terça-feira, março 19, 2024

Conheça as DUAS Franquias de Chucky, o Brinquedo Assassino – E Entenda a Rivalidade Entre Elas

Chucky, série que é o mais novo produto da franquia Brinquedo Assassino, estreou no Star+, streaming que faz parte da Disney, bem a tempo para o halloween (o dia das bruxas). Nos EUA, indo ao ar pelo canal SyFy – com produção da Universal – o seriado já exibiu dois episódios e vem recebendo boas críticas dos especialistas. A proposta do programa é voltar às raízes de terror da franquia, mergulhar no psicológico do homem por trás do boneco, sem esquecer o lado do humor sombrio e resgatar os personagens que aprendemos a adorar ao longo destes quase 35 anos desde a estreia do vilão em 1988.

O espectador desavisado pode não fazer a mínima ideia do que rola nos bastidores de um filme e uma franquia, porém isso pode explicar muito sobre o motivo de seu vilão favorito andar tão sumido das telas. Fazer filmes é complicado e além de envolver questões artísticas, envolve também questões financeiras e jurídicas, como por exemplo, quem retém os direitos sobre uma marca. Outra franquia que passa por essa epopeia burocrática atualmente é Sexta-Feira 13, a casa do vilão Jason. Desde que deixou a Paramount Pictures, a franquia migrou para a Warner (New Line Cinema) e perdeu o direito de usar o título sempre associado ao azar. Podemos notar com títulos seguintes como Jason Vai para o Inferno (1993), Jason X (2001) e Freddy vs Jason (2003).

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Voltando para Brinquedo Assassino, como dito, o primeiro filme estreava em 1988, com história criada por Don Mancini, então um jovem de vinte e poucos anos, e roteiro de John Lafia e Tom Holland (não o ator de Homem-Aranha e sim o roteirista de Psicose 2 e diretor de A Hora do Espanto). Holland também dirigiu o primeiro filme. Esse longa original, que foi onde tudo começou, é claro, teve produção e distribuição da MGM / United Artists, como o estúdio por trás do projeto. Até aí tudo bem, isto é, até a entrada de um sujeito chamado Christopher Skase na história. Acontece que Skase, que era um magnata australiano, bilionário de plantão, começou um movimento de negociata para comprar tais estúdios (a MGM e United Artists) em 1989 – época na qual, após o sucesso estrondoso do primeiro Brinquedo Assassino (arrecadando US$44 milhões mundiais num orçamento de US$9 milhões), já estava em andamento a pré-produção de uma sequência que teria desta vez Lafia como diretor, Don Mancini como roteirista solo e David Kirschner novamente como produtor.

Tudo parecia no lugar, até que a notícia ruim veio a cavalo. Dick Berger, o chefão da United Artists então foi quem trouxe a novidade para Kirschner, revelando a compra dos estúdios pelo empresário e acrescentando que Skase não desejaria produzir filmes de terror – mesmo que fossem extremamente lucrativos, como era o caso de Brinquedo Assassino. Kirschner ficou devastado, mas ganharia um presente de Berger. O chefão do estúdio reconhecia o valor do filme e seu potencial, e o entregou totalmente para o produtor para que buscasse um novo lar em outro estúdio. Berger ainda completou dizendo que todo grande estúdio disputaria a tapa essa franquia tão promissora. Dito e feito, segundo uma matéria de 1989 do Los Angeles Times, titãs da indústria como a Warner, a Disney, a Paramount, a 20th Century Fox, a Columbia (Sony), a New Line, a Carolco e a Universal demonstraram seu interesse na produção.

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Como sabemos, a franquia finalmente terminou nas mãos da Universal Pictures, que produziu e lançou em 1990, Brinquedo Assassino 2. O que muitos talvez não saibam é que Steven Spielberg foi o responsável por isto acontecer. Na época, Spielberg era muito próximo do chefão da Universal, Sid Sheinberg, que havia lhe pedido para que tentasse o favoritismo da franquia para o estúdio. E o mundo não é assim mesmo? É sempre quem você conhece. Spielberg, bem conectado do jeito que é, igualmente havia colaborado com Kirschner no passado, na animação Fievel – Um Conto Americano (1986). Assim, através da ponte feita pelo diretor de Tubarão e E.T., o boneco homicida favorito do cinema foi parar nas mãos da Universal.

E na nova casa Chucky permaneceria por Brinquedo Assassino 3 (1991), lançado logo no ano seguinte. Com o fim desta “trilogia” original, a franquia passaria por uma reformulação, sendo transformada no estilo de filme slasher adolescente do fim dos anos 90, ou seja, o estilo Pânico (1996). Assim como em Halloween H20 (1998), A Noiva de Chucky, lançado no mesmo ano, embora não tenha tido o dedo de Kevin Williamson no roteiro, cria um texto totalmente formado nestes moldes, ou seja: muito humor autoconsciente, inúmeras referências e muita metalinguagem. Além, é claro, da adição da noiva do psicopata, Tiffany (Jennifer Tilly). Ainda nas mãos da Universal e com texto de Mancini (como todos os anteriores), não é muito divulgado se a mudança de título foi meramente uma questão estratégica de mercado para renovar a franquia, ou se já era um problema de direitos autorais sobre a marca – como veremos mais adiante. O fato é, depois do terceiro filme, nenhum outro filme da franquia nas mãos de Mancini/Universal receberia o título Brinquedo Assassino.

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Não deixe de assistir:

Seguindo de perto o clima “espertinho” e de muito humor sombrio, O Filho de Chucky (2004) era a continuação direta de A Noiva de Chucky e marcava o primeiro passo do roteirista de todos os filmes, Don Mancini, na direção. O filme, infelizmente, também marcaria o último exemplar de um longa da franquia da Universal a receber lançamento nos cinemas. O motivo? Uma bilheteria abaixo do esperado, críticas pouco amistosas e principalmente o ódio por parte dos fãs, que o consideram o pior exemplar de sua adorada série de terror. Isso fez Mancini repensar para onde desejava levar “seu filho” e reestruturar as bases. O filme seguinte, A Maldição de Chucky, levaria dez anos para sair do papel e veria um lançamento direto no mercado de vídeo (ou VOD) através do selo 1440 Entertainment, da Universal. Que foi por onde a sequência direta deste, O Culto de Chucky, lançado quatro anos depois, também seguiria.

Ambos A Maldição e Culto receberam certa atenção dos fãs, tendo como chamariz o retorno de atores e personagens queridos lá do início dos filmes, como o menino Andy, agora um adulto nas formas do mesmo Alex Vincent. Mas convenhamos, quando uma franquia deixa as salas de cinema para ir para o mercado de vídeo, não podemos chamar de um avanço ou uma evolução, por mais que Don Mancini (que dirigiu todos desde O Filho de Chucky) queira considerar assim. E aqui começava a citada rivalidade entre as “duas franquias”.

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Acontece que aquele magnata citado mais acima do texto não chegou de fato a comprar os estúdios como planejava. Assim, o primeiro Brinquedo Assassino permaneceu no acervo da United Artists todo esse tempo, enquanto a Universal capitalizava em cima das sequências. Foi quando o estúdio decidiu dar uma nova chance ao boneco Chucky nas telonas, chance que não estava tendo na Universal junto a Mancini. Foi quando entraram em cena os produtores Seth Grahame-Smith e David Katzenberg, responsáveis pelo muito bem sucedido remake de It – A Coisa (2017), que optaram por fazer o mesmo para outra propriedade clássica: Brinquedo Assassino. Através da subsidiária Orion Pictures (recém renovada pela United Artists), a dupla até abordou Mancini e Kirschner para participarem envolvidos de alguma forma no remake, porém, os dois não tiveram reservas em recusar.

Mancini foi mais longe e disse ter se sentido insultado pela oferta, já que segundo ele, haviam terminado de lançar dois filmes bem sucedidos. Bem, no mercado de vídeo ao menos. Sendo assim, o remake de Brinquedo Assassino seguiu em frente com sua produção, vindo a estrear em 2019. E para a surpresa geral rendeu um filme onde a maioria dos críticos e fãs compraram a ideia. O remake funcionou e agradou. Fora isso, rendeu mais de três vezes o seu orçamento de US$10 milhões, o que faz dele um sucesso moderado. O tempo todo os realizadores do remake enalteciam o talento de Mancini e o quanto sua criação significava para eles. Por outro lado, Mancini não estava nada satisfeito, se pronunciando publicamente contra o remake. É compreensível, afinal é como se alguém com mais dinheiro tirasse de você à força algo que você criou, e pior, enquanto você ainda está trabalhando naquilo.

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Os envolvidos com as produções da Universal logo se prontificaram a ficar no time Mancini desta disputa, como a atriz Jennifer Tilly que, assim como o citado criador, usou as redes sociais para manifestar sua “indignação” com o remake, dizendo que aquele não era o Chucky dela. Mancini também teve o apoio de Alex Vincent e Brad Dourif (a voz de Chucky em todos os filmes, menos no remake), que demonstraram desdém e zero interesse no remake. Mark Hamill dublou o boneco na refilmagem. Aliás, isso quase foi um problema para o remake: o nome do boneco. Numa disputa legal, por pouco a refilmagem teria que usar o nome Buddi ao invés de Chucky. Mas no fim das contas o nome clássico foi mantido na nova versão.

Agora, Mancini, a Universal e o elenco original dão a nova cartada com a série Chucky, que se for bem sucedida pode render novas temporadas e manter o personagem na mídia por mais um tempo. A série é a continuação direta de todos os filmes da cronologia de Mancini. Por outro lado, está nas mãos da United Artists realizar uma continuação de seu remake. O fato colocaria duas franquias gerando sequências ao mesmo tempo, o que poderá confundir ainda mais os fãs do personagem e ser fatal para o boneco devido a uma eventual superexposição.

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