domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Marcel the Shell With the Shoes On – Filme Indicado ao Oscar de Melhor Animação é um dos mais originais do último ano

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Sensação nos Estados Unidos desde a primeira apresentação no festival South by Southwest (SXSW) em março de 2022, Marcel the Shell With the Shoes On (na tradução livre, Marcel, a concha de sapatos) conquistou corações durante o ano passado e uma nomeação de Melhor Animação ao Oscar 2023, isto é, páreo duro com a produção Pinóquio, de Guillermo Del Toro

Com passagem por diversos festivais, o primeiro filme da técnica stop-motion da A24 ainda não conseguiu distribuição nas salas de cinemas na América Latina e não tem previsão de estreia no Brasil. Baseado no curta-metragem do personagem Marcel, que viralizou em 2010 no YouTube, o filme parecia condicionado ao público do primeiro sucesso, mas a profundidade do tema abordado e a personalidade dada a pequena concha é tão tocante como qualquer drama de Paul Thomas Anderson ou Steven Spielberg



Exageros à parte, a narrativa criada pelo trio Dean Fleischer-Camp, Jenny Slate e Nick Paley é adorável. Em forma de um falso documentário, o narrador do longa (Dean Fleischer-Camp) convence Marcel (voz de Jenny Slate) a contar a sua história para a câmera. Com uma língua afiada e uma desconfiança legítima, Marcel conquista o público nos primeiros minutos. Depois de apresentar sua casa e a sua avó Connie (voz de Isabella Rossellini), é impossível não ficarmos fascinado pelo seu modo de vida. 

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Quantas vezes já nos questionamos sobre a existência de uma concha? Depois dos quatro anos de idade, talvez a resposta seja zero. A originalidade de Marcel the Shell with the Shoes On é exatamente esta, um personagem inesperado e encantador, capaz de nos ensinar sobre a magia das pequenas coisas deste mundo, melhor que alguns filósofos e professores.

Tal como uma criança inocente  — porém corajosa  —, Marcel aceita a ajuda do documentarista para lançar-se na internet em busca de parceiros para encontrar sua família. A partir desse apelo, ele faz reflexões sobre a vida em comunidade e a miséria dos sentimentos humanos. De maneira cândida e despretensiosa, o personagem questiona porque as pessoas vão tirar foto em frente à sua casa, mas não reagem a seu pedido de auxílio.

Na mesma toada, Marcel apresenta a sua preocupação com a idade avançada de sua avó, a única família ao seu lado. Sua inquietação com ela é apresentada de forma tão verídica que é fácil deixar escorrer lágrimas dos olhos junto com essa concha de um centímetro, que percorre os corredores da casa dentro de uma bola de tênis.

Se até aqui apenas os aspectos do roteiro foram colocados em evidência, não é por falta de deslumbre visual. Em um misto de live action com stop-motion, Marcel the Shell With the Shoes On apresenta cenas belíssimas de extrema destreza da técnica aplicada, uma vez que a ação desenvolve-se em uma casa em tamanho real. Ou seja, o encanto é muito mais tocante do que se todo o cenário fosse desenvolvido na estética da animação.

Os motivos da separação de Marcel de sua família são reais e, é possível acreditar na sua história, tanto quanto na sua presença em todos os cômodos da casa. Os detalhes imaginados pelos criadores são de um primor poucas vezes encontrado em um filme de orçamento limitado. É impossível assistir Marcel the Shell With the Shoes On sem se sensibilizar com a sua provocação. A grande temática da obra não são os contratempos de Marcel, mas como as separações, sejam temporárias, sejam permanentes, partem pedaços de nós e sempre nos transformam. 

* Produzido e distribuído pela A24, Marcel the Shell With the Shoes On ainda não possui previsão de estreia no Brasil. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Sensação nos Estados Unidos desde a primeira apresentação no festival South by Southwest (SXSW) em março de 2022, Marcel the Shell With the Shoes On (na tradução livre, Marcel, a concha de sapatos) conquistou corações durante o ano passado e uma nomeação de Melhor Animação ao Oscar 2023, isto é, páreo duro com a produção Pinóquio, de Guillermo Del Toro

Com passagem por diversos festivais, o primeiro filme da técnica stop-motion da A24 ainda não conseguiu distribuição nas salas de cinemas na América Latina e não tem previsão de estreia no Brasil. Baseado no curta-metragem do personagem Marcel, que viralizou em 2010 no YouTube, o filme parecia condicionado ao público do primeiro sucesso, mas a profundidade do tema abordado e a personalidade dada a pequena concha é tão tocante como qualquer drama de Paul Thomas Anderson ou Steven Spielberg

Exageros à parte, a narrativa criada pelo trio Dean Fleischer-Camp, Jenny Slate e Nick Paley é adorável. Em forma de um falso documentário, o narrador do longa (Dean Fleischer-Camp) convence Marcel (voz de Jenny Slate) a contar a sua história para a câmera. Com uma língua afiada e uma desconfiança legítima, Marcel conquista o público nos primeiros minutos. Depois de apresentar sua casa e a sua avó Connie (voz de Isabella Rossellini), é impossível não ficarmos fascinado pelo seu modo de vida. 

Quantas vezes já nos questionamos sobre a existência de uma concha? Depois dos quatro anos de idade, talvez a resposta seja zero. A originalidade de Marcel the Shell with the Shoes On é exatamente esta, um personagem inesperado e encantador, capaz de nos ensinar sobre a magia das pequenas coisas deste mundo, melhor que alguns filósofos e professores.

Tal como uma criança inocente  — porém corajosa  —, Marcel aceita a ajuda do documentarista para lançar-se na internet em busca de parceiros para encontrar sua família. A partir desse apelo, ele faz reflexões sobre a vida em comunidade e a miséria dos sentimentos humanos. De maneira cândida e despretensiosa, o personagem questiona porque as pessoas vão tirar foto em frente à sua casa, mas não reagem a seu pedido de auxílio.

Na mesma toada, Marcel apresenta a sua preocupação com a idade avançada de sua avó, a única família ao seu lado. Sua inquietação com ela é apresentada de forma tão verídica que é fácil deixar escorrer lágrimas dos olhos junto com essa concha de um centímetro, que percorre os corredores da casa dentro de uma bola de tênis.

Se até aqui apenas os aspectos do roteiro foram colocados em evidência, não é por falta de deslumbre visual. Em um misto de live action com stop-motion, Marcel the Shell With the Shoes On apresenta cenas belíssimas de extrema destreza da técnica aplicada, uma vez que a ação desenvolve-se em uma casa em tamanho real. Ou seja, o encanto é muito mais tocante do que se todo o cenário fosse desenvolvido na estética da animação.

Os motivos da separação de Marcel de sua família são reais e, é possível acreditar na sua história, tanto quanto na sua presença em todos os cômodos da casa. Os detalhes imaginados pelos criadores são de um primor poucas vezes encontrado em um filme de orçamento limitado. É impossível assistir Marcel the Shell With the Shoes On sem se sensibilizar com a sua provocação. A grande temática da obra não são os contratempos de Marcel, mas como as separações, sejam temporárias, sejam permanentes, partem pedaços de nós e sempre nos transformam. 

* Produzido e distribuído pela A24, Marcel the Shell With the Shoes On ainda não possui previsão de estreia no Brasil. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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