domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Três Anúncios para um Crime – Que venham as estatuetas do Oscar, amém!

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Três anúncios objetivos, indagações profundas que estampam outdoors antes abandonados. Em uma rodovia onde só circula “quem estiver perdido ou for muito idiota”, o vermelho sangue chama atenção com letras pretas garrafais. Uma pergunta que esconde a dor imensurável da perda irremediável. Que esconde a culpa dilacerada de palavras (mal)ditas, que anseia por respostas. ‘Três Anúncios Para Um Crime’ se revela muito além das curtas linhas de um material publicitário, se destrinchando a partir da dor e da raiva daqueles que – raramente – possuem o direito de se irar e sofrer publicamente.

Martin McDonagh possui um currículo pequeno e um Oscar na estante. Premiado em 2006 por seu curta-metragem ‘Six Shooter’, ele volta aos holofotes com um drama capaz de trazer fragmentos do humor e o delírio da ação inusitada a uma história de doer a alma. Com Frances McDormand genuinamente como a amamos – sem papas na língua, a trama acompanha a “impertinência” de uma mãe que lida com os latentes questionamentos sobre os responsáveis pela trágica morte de sua filha adolescente.



Em seu caminho, Mildred (McDormand) trava um conflito duro com a polícia da pequena cidade de Ebbing. Aparentemente pacata, ela se reconfigura drasticamente a partir da ira dessa durona mulher, vítima de circunstâncias que antecedem a despedida repentina de Angela, e que extravasa o sofrimento à sua maneira. Violentamente, Frances arrebata nossos corações, com olhos que imprimem a determinação que apenas uma mãe teria, em uma atuação que expira pelos poros. Sua linguagem corporal dita o ritmo da trama, que segue seus movimentos habilmente e flagra suas profundas lágrimas, suas rápidas explosões de dor em falas angustiantes. Mas ela não está sozinha.

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O direto ao sofrimento é o grande viés do incrível roteiro assinado por McDonagh. Gradativamente conhecemos Dixon (Sam Rockwell), um policial politicamente incorreto digno de repulsa. Incontrito, ele possui uma reputação repugnante que quase o entrega à audiência. Mas suas motivações e intenções são a superfície de uma fragilidade mascarada. Sua violência desmedida é o escape da perda. A dor de quem também é fruto de seu meio, de seu seio familiar e de suas circunstâncias. Alguém que nos fez capaz de transformar o sentimento de repulsa inerente ao seu personagem em compaixão. Alguém que nasceu na melhor atuação de Sam Rockwell.

Adversários em virtude das coisas da vida, Mildred e Dixon se cruzam de maneira inusitada. E tal como nos surpreendemos diante da imprevisibilidade dos fatos, nos apaixonamos pela dinâmica McDormand-Rockwell. Com suas particularidades e tristezas que se completam, suas histórias se mesclam através de uma terceira e repentina perda. A espécie de “Ode à Dor” cresce vertiginosamente a partir do grau de sensibilidade emocional de seus personagens. Suas inconstâncias imersas na espiral em que vivem ditam as consequências da narrativa. Seus atos frutos desta experiência sensorial de ser quem são tecem o clímax da produção, que é inesperado e maravilhosamente ideal.

Com uma fotografia e direção belíssimas que exploram bem cada uma dessas caricatas figuras, ‘Três Anúncios Para um Crime’ é um conto peculiar sobre o aftermath, aquele instante que sucede a súbita dor da tragédia revelada. Peculiar pelo pontual toque de humor negro que emerge nos momentos mais estratégicos, ele nos leva para dentro dessa odisseia humana, que vive neste ciclo onde a dor, a ira e o contentamento tentam se encontrar, em uma estrada empoeirada e esquecida, onde apenas o perdão pessoal poderia torná-la novamente transitável. Que venham as estatuetas do Oscar, amém.

 

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Martin McDonagh possui um currículo pequeno e um Oscar na estante. Premiado em 2006 por seu curta-metragem ‘Six Shooter’, ele volta aos holofotes com um drama capaz de trazer fragmentos do humor e o delírio da ação inusitada a uma história de doer a alma. Com Frances McDormand genuinamente como a amamos – sem papas na língua, a trama acompanha a “impertinência” de uma mãe que lida com os latentes questionamentos sobre os responsáveis pela trágica morte de sua filha adolescente.

Em seu caminho, Mildred (McDormand) trava um conflito duro com a polícia da pequena cidade de Ebbing. Aparentemente pacata, ela se reconfigura drasticamente a partir da ira dessa durona mulher, vítima de circunstâncias que antecedem a despedida repentina de Angela, e que extravasa o sofrimento à sua maneira. Violentamente, Frances arrebata nossos corações, com olhos que imprimem a determinação que apenas uma mãe teria, em uma atuação que expira pelos poros. Sua linguagem corporal dita o ritmo da trama, que segue seus movimentos habilmente e flagra suas profundas lágrimas, suas rápidas explosões de dor em falas angustiantes. Mas ela não está sozinha.

O direto ao sofrimento é o grande viés do incrível roteiro assinado por McDonagh. Gradativamente conhecemos Dixon (Sam Rockwell), um policial politicamente incorreto digno de repulsa. Incontrito, ele possui uma reputação repugnante que quase o entrega à audiência. Mas suas motivações e intenções são a superfície de uma fragilidade mascarada. Sua violência desmedida é o escape da perda. A dor de quem também é fruto de seu meio, de seu seio familiar e de suas circunstâncias. Alguém que nos fez capaz de transformar o sentimento de repulsa inerente ao seu personagem em compaixão. Alguém que nasceu na melhor atuação de Sam Rockwell.

Adversários em virtude das coisas da vida, Mildred e Dixon se cruzam de maneira inusitada. E tal como nos surpreendemos diante da imprevisibilidade dos fatos, nos apaixonamos pela dinâmica McDormand-Rockwell. Com suas particularidades e tristezas que se completam, suas histórias se mesclam através de uma terceira e repentina perda. A espécie de “Ode à Dor” cresce vertiginosamente a partir do grau de sensibilidade emocional de seus personagens. Suas inconstâncias imersas na espiral em que vivem ditam as consequências da narrativa. Seus atos frutos desta experiência sensorial de ser quem são tecem o clímax da produção, que é inesperado e maravilhosamente ideal.

Com uma fotografia e direção belíssimas que exploram bem cada uma dessas caricatas figuras, ‘Três Anúncios Para um Crime’ é um conto peculiar sobre o aftermath, aquele instante que sucede a súbita dor da tragédia revelada. Peculiar pelo pontual toque de humor negro que emerge nos momentos mais estratégicos, ele nos leva para dentro dessa odisseia humana, que vive neste ciclo onde a dor, a ira e o contentamento tentam se encontrar, em uma estrada empoeirada e esquecida, onde apenas o perdão pessoal poderia torná-la novamente transitável. Que venham as estatuetas do Oscar, amém.

 

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