Desde o anúncio dos indicados ao Oscar 2023, no dia 24 de janeiro, começamos a fazer nossas apostas para a 95ª cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, realizada neste domingo, dia 12 de março.
A disputa de Melhor Filme do Ano está entre 10 candidatos, os quais vamos listar do pior ao melhor de acordo com as considerações da redatora deste artigo. Ou seja, esta lista não é um termômetro do Oscar, pelo contrário, é um convite à elaboração de seus próprios rankings e uma reflexão do porquê estas obras merecem representar um ano inteiro de produções ao redor do mundo.
Vale destacar de antemão que não concordo com o resultado do Oscar 2022, no qual o ganhador de Melhor Filme foi — o já esquecido — CODA – No Ritmo do Coração no lugar do ótimo Ataque dos Cães, de Jane Campion. O mérito da obra era trazer representatividade para pessoas surdas, mas com um plot dramático e atuações medianas. A produção original francesa A família Bélier (2014), por exemplo, é mais emotiva e sensível.
Listas são listas, isto é, recomendações. Vamos as minhas considerações, após assistir os 10 nomeados à categoria de Melhor Filme:
10) Tár
Por que Tár começa no fundo desta lista? Apesar da interpretação grandiosa de Cate Blanchett, comparada à sua maravilhosa performance em Blue Jasmine (2013), Tàr é um filme difícil. Com uma cena de abertura que descreve o currículo excepcional de uma maestro e seu próximo desafio, o enredo é o desmoronamento pedacinho por pedacinho dessa proeminente figura.
Para uns, pode ser saboroso esta queda, para outros, tudo parece melindrado para provocar o tombo. Com uma edição agitada a fim de provocar dinamismo, Tár é confuso e, sendo um filme de uma só personagem, se você não gosta dela, o espetáculo acaba.
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09) Entre Mulheres
Sarah Polley é uma diretora bárbara. Ela realizou as obras de arte Longe Dela (2008) e Entre o Amor e a Paixão (2011). Por outro lado, Entre Mulheres é uma enorme peça teatral com alguns momentos de terror, representando os abusos sexuais e psicológicos sofridos por mulheres de uma colônia religiosa isolada.
Dentro de um estábulo, em 48 horas, elas têm a iminência de decidir o rumo de suas vidas após uma atordoante descoberta. As discussões são difíceis, por vezes, fazem círculos e não chegam a uma resolução. A partir dessa comunidade, Sarah Polley questiona os papéis de gênero na sociedade. Apesar de extremamente necessária, a proposição é maçante. Além do Oscar de Melhor Filme, a obra concorre a roteiro adaptado. Com um texto ainda bastante calcado na linguagem teatral, o filme perde vigor e não constrói pontes entre personagens e espectadores.
08) Avatar: O Caminho da Água
James Cameron prometeu um espetáculo visual e entregou. O enredo, entretanto, tal como a primeira aventura de 2009 deixa a desejar. Por outro lado, são inebriantes as cenas embaixo d’água e a expansão do território dos povos Na’vi. A necessidade de um vilão para servir de obstáculo à vida no local paradisíaco, no entanto, é caricaturesca e distante das motivações iniciais.
Como em 2010, Avatar: O Caminho da Água deve levar os três prêmios técnicos dentre as quatro categorias participantes, no entanto, não tem fôlego dramático para desbancar outras produções mais contundentes à nossa razão e emoção.
07) Elvis
Com a assinatura exagerada e exacerbada de Baz Luhrmann, Elvis pode dar nó na cabeça dos espectadores. Todavia, o rei imortal Elvis Presley é um assunto vibrante da cultura pop e o diretor australiano soube trazer essa exuberância em cena apesar do personagem “vilanesco” de desenhos animais do Coronel Tom Parker (Tom Hanks). Com oito nomeações, a produção tem chances de brilhar mesmo sem o maior prêmio da noite.
Vale sublinhar que o jovem ator Austin Butler incorporou gingado, olhar e sorriso sedutores do rei do Rock. Apenas estes detalhes fazem de Elvis uma tremenda biopic. Admirável como produção e um bom filme para apresentar Elvis às próximas gerações.
06) Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Com 11 indicações, a mistura de drama, aventura, comédia, sci-fi, artes marciais etc de Daniel Kwan & Daniel Scheinert é o favorito da noite do dia 12 de março. Tornando-se assim, a primeira produção da A24 com chances reais a um Oscar. Com produções escolhidas a dedo, a produtora independente tem sempre focado em filmes fora da caixinha.
Aqui, a ousadia é representada pela ponte com os filmes de super-heróis e a ideia do multiverso no nosso imaginário social. Todos esses elementos de blockbusters são reunidos pelos roteiristas para contar um drama familiar com os talentosos Michelle Yeoh, Stephanie Hsu e Ke Huy Quan. Ousar na forma de contar histórias milenares pode garantir um Oscar? Veremos!
05) Os Banshees de Inisherin
Após o ótimo Na Mira do Chefe (2008), Martin McDonagh, Colin Farrell e Brendan Gleeson se reúnem mais uma vez para nos entregar mais uma comédia de humor negro. Ao contrário do título precedente, Os Banshees de Inisherin possui um tom dramático, mesclado com nonsense e atuações inspiradoras não somente mais dos protagonistas, mas também dos coadjuvantes Kerry Condon e Barry Keoghan, ambos nomeados ao Oscar.
Com cenas e diálogos memoráveis, Os Banshees de Inisherin é um daqueles filmes os quais queremos assistir mais de uma vez só para ter certeza de que a gente entendeu bem a mensagem enquanto nos deleitamos com as belas cenas e o sorriso frouxo no rosto.
04) Nada de Novo no Front
Lançado pela Netflix, a adaptação alemã do romance de Erich Maria Remarque de 1929 sobre os embates da Segunda Guerra Mundial traz como novidade a perspectiva da história contada pelos derrotados. Com direção de Edward Berger, esta é a primeira vez que a história ganha uma versão audiovisual alemã. Por meio do personagem Paul Bäumer (Félix Kammerer), sentimos o ímpeto da euforia dos jovens patriotas até o desalento de lutar em uma batalha já perdida.
Os momentos finais do filme são dilacerantes. A mistura do campo de batalha com os desenvolvimentos políticos intensifica nosso olhar de desamparo sobre os soldados, isto é, vidas sendo movidas como pecinhas de um tabuleiro. É o favorito para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
03) Triângulo da Tristeza
Ganhador da Palma de Ouro em Cannes 2022, a tragicomédia de Ruben Östlund tem o poder de despertar paixões positivas e negativas. Como uma imponente obra de arte, Triângulo da Tristeza não permite pacificidade diante da sua proposta. Só este detalhe já faz o longa ser disparado um dos melhores entre as narrativas na disputa.
À sua maneira debochada e tempestiva, o cineasta sueco apresenta uma crítica social humorada e ao mesmo tempo mordaz sobre a luta de classe do século XIX. Ame ou odeie, mas seja impactado.
02) Top Gun: Maverick
Segundo blockbuster do ano na lista, o filme de Tom Cruise tem uma edição fora do habitual e, por isso, ganha a segunda posição nesta lista. Em um reino de CGI, isto é, imagens geradas por computador, uma produção garantir cenas reais de tirar o fôlego é de fazer reverência.
Em meio a homenagem a Val Kilmer e lealdade aos personagens criados 30 anos atrás, Top Gun: Maverick produz seu próprio brio ao mostrar como a disputa intensifica o treino, mas é a união que traz a vitória. Acima de tudo, aviões de caça fazendo acrobacias são sempre um espetáculo, mesmo que seja para enaltecer a força aérea militar estadunidense.
01) Os Fabelmans
Com dois Oscar de Melhor Direção no bolso, Steven Spielberg não deve nada a ninguém. Após a refilmagem de Amor, Sublime Amor (2021), o cineasta volta às suas origens e reconta o início da sua paixão pelo cinema, permeada de drama familiar e seus primeiros passos no manuseamento de câmeras.
Como um elenco vibrante, Spielberg nos coloca nos anos 1950 e na mente de um aficionado em registrar belas imagens e torná-las eternas. Por todos os mínimos detalhes de amor à sétima arte e as pequenas sugestões do poder das imagens, além da brincadeira no último minuto do filme, Os Fabelmans é uma deliciosa odisseia aos olhos cinéfilos e, de longe, um dos melhores sobre a arte de fazer cinema.