sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Elvis – Austin Butler BRILHA na frenética cinebiografia de Baz Luhrmann

Elvis Presley é uma das grandes lendas da música e um dos principais nomes por trás da popularização do rock ‘n’ roll a partir dos anos 1950. Considerado um dos principais ícones da cultura mundial, Elvis atravessou gerações e tornou-se símbolo do show business por suas performances sensuais e seus movimentos frenéticos – algo que, à época de sua ascensão, era visto com maus olhos pela parcela mais conservadora da sociedade. Além disso, Presley tinha profundo respeito pela cultura afro-americana e incorporava diversos elementos imortalizados por B.B. King, Little Richard e Loretta Sharpe, como o blues e o jazz, a um estilo que viria a dominar o planeta.

Pensando em todo o legado que Elvis deixou (motivo pelo qual seu nome é familiar até mesmo à nova geração), era apenas questão de tempo que sua conturbada e intricada vida fosse levada às telonas – e que o icônico cineasta Baz Luhrmann ficaria responsável pela cinebiografia. E foi assim que nasceu ‘Elvis’, uma carta de amor frenética e recheada de brilho e cor que, apesar da extensa duração e dos claros problemas estruturais, ainda consegue nos emocionar principalmente por uma performance estelar de Austin Butler no papel titular e por Tom Hanks numa irreconhecível rendição como o Coronel Tom Parker, sinistro empresário que descobriu o Rei do Rock.

É notável como as engrenagens do longa-metragem são arquitetadas com meticuloso carinho por Luhrmann, que se consagra como um dos principais autores da contemporaneidade. Afinal, o diretor, roteirista e musicista sempre teve uma afeição por transformar o óbvio em um espetáculo visual, regado a glamour e a pulsões artísticas, pegando as fórmulas do gênero e transmutando-as em uma investida pós-moderna que é amada ou odiada pelo público. ‘Elvis’ nutre de diversas similaridades com obras predecessoras do diretor, como a romântica predileção de ‘Moulin Rouge!’ para discorrer sobre aspectos pontuais da vida de Presley, ou a modernização contundente de ‘Romeu + Julieta’ para a emergência de uma Las Vegas que mais parece um mundo fantasioso e perigoso. Porém, não podemos desviar os olhos pelo íntimo problema rítmico que se espalha pela produção – em que as quase três horas galopam em frenesi incontrolável e exaurem o público logo no primeiro ato.

Luhrmann resolve desviar de alguns convencionalismos do gênero retratado e transfere a perspectiva para o Coronel Parker: para vivê-lo, Hanks foi engolfado em um traje que o deixou o mais próximo possível da figura real, pintando-o com um sotaque característico e escondendo os segredos através de uma capacidade de manipulação sólida e obscura, premeditando os trágicos eventos que se sucederiam. Como é de se esperar, Hanks faz um bom trabalho como Tom, mas é ofuscado, por incrível que pareça, por Butler como o protagonista – uma tour-de-force aplaudível e de tirar o fôlego.

Conheci Butler pela primeira vez quando tinha dez ou onze anos, vendo-o em séries como ‘Manual de Sobrevivência Escolar do Ned’ e ‘Zoey 101’ – e observá-lo fazer essa transição gritante para o papel definidor de sua carreira é emocionante em todos os aspectos. O ator de apenas trinta anos absorve cada um dos trejeitos de Elvis, desde os ousados movimentos com o quadril até a peculiar tecedura vocal do performer. Mais do que isso, é perceptível como ele se diverte com as nuances de Presley e converte-se em um astro da música, sabendo exatamente o que fazer quando em cima do palco e quando longe dos holofotes, transbordando por uma melancolia destrutiva que tiraria sua vida muito cedo. As cenas de sua decadência e de seu surto psicótico contra Parker, inclusive, são as mais profundas do filme e revelam uma triste realidade dos maiores ícones da indústria do entretenimento.

Além dos deslizes de ritmo, o principal obstáculo enfrentado pela consagração completa da produção é, surpreendentemente, a falta de coesão visual. Para aqueles familiarizados com a estética de Luhrmann, é admirável sua preocupação com a sinestesia imagética e seu célebre e intrincado jogo de luzes, cores e enquadramentos – o supracitado ‘Moulin Rouge!’, por exemplo, nos encanta por esses aspectos tratados com cuidado e com uma contraposta necessidade de causar algo no público. Aqui, o cineasta almeja a algo similar, mas não consegue cumprir com o objetivo, fragmentando as cansativas mudanças de cenário em pequenas peças fílmicas que são aglutinadas com pressa e apenas com a missão de dar continuidade até os créditos finais aparecerem em tela. Dessa maneira, Luhrmann recorre a Elliott Wheeler para transparecer a dramaticidade através do pedantismo de uma trilha sonora nada inspirada.

Não deixe de assistir:

‘Elvis’ parece destinado apenas aos fãs de uma das maiores celebridades de todos os tempos, mas ainda assim nos entrega uma divertida aventura. Butler é o principal astro dessa vibrante jornada e entrega uma atuação esplendorosa, que merece ser reconhecida na próxima temporada de premiações. Ademais, mesmo tropeçando no meio do caminho, o filme é aprazível e faz o melhor que pode dentro de seus próprios limites.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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