quarta-feira, maio 8, 2024

Crítica | Jessie Ware nos leva a uma jornada fabulosa com o impecável álbum ‘That! Feels Good!’

Quando Jessie Ware fez sua estreia em 2012 com o aclamado ‘Devotion’, todos já deveríamos ter premeditado seu meteórico sucesso com o passar dos anos; afinal, a cantora e compositora britânica transformou-se em uma poderosa porta-voz do classicismo atemporal do house, do disco e do new wave, sem perder a significativa originalidade que a colocou no centro dos holofotes. Oito anos depois de seu début, ela voltaria a nos encantar com ‘What’s Your Pleasure’, um arauto do hi-NRG e do nu-disco que lhe traria ainda mais visibilidade internacional. Agora, ela volta a se consagrar como uma das grandes vozes da atualidade com seu antecipadíssimo retorno, ‘That! Feels Good!’.

A artista já havia nos presenteado com alguns ótimos singles para promover o álbum. Tivemos a potência libertadora de “Free Yourself”, um hino house que serve para qualquer um que queira quebrar as correntes da normatização e serem como bem entenderem; a nostálgica “Pearls”, que nos arremessou de volta para os anos 1970 e 1980 com um arranjo fabuloso de baixo, sinos e vocais; e “Begin Again” traz uma gama de elementos conflituosos que criam mágica através de uma trama hedonista e cheia de paixão – e que inclui, inclusive, elementos brasileiros da bossa nova. Nosso maior medo é que o resultado se tornasse repetitivo, mas, como já era de se esperar, Ware nos surpreende com uma urgente declamação sobre a importância de viver e de experimentar tudo o que existe ao nosso redor.

É quase impossível escolher um ponto alto da produção, visto que ela, em sua completude, é inenarrável e indescritível. Afinal, Jessie não apenas nos convida para um convite deliciosamente anacrônico, perpassando as várias fases de um estilo de música que sofre constantes revisitações e redescobertas; ela dilui as barreiras entre som e imagem, criando uma confluência de textura que nos transporta a outro mundo – um mundo sem estresses contínuos e que a única obrigação é se divertir e aproveitar o que há de ser oferecido. Não é à toa que boa parte da temática adote uma persona sensual, livre de amarras e que é movida pelo poder empoderador da música.

A faixa de abertura, que empresta seu nome ao título do álbum, é uma orgásmica exaltação dos anos 1970, imbuída em vibrantes mesclas de funk e R&B – com instrumentais que fundem o baixo e o trompete em um hino dançante a que não podemos ficar parados. Logo de cara, somos bombardeados com uma sensorialidade invejável, que nos carrega por uma experiência sublime; pouco depois, ela mergulha de cabeça no nu-disco e no electro-disco de “Freak Me Now”, prestando homenagens a nomes como Donna Summer e Nile Rodgers e garantindo que as progressões atravessem gerações em um piscar de olhos. “Beautiful People”, facilmente uma das melhores da carreira da cantora, evoca um sentimento quase didático sobre como deixar os problemas descansarem e abraçar a noite (e ninguém poderia ter entregado os versos “sirva um drinque; mistura sua felicidade com tormento – tão doce” como ela).

É notável como, em apenas quarenta minutos, essa aventura serve como um épico-histórico da devoção ao prazer, da busca pela euforia e pelo ânimo; como numa inescapável ilha, voltamos automaticamente para o começo e exploramos mais uma vez as bem-vindas palavras de Ware. E, como se não bastasse, ela mantém-se firme ao projeto arquitetado até mesmo quando diminui o ritmo e aposta numa configuração mais lenta: temos “Hello Love”, pincelada coma infusão latina de batuques orquestrados sob uma narrativa romântica, além de uma multiplicidade de camadas que nos fazem sobrevoar a canção; e “Lightning”, que transpõe-se ao uso nostálgico dos sintetizadores e abre espaço ao synth-R&B, migrando para o início dos 2000 e nos confortando num saudosismo sem fim.

Durante uma entrevista à Rolling Stone, Jessie revelou como imaginava seus fãs ouvindo o álbum, ao que respondeu: “com um coquetel na mão e o senso de oportunidade e encontros da vida e romance e sexo e diversão”. Agora, já sabemos o motivo: cada uma das tracks é pensada cuidadosamente e de forma quase testamentária da própria carreira da performer. Em outras palavras, sentimos como se ela estivesse nos preparando para o momento em que tudo o que tivéramos ouvido convergisse para uma obra-prima que nos permite sermos frívolos e despreocupados, nem que seja por um momento. Ela nos transporta para um mundo único, movido a peculiaridades que oscilam entre a realidade e a teatralidade.

Não deixe de assistir:

‘That! Feels Good!’ não apenas é um dos melhores álbuns do ano, mas, a cada vez que o reouvimos, o melhor álbum da carreira de Jessie Ware, em que notamos um claro amadurecimento sem abandonar sua identidade. Um meteórico afluente de sensações e instrumentos sem medo de ser feliz – e “ooh, escandaloso”.

Nota por faixa:

1. That! Feels Good! – 5/5
2. Free Yourself – 5/5
3. Pearls – 5/5
4. Hello Love – 5/5
5. Begin Again – 5/5
6. Beautiful People – 5/5
7. Freak Me Now – 4,5/5
8. Shake The Bottle – 4,5/5
9. Lightning – 5/5
10. These Lips – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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