê. De Niro já fez até comédias sobre o assunto. Com Michelle Pfeiffer ocorre o mesmo, já que a atriz esteve em produções como Scarface e De Caso com a Máfia. Juntá-los em um filme assim é natural, e se torna uma grande homenagem. Além de ser o primeiro trabalho juntos desses icônicos atores americanos.

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O tom de A Família é ácido, e na maioria de suas cenas faz uso de um humor negro. Tragédias criadas para arrancar risadas. Esse é um filme que deve ser recomendado apenas como passatempo despretensioso, já que seu conceito (que pode ser visto nos trailers e sinopses) não causará surpresa alguma. O longa é exatamente o que você espera dele, e um filme morno pode ser muito pior do que uma obra realmente detestável ou um prazer culposo, para muita gente.

A certa altura temos De Niro querendo se enturmar num clube de filmes. E adivinhe qual é o filme ao qual irão assistir. Não, não é esse, mas é aquele outro. Até isso se torna uma cena óbvia demais, e nada realmente é tentado com ela, a não ser o reconhecimento de algo familiar. “Sim, eu lembro que ele esteve nesse filme, e agora ele está assistindo ao filme, dentro de outro filme. Não é engraçado?” Ah sim, ainda temos Tommy Lee Jones (Lincoln), ou será que temos.

Blue Jasmine

(Blue Jasmine)

 

Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Alden Ehrenreich, Peter Sarsgaard, Michael Stuhlbarg, Bobby Cannavale, Louis C.K., Sally Hawkins, Max Casella, Charlie Tahan, Andrew Dice Clay.

Direção: Woody Allen

Gênero: Drama

Duração: 98 min.

Distribuidora: Imagem Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 15 de Novembro de 2013

Sinopse:

Depois de tudo na sua vida se ter desmoronado, incluindo o casamento com Hal, um rico homem de negócios, a elegante Jasmine, uma mulher habituada à vida social de Nova Iorque, muda-se para o modesto apartamento da irmã Ginger, em São Francisco, para se tentar recompor de novo. Jasmine chega a São Francisco num estado mental frágil, a sua cabeça num rolo, devido ao cocktail de anti-depressivos que anda a tomar. Apesar de ainda conseguir projectar a sua postura aristocrática, Jasmine está mentalmente débil e falta-lhe qualquer capacidade prática de cuidar de si própria. E desaprova o namorado da irmã, Chili, que considera um falhado, como o ex-marido dela, Augie. Ginger, reconhecendo mas não compreendendo totalmente a instabilidade psicológica da irmã, sugere-lhe que trabalhe em design de interiores, uma carreira que correctamente intui que Jasmine não considere indigna do seu estatuto. Entretanto, Jasmine aceita com relutância um emprego como recepcionista num dentista, onde sem o desejar atrai as atenções do patrão, o Dr. Flicker. Sentindo que a irmã pode ter razão em relação ao seu terrível gosto em relação aos homens, Ginger começa a sair com Al, um engenheiro de som que considera um degrau acima de Chili. E Jasmine vislumbra uma potencial hipótese de vida quando conhece Dwight, um diplomata que é imediatamente seduzido pela sua beleza, sofisticação e estilo. O problema de Jasmine é que funciona em função da maneira como é vista pelos outros, enquanto que ela própria está cega em relação ao que se passa à sua volta. Delicadamente interpretada por uma muito real Cate Blanchett, Jasmine conquista a nossa compaixão porque se torna um inconsciente instrumento da sua própria queda.

 

Curiosidades:
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Trailer:

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Fotos:

O Tempo e o Vento

(O Tempo e o Vento)

 

Elenco:

Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda, Cleo Pires, Marjorie Estiano, Paulo Goulart, José de Abreu, Suzana Pires.

Direção: Jayme Monjardim

Gênero: Drama

Duração: 127 min.

Distribuidora: Downtown Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 20 de Setembro de 2013

Sinopse:

O filme conta a história da família Terra Cambará e de sua principal opositora, a família Amaral, durante 150 anos, começando nas Missões até o final do século XIX. Sob o ponto de vista da luta entre essas duas famílias, são retratadas a formação do Rio Grande do Sul, a povoação do território brasileiro e a demarcação de suas fronteiras, forjada a ferro e espada pelas lutas entre as coroas portuguesa e espanhola.

Além de ser uma notável história épica, plena de heróis como Capitão Rodrigo e o índio castelhano Pedro Missioneiro, O Tempo e o Vento é uma profunda discussão sobre o significado da existência, da resistência humana diante das guerras. Por isso, para a adaptação cinematográfica, tomamos como estrutura o olhar feminino da quase centenária Bibiana Terra Cambará. Em meio ao cerco do casarão
de sua família pelos Amarais, ela se valerá de sua memória, sempre deflagrada em noites de vento, para lembrar e contar sua história e as de seus antepassados. E, assim, resistir ao tempo e protestar contra a morte.

Curiosidades:

» O Tempo e o Vento é baseado na maior obra do escritor Erico Verissimo, ‘O Continente’.

Trailer:

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Cartazes:

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Fotos

Elysium (2)

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

O aguardado Elysium finalmente chega aos cinemas brasileiros. O filme marca a segunda produção dirigida pelo sul-africano Neill Blomkamp, que tomou o mundo do cinema de assalto em 2009 com seu primeiro longa, Distrito 9, produzido por Peter Jackson. A obra conquistou crítica e público, se tornando um dos filmes mais populares da última década, e inclusive recebeu uma indicação ao Oscar de melhor filme, feito raro para uma ficção científica.

Por todos esses fatores a expectativa não poderia ser maior para o próximo projeto do cineasta. E ela aumentava a cada nova revelação, fossem os atores elencados ou as imagens divulgadas. Escrito pelo próprio Blomkamp, o novo filme segue os padrões de seu projeto anterior: é uma ficção científica muito relacionável com a realidade em que vivemos hoje, um filme cru e sujo, e que acima de tudo serve como grande crítica social e política.

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No futuro, os humanos esgotaram os recursos naturais da Terra, transformando-a num imenso lixão. Aqui, numa realidade apocalíptica as pessoas vivem sem qualidade alguma e a vida não vale quase nada. Os ricos, que somam apenas 1% da população do planeta, vivem em Elsysium, uma estação espacial que circunda a Terra, e lá usufruem de uma utopia artificial. Em Elysium nenhuma doença é incurável, inclusive. O local é regido com mão de ferro pela secretária Delacourt, a ambiciosa personagem da Oscarizada Jodie Foster.

O astro Matt Damon é o protagonista Max, um sujeito que desde a infância sonha em poder ir para o paraíso nas estrelas, mas precisa se conformar com sua triste realidade. Após um acidente fatal, seus dias estão contatos, e sua única salvação é chegar ilegalmente à estação espacial atrás da cura. O filme assim como Círculo de Fogo vinha com grande expectativa de salvar um verão americano sem muita qualidade, além de tentar imprimir em 2013 a ficção científica como fonte rentável de ideias para blockbusters.

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No entanto, Elysium não deixa de ser um pouco decepcionante. O que chama a atenção após vermos o produto pronto inteiro é que você saberá o filme todo tendo assistido aos seus trailers. A previsibilidade é nesse nível. Nenhuma novidade é apresentada que consiga causar reviravolta na sinopse. Elysium é também um filme que desejamos que fosse maior. A riqueza de tal universo apresentado é tão grande, cada pequeno detalhe bem trabalhado na direção de arte, que o produto final não faz jus. Elysium possui muita coisa a ser mostrada e seu tempo de duração de 109 minutos funciona contra ele.

Por exemplo, como seria a vida na estação espacial Elysium? Vemos apenas o conceito, sem presenciarmos como é realmente viver em tal paraíso. Os personagens também não possuem tempo suficiente para serem desenvolvidos. A vilã de Jodie Foster é bidimensional e mal explorada. A grande atriz não possui espaço para inserir humanidade na personagem, cujo papel se torna apenas dar ordens letais (como um arqui-inimigo num filme ruim de James Bond).

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O que aparenta é que Elysium tem conceitos legais, designs legais, figurinos e direção de arte legais, conceito de personagens, mas é falho em explorar sua trama. Outro que percebemos que poderia ir mais longe é o psicótico e divertido personagem Kruger, de Sharlto Copley (colaborador de Blomkamp em Distrito 9). Ele é um agente renegado, que sofreu implantes demais e é usado como assassino ilegal do governo para a queima de arquivo. Numa determinada cena vemos uma faísca de como sua personalidade poderia ser mais explorada, mas no geral é apenas utilizado nas cenas de ação, como alívio de adrenalina.

Sem querer puxar sardinha para a nossa terra, quem se sai melhor são mesmo os brasileiros dessa produção globalizada. A escolada em Hollywood Alice Braga vive Frey, uma enfermeira que é o interesse romântico do protagonista. A atriz exibe fragilidade, desespero, mas também grande nobreza em sua personagem. Mas os louros absolutos vão para o grande Wagner Moura, que foi escolhido a dedo pelo diretor, fã de Tropa de Elite. Moura, como um bom camaleão, torna difícil para os não familiarizados com ele identificá-lo na pele de Spider, o rei do submundo na Terra, e melhor personagem do filme.

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O ator possui um papel importante na trama, aparece com destaque, e se sente em casa, muito à vontade sem deixar transparecer nem por um momento que essa é sua primeira grande produção Hollywoodiana. Moura é um grande ator e tem um futuro brilhante internacionalmente também. Mesmo com todos os seus defeitos Elysium possui também muitas ideias, o que sem dúvidas é mais do que se pode dizer da maioria dos grandes filmes que são feitos no cinema blockbuster. E por esse motivo, além é claro de conferir nossos orgulhos Moura e Braga, Elysium deve ser recomendado.

Blitz

(Blitz)

 

Elenco: Jason Statham, Paddy Considine, Aidan Gillen, Zawe Ashton, David Morrissey, Richard Riddell.

Direção: Elliott Lester

Gênero: Suspense

Duração: 97 min.

Distribuidora: Imagem Filmes

Orçamento: US$ 9 milhões.

Estreia: Direto em DVD – Agosto de 2011

Sinopse:  

A vida do sargento Brant (Jason Statham) não está fácil: em julgamento por ter agredido um psicólogo policial, ele ainda precisa lidar com o abandono do esquadrão em que trabalha. Além disso a esposa do inspetor-chefe Roberts morreu em um acidente de carro e a policial Falls fica no seu pé o tempo todo, na tentativa de conseguir uma vaga na equipe. Em meio a este turbilhão, Brant ainda precisa lidar com “The Blitz”, um serial killer que tem como alvo policiais que fazem batidas pela cidade. 

Curiosidades:

» Baseado no livro homônimo de Ken Bruen (mesmo autor de “London Boulevard”).


Trailer:

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Rush: No Limite da Emoção

VELOZES, FURIOSOS E RIVAIS

O que constitui um bom filme? A resposta imediata seria uma boa história a ser contada, e bons personagens, e com isso digo personagens bem desenvolvidos. Em segundo viriam bons diálogos e cenas memoráveis. Rush – No Limite da Emoção, novo filme do prestigiado diretor americano Ron Howard (Uma Mente Brilhante) possui todos os itens citados acima, e mais os outros adendos de uma grande obra, como fotografia, trilha sonora, direção de arte, maquiagem, etc.. Itens esses que farão o público tirar o chapéu para um dos melhores filmes de 2013.

É muito bom para quem assiste a muitos filmes receber um presente como Rush, que reforça a nossa paixão pela sétima arte. Temos que passar por uma verdadeira provação até o fim de cada ano, precisando encarar filmes horrendos, que nos fazem questionar nosso amor pelo cinema. Mas a cada fim de ano (geralmente por volta de setembro) as preciosidades começam a aparecer. E para quem ama cinema e faz disso a sua vida, assistir a um filme como Rush é como renovar os votos de casamento.

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Garantido de indicações em época de premiações, Rush usa como pano de fundo o universo das corridas de fórmula 1, para contar a história real da rivalidade entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt, durante a década de 1970. Mas engana-se quem pensa que Rush é só mais um filme de esporte formulaico. Assim como os grandes filmes de qualquer gênero, Rush prefere gastar seu tempo desenvolvendo seus personagens à perfeição, para que ao lado deles entremos nessa jornada, e entendamos as perspectivas dos dois.

Rush também marca as pazes do irregular Howard com o sucesso. O cineasta entrega um filme digno de seus melhores, vide Frost/Nixon e o citado Uma Mente Brilhante. Na trama, o alemão Lauda e o britânico Hunt são pilotos que escalam da depreciada fórmula 3, para a consagração máxima como corredores membros da elite, e superastros na fórmula 1. O que trazem consigo desde o início além do talento é a grande rivalidade entre eles, que com o tempo só faz aumentar.

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Suas personalidades não poderiam ser mais opostas, condizendo com todo o resto que cerca indivíduos tão diferentes e iguais ao mesmo tempo. Enquanto Hunt se aproveita da aparência, fama e sim do talento também, para viver como uma verdadeira estrela do rock; o visualmente peculiar Lauda é ambicioso o suficiente, astuto e obstinado para estar sempre a um passo na frente. A personalidade centrada de Lauda, e sua incapacidade de se divertir custavam-lhe a socialização necessária para ser mais influente, e não receber adjetivos como o de cretino.

Parte das qualidades citadas no início do texto são trazidas pelo roteirista do filme, o britânico Peter Morgan. Duas vezes indicado ao Oscar (por Frost/Nixon e A Rainha), Morgan cria tudo o que é necessário para termos um grande filme. Sua capacidade como contador de histórias, que conseguem nos envolver, é admirável. Morgan cria a ambiguidade necessária para em momento algum apontar vilões e mocinhos.

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Ele ao mesmo tempo coloca todas as cartas na mesa em relação aos dois protagonistas, para que tiremos nossas próprias conclusões. E filmes sem respostas fáceis são sempre muito mais interessantes. A rivalidade entre os protagonistas encontra também muita humanidade na maioria das cenas. Esses são seres humanos que nos conquistam duplamente pelas suas qualidades e defeitos. Rush também pode ser considerado um grande filme entretenimento, que não irá desapontar a família que quiser ir junta ao cinema (apenas com uma cena ou outra mais intensa).

A maquiagem é perfeita, em cenas que mostram o resultado de um acidente envolvendo queimaduras no hospital, são de grande agonia. Os atores igualmente merecem os louros. O espanhol fluente em alemão Daniel Brühl (Adeus, Lênin! e Bastardos Inglórios) finalmente terá seu talento reconhecido como um dos melhores jovens atores de sua geração. O ator multilíngue cria um Niki Lauda memorável e muito especial. Seu trabalho aqui é fantástico.

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E para os descrentes que achavam que Chris Hemsworth (Os Vingadores) seria para sempre apenas o Thor, uma boa notícia: existe um ator por baixo do super-herói. Rush marca o primeiro filme sério, e papel maduro do ator australiano, que esquece o trejeito do personagem nórdico da Marvel para se entregar aos vícios e inseguranças de um sujeito aparentemente imbatível na superfície. Acima de tudo Rush chega num ano de tantas cinebiografias recentes (como Jobs e Lovelace) para ensinar que um grande filme precisa sair da zona de apenas relatar os fatos, afinal cinema é magia.

Eu, Anna

VESTIDA PARA DELIRAR

Eu, Anna é um drama psicológico com doses de suspense. Uma co-produção entre Reino Unido, França e Alemanha, a obra passada em Londres é baseada num livro de Elsa Lewin, e conta a história de Anna Welles, personagem da lendária atriz britânica Charlotte Rampling (Swimming Pool – À Beira da Piscina). Ela á uma mulher de terceira idade solitária, divorciada, e que tem somente a filha e a neta bebê em sua vida.

Sentimos o grande baque que foi a separação para a protagonista. Mas sua filha, Emmy, papel da bela Hayley Atwell (a Peggy Carter dos filmes do Capitão América da Marvel), insiste para que ela saia e conheça novas pessoas, e para que encontre a felicidade novamente. É justamente isso que a personagem faz assim que a conhecemos na primeira cena. Anna está num encontro promovido para solteiros de sua faixa etária, socialização forçada e muito utilizada em outros países como os Estados Unidos, por exemplo.

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Entra em cena Bernie, o inspetor-chefe da polícia, interpretado pelo irlandês Gabriel Byrne (Os Suspeitos), ator veterano muito conhecido em Hollywood também. O sujeito, que está passando por uma fase pessoal difícil, que inclui o divórcio da esposa, coincidentemente se apaixona pela protagonista e a segue até um de seus encontros aonde iniciam uma relação promissora. O policial paralelamente está investigando um caso de assassinato.

Todas as pistas do crime apontam para o filho do falecido, um jovem de 16 anos de idade, envolvido com drogas e traficantes, que não possuía o melhor dos relacionamentos com o pai. Dirigido pelo britânico Barnaby Southcombe (diretor de séries de TV), a obra tem todo o sentimento de produções europeias, nas quais o que mais conta é o desenvolvimento dos personagens, e a sensação de sermos literalmente jogados na trama, como se realmente tivéssemos entrado naquele mundo e naquela história.

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Os cineastas europeus parecem dar grande valor a apresentar as locações e os cenários como um personagem. Eles se dedicam a dar vida às cidades onde as obras são passadas, como se por essas duas horas de projeção tivéssemos mudado para o local. Ao contrário de produções hollywoodianas, infelizmente incluindo algumas das mais caras, nas quais tudo é tão acelerado que mal conseguimos olhar ao redor detalhadamente.

E os cuidados tomados em Eu, Anna são muitos. Vão desde um trabalho minucioso e psicológico da criação dos personagens, destaque para Rampling; até a condução da trama de forma deliberada, já que esse também é um suspense que inclui algumas reviravoltas bem interessantes. Como muitas obras europeias, a produção joga o necessário para o público, sem mastigar explicações. A narrativa apresenta informações através de imagens e poucos diálogos, mas suficientes para que liguemos os pontos por nós mesmos.

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O estudo de personagem é riquíssimo e digno de horas de discussão. O único lado negativo dessa interessantíssima produção é justamente o fato de depender de uma reviravolta para a conclusão de sua trama. E qualquer clímax que dependa de uma reviravolta se torna automaticamente anticlimático para a maior parte do público, já que nenhuma explicação jamais corresponde nossas expectativas.