quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Saudosa Maloca – Músicas de Adoniran Barbosa Embalam Deliciosa Cinebiografia do Artista

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Adoniran Barbosa foi (e segue sendo) um dos maiores sambistas brasileiros de todos os tempos. Nascido em Valinhos, foi na capital paulista que o artista se estabeleceu para compor e cantar sambas que, na voz do povo, foram eternizados por conta de suas letras populares, que refletiam o cotidiano das pessoas comuns e, muitas vezes, eram propositalmente escritos “errados” diante da gramática normativa portuguesa.

A identificação das pessoas com seus sambas ecoou no tempo e segue até hoje, chegando – finalmente – aos cinemas, com o filme ‘Saudosa Maloca’, que estreia essa semana nas salas de exibição das capitais do país e que dá o nome à uma de suas mais famosas músicas.



Mais ou menos na década de 1960, três grandes amigos compartilhavam, juntos, sonhos e dívidas. Eram Adoniran Barbosa (o carismático Paulo Miklos), o galanteador Joca (Gustavo Machado em seu melhor papel, mostrando todo o seu potencial) e o apaixonado Mato Grosso (Gero Camilo simplesmente adorável).

Todos os dias eles frequentam o bar de Arnesto (Zemanuel Piñero), onde Mato Grosso e Joca disputam a atenção e o coração de Iracema (Leilah Moreno, belíssima), jovem atendente cujo sonho é ser modelista de alta costura, e onde Adoniran tenta fazer com que seu samba ultrapasse o ambiente do bar e passe a tocar nas rádios. Ao mesmo tempo, os três amigos passam a morar juntos, ocupando um casarão (ao qual chamam carinhosamente de maloca) caindo aos pedaços no bairro do Bixiga, em São Paulo, e tentam sobreviver à especulação imobiliária – incorporada no empresário Pereira (Paulo Tiefenthaler) , à iminência de terem que buscar um emprego formal e tentar, apesar de tudo, não deixar o sonho de cada um adormecer com a pressão da vida.

Adoniran Barbosa é um desses nomes que a juventude, na maioria das vezes, pode até ter ouvido falar, mas talvez não consiga relacionar o nome à obra. Ele é o intérprete de clássicos como “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Tiro ao Alvaro”, “Iracema” e “Samba do Arnesto” – canções esta que lindamente foram organicamente diluídas no roteiro de Rubens Marinelli, Guilherme Quintella e Pedro Soffer Serrano. Dessa forma, vemos elementos – e muitas vezes, versos inteiros – participando do longa ou sendo proferidos em diálogos, mas realizados de maneira tão sutil, que fazem sentido dentro da trama.

Pedro Soffer Serrano conduz seu longa de maneira íntima, transformando os personagens, o homenageado e a trama algo leve e descontraído mesmo no drama, inserindo o espectador dentro daquele universo de trambiques, amores e boemia – essenciais para um bom samba. Especialmente com relação ao elenco, o diretor Pedro Soffer Serrano extrai o melhor do trio de protagonistas, com destaque à dupla Gustavo Machado e Gero Camilo, que desenvolvem dois personagens algo chapliniano, algo de Trapalhões e, ainda assim, originais. São, juntos, os responsáveis pelos melhores e mais hilários dessa deliciosa comédia dramática.

Mais que um filme de nicho ou um filme autoral, ‘Saudosa Maloca’ é uma ode ao samba, à boemia de outrora que não volta mais. É comédia como era feita no século passado. É a história da música brasileira. É um ótimo filme, bem realizado e que proporciona sensação de bem-estar em quem assiste. Imperdível!

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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A identificação das pessoas com seus sambas ecoou no tempo e segue até hoje, chegando – finalmente – aos cinemas, com o filme ‘Saudosa Maloca’, que estreia essa semana nas salas de exibição das capitais do país e que dá o nome à uma de suas mais famosas músicas.

Mais ou menos na década de 1960, três grandes amigos compartilhavam, juntos, sonhos e dívidas. Eram Adoniran Barbosa (o carismático Paulo Miklos), o galanteador Joca (Gustavo Machado em seu melhor papel, mostrando todo o seu potencial) e o apaixonado Mato Grosso (Gero Camilo simplesmente adorável).

Todos os dias eles frequentam o bar de Arnesto (Zemanuel Piñero), onde Mato Grosso e Joca disputam a atenção e o coração de Iracema (Leilah Moreno, belíssima), jovem atendente cujo sonho é ser modelista de alta costura, e onde Adoniran tenta fazer com que seu samba ultrapasse o ambiente do bar e passe a tocar nas rádios. Ao mesmo tempo, os três amigos passam a morar juntos, ocupando um casarão (ao qual chamam carinhosamente de maloca) caindo aos pedaços no bairro do Bixiga, em São Paulo, e tentam sobreviver à especulação imobiliária – incorporada no empresário Pereira (Paulo Tiefenthaler) , à iminência de terem que buscar um emprego formal e tentar, apesar de tudo, não deixar o sonho de cada um adormecer com a pressão da vida.

Adoniran Barbosa é um desses nomes que a juventude, na maioria das vezes, pode até ter ouvido falar, mas talvez não consiga relacionar o nome à obra. Ele é o intérprete de clássicos como “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Tiro ao Alvaro”, “Iracema” e “Samba do Arnesto” – canções esta que lindamente foram organicamente diluídas no roteiro de Rubens Marinelli, Guilherme Quintella e Pedro Soffer Serrano. Dessa forma, vemos elementos – e muitas vezes, versos inteiros – participando do longa ou sendo proferidos em diálogos, mas realizados de maneira tão sutil, que fazem sentido dentro da trama.

Pedro Soffer Serrano conduz seu longa de maneira íntima, transformando os personagens, o homenageado e a trama algo leve e descontraído mesmo no drama, inserindo o espectador dentro daquele universo de trambiques, amores e boemia – essenciais para um bom samba. Especialmente com relação ao elenco, o diretor Pedro Soffer Serrano extrai o melhor do trio de protagonistas, com destaque à dupla Gustavo Machado e Gero Camilo, que desenvolvem dois personagens algo chapliniano, algo de Trapalhões e, ainda assim, originais. São, juntos, os responsáveis pelos melhores e mais hilários dessa deliciosa comédia dramática.

Mais que um filme de nicho ou um filme autoral, ‘Saudosa Maloca’ é uma ode ao samba, à boemia de outrora que não volta mais. É comédia como era feita no século passado. É a história da música brasileira. É um ótimo filme, bem realizado e que proporciona sensação de bem-estar em quem assiste. Imperdível!

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