domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | The Worst Person in the World | Joachim Trier cria Encantadora Epopeia de uma Jovem Norueguesa

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Julie (Renate Reinsve) representa a mim, a você ou a qualquer pessoa atualmente entre 26 e 40 anos, a geração millennials. Com um ritmo poético, rápido e fantasioso, Joachim Trier (Thelma) narra quatro anos na vida de uma jovem mulher, entre as suas angústias e dúvidas familiares, amorosas e profissionais. Ou seja, é uma busca por si mesma. 

A potência de The Worst Person in the World (Verdens verste menneske, em tradução livre A Pior Pessoa do Mundo) está na abordagem criativa e irreverente dos roteiristas Joachim Trier e Eskil Vogt (Oslo, 31 de Agosto) e uma competente montagem. A primorosa mise en scène nos faz enxergar o mundo por uma nova perspectiva (a de uma jovem norueguesa contemporânea) de modo a viajar em uma odisseia. 



Esta é a quinta parceria da dupla Joachim Trier e Eskil Vogt, sem contar outros três curtas. Ambos, portanto, trabalham afiados em tencionar o lado fantástico e os elementos do cotidiano em seus filmes. Como uma narrativa divertida, A Pior Pessoa do Mundo nos coloca em seus trilhos e explica tratar-se de uma história com um prefácio, doze capítulos e o prólogo. Todos com pontos chaves e discussões engraçadas e dramáticas, títulos provocativos e, também, dúbios. 

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De modo dinâmico, o narrador apresenta a transformação de Julie, de uma adolescente estudiosa a uma universitária de Medicina, depois Psicologia, e, então, Fotografia até encontra-se como atendente numa livraria. Pelo prisma romântico, ela separa-se do namoradinho da escola, começa relações fugazes até encontrar abrigo em Askel (Anders Danielsen Lie), um cartunista 10 anos mais velho, pelo qual apaixona-se após a primeira noite juntos. 

A partir desse encontro, a narração desacelera e coloca luz sobre as questões do casal, a principal delas é ter ou não ter um herdeiro. Ele um quarentão, com amigos com filhos na primeira infância, deseja começar uma família. Ela, perto dos 30 anos, hesita a tomar qualquer decisão, ainda mais com uma vida profissional desestabilizada. O assunto vem à tona numa viagem com os casais de amigos de Askel, mas permeia toda a relação. 

Os capítulos seguem e um dos mais arrebatadores é o intitulado “infidelidade”, no qual cria uma expectativa sobre quem será o causador do tal enunciado. Ele? Ela? Os dois? Os acontecimentos dessa passagem são um ponto chave na vida de Julie, pois ela se permite apropriar-se de uma nova identidade e entra de penetra em uma festa de casamento. Lá, ela promove discussões com os convidados, apresenta-se como médica, dança, bebe e conhece uma pessoa. 

Ambos estão em relacionamento com outros indivíduos e dizem de cara que não desejam corromper suas relações. A magia de uma noite, no entanto, pode perpetuar-se ou torna-se apenas uma doce lembrança. Assim, os capítulos transcorrem, como o chamado: “Sexo Oral na era do #MeToo”, ou algo neste sentido, em que Julie começa a mostrar seu talento para escrita e a sua visão de cinismo do mundo. Seu aniversário de 30 anos chega como uma sombra do que é ser mulher no século XXI, já que ela compara-se a sua mãe e ancestrais, todas com filhos antes dos 30. 

O assunto volta à pauta, mas em seu itinerário surge o personagem da noite mágica em uma das cenas mais bonitas sobre encontros de olhares já registradas, mais forte que Lady Gaga e Bradley Cooper, em Nasce Uma Estrela (2018), ou Emma Stone e Ryan Gosling, em La La Land (2016). Dessa maneira, o diretor permite-se fantasiar e a gente é levado junto sem pestanejar, ao reencontro entre Julie e Eivind (Herbert Nordrum). Em contrapartida, há um chamado da realidade sobre como o término de uma relação pode ser a parte mais dolorida de qualquer vida, como todas as despedidas. 

O novo percurso de Julie não é uma chegada, é apenas uma mudança de rota. Ela atinge os 30 e poucos ainda buscando novas estradas, visto que tentativa e erro é o único modo de saber se existe algo para ser resgatado no caminho. De uma viagem psicodélica após a ingestão de cogumelos a uma dose de lirismo numa visita ao hospital para dizer adeus, os roteiristas conseguem captar a essência de Julie, suas relações, seus anseios e suas angústias para atravessar portas as quais ela não poderá simplesmente fechar.

Com o término dos 12 capítulos, o prólogo desenrola-se em um possível salto temporal em que vemos Julie em um set de filmagem. Lá, é onde o espetáculo se encerra e começa outro. A Pior Pessoa do Mundo é uma brilhante comédia romântica e o arremate da grande epopeia é a canção Águas de Março, composição de Antônio Carlos Jobim, interpretada em inglês por Art Garfunkel. As cortinas fecham ao som deA stick, a stone, it’s the end of the road, It’s the rest of a stump, it’s a little alone” (“É o pau, é a pedra, é o fim do caminho/ É um resto de toco, é um pouco sozinho”).

 

** Filme visto no Festival de Cannes 2021. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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A potência de The Worst Person in the World (Verdens verste menneske, em tradução livre A Pior Pessoa do Mundo) está na abordagem criativa e irreverente dos roteiristas Joachim Trier e Eskil Vogt (Oslo, 31 de Agosto) e uma competente montagem. A primorosa mise en scène nos faz enxergar o mundo por uma nova perspectiva (a de uma jovem norueguesa contemporânea) de modo a viajar em uma odisseia. 

Esta é a quinta parceria da dupla Joachim Trier e Eskil Vogt, sem contar outros três curtas. Ambos, portanto, trabalham afiados em tencionar o lado fantástico e os elementos do cotidiano em seus filmes. Como uma narrativa divertida, A Pior Pessoa do Mundo nos coloca em seus trilhos e explica tratar-se de uma história com um prefácio, doze capítulos e o prólogo. Todos com pontos chaves e discussões engraçadas e dramáticas, títulos provocativos e, também, dúbios. 

De modo dinâmico, o narrador apresenta a transformação de Julie, de uma adolescente estudiosa a uma universitária de Medicina, depois Psicologia, e, então, Fotografia até encontra-se como atendente numa livraria. Pelo prisma romântico, ela separa-se do namoradinho da escola, começa relações fugazes até encontrar abrigo em Askel (Anders Danielsen Lie), um cartunista 10 anos mais velho, pelo qual apaixona-se após a primeira noite juntos. 

A partir desse encontro, a narração desacelera e coloca luz sobre as questões do casal, a principal delas é ter ou não ter um herdeiro. Ele um quarentão, com amigos com filhos na primeira infância, deseja começar uma família. Ela, perto dos 30 anos, hesita a tomar qualquer decisão, ainda mais com uma vida profissional desestabilizada. O assunto vem à tona numa viagem com os casais de amigos de Askel, mas permeia toda a relação. 

Os capítulos seguem e um dos mais arrebatadores é o intitulado “infidelidade”, no qual cria uma expectativa sobre quem será o causador do tal enunciado. Ele? Ela? Os dois? Os acontecimentos dessa passagem são um ponto chave na vida de Julie, pois ela se permite apropriar-se de uma nova identidade e entra de penetra em uma festa de casamento. Lá, ela promove discussões com os convidados, apresenta-se como médica, dança, bebe e conhece uma pessoa. 

Ambos estão em relacionamento com outros indivíduos e dizem de cara que não desejam corromper suas relações. A magia de uma noite, no entanto, pode perpetuar-se ou torna-se apenas uma doce lembrança. Assim, os capítulos transcorrem, como o chamado: “Sexo Oral na era do #MeToo”, ou algo neste sentido, em que Julie começa a mostrar seu talento para escrita e a sua visão de cinismo do mundo. Seu aniversário de 30 anos chega como uma sombra do que é ser mulher no século XXI, já que ela compara-se a sua mãe e ancestrais, todas com filhos antes dos 30. 

O assunto volta à pauta, mas em seu itinerário surge o personagem da noite mágica em uma das cenas mais bonitas sobre encontros de olhares já registradas, mais forte que Lady Gaga e Bradley Cooper, em Nasce Uma Estrela (2018), ou Emma Stone e Ryan Gosling, em La La Land (2016). Dessa maneira, o diretor permite-se fantasiar e a gente é levado junto sem pestanejar, ao reencontro entre Julie e Eivind (Herbert Nordrum). Em contrapartida, há um chamado da realidade sobre como o término de uma relação pode ser a parte mais dolorida de qualquer vida, como todas as despedidas. 

O novo percurso de Julie não é uma chegada, é apenas uma mudança de rota. Ela atinge os 30 e poucos ainda buscando novas estradas, visto que tentativa e erro é o único modo de saber se existe algo para ser resgatado no caminho. De uma viagem psicodélica após a ingestão de cogumelos a uma dose de lirismo numa visita ao hospital para dizer adeus, os roteiristas conseguem captar a essência de Julie, suas relações, seus anseios e suas angústias para atravessar portas as quais ela não poderá simplesmente fechar.

Com o término dos 12 capítulos, o prólogo desenrola-se em um possível salto temporal em que vemos Julie em um set de filmagem. Lá, é onde o espetáculo se encerra e começa outro. A Pior Pessoa do Mundo é uma brilhante comédia romântica e o arremate da grande epopeia é a canção Águas de Março, composição de Antônio Carlos Jobim, interpretada em inglês por Art Garfunkel. As cortinas fecham ao som deA stick, a stone, it’s the end of the road, It’s the rest of a stump, it’s a little alone” (“É o pau, é a pedra, é o fim do caminho/ É um resto de toco, é um pouco sozinho”).

 

** Filme visto no Festival de Cannes 2021. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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