terça-feira, abril 23, 2024

Opinião | Precisamos nos desculpar com a DreamWorks

Na última semana, O Caminha Para El Dorado completou 20 anos de lançamento e revi o filme para poder fazer a matéria sobre o aniversário. Ao assistir à animação, reparei em alguns elementos que hoje em dia fazem muito sucesso, mas que foram motivo de críticas negativas no passado. Isso me deixou curioso e me instigou a ver se era um caso isolado ou se a DreamWorks realmente passou por uma década de incompreensão e críticas injustas. Minha conclusão foi que sim, fomos injustos.

Fazendo sua estreia nos cinemas em 1998, a DreamWorks Animations foi fundada por Steven Spielberg e já chegou com os dois pés na porta, lançando FormiguinhaZ, uma animação 3D estrelada por Woody Allen. O filme sofreu com comparações a Vida de Inseto, lançado pela Pixar no mesmo ano. No entanto, apesar de abordarem o mundo das formigas, as tramas eram diferentes. Enquanto o filme da Pixar abordava a luta de classes de uma maneira fofa, o da DreamWorks trazia um humor cheio de referências adultas dentro de uma trama anti-militarismo. Ou seja, ambos os filmes eram ridiculamente criativos, mas deles saiu em vantagem.

Fato é que essa estreia já mostrou que a DreamWorks Animations não ia se contentar com as tramas formulaicas que a Disney adotava para a franquia das princesas, por exemplo. Então, cabia à DreamWorks tentar rivalizar com histórias criativas e que pudessem entreter os pequenos sem aborrecer os adultos. Logo, os filmes seguintes trariam inovações não apenas narrativas, mas visuais também. Só que, para fazer caixa, eles precisaram lançar algo mais tradicional, e assim surgiu O Príncipe do Egito, também lançado em 1998, que voltou a usar a animação 2D para adaptar uma história bíblica de forma bela e sem parecer um sermão teológico. O filme conquistou uma ótima bilheteria e se firmou como o primeiro grande sucesso do estúdio.

Porém, foi nos anos 2000 que a DreamWorks se consolidou como uma gigante da indústria. Com ideias subversivas e um compromisso com o inesperado, eles passaram a lançar filmes animados de todos os formatos possíveis. Então, tivemos longas em Stop-Motion, em 2D e 3D, sem seguirem uma premissa padrão. A única coisa que eles tinham em comum era o alívio cômico. Dessa forma, tivemos O Caminho Para El Dorado, que foi a primeira animação ambientada na América Latina sem viés ideológico, como os filmes lançados pela Disney nos anos 1940. A Fuga das Galinhas, que trazia uma analogia crítica aos campos de concentração e ao totalitarismo; Shrek, o maior fenômeno do estúdio, que subvertia todos os clássicos dos contos de fadas constantemente adaptados pela Disney.

Isso sem falar em Spirit: O Corcel Indomável, que, para mim, é a animação mais subestimada da história. Afinal, o filme é praticamente mudo, mistura animação 2D e 3D de forma ridiculamente competente, tem uma trama madura, uma trilha sonora ABSURDA de boa, personagens carismáticos e uma direção incrível – não é fácil guiar uma trama praticamente com expressões faciais e as letras das músicas. E mesmo com tudo isso, quase não se ouve falar dele.

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Os anos seguintes trouxeram mais ousadia, como O Espanta Tubarões, que nada mais é que um filme de máfia no fundo do mar; Madagascar, uma paródia dos filmes de bichos da Disney, que trouxe personagens hilários e memoráveis; Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais e Por Água Abaixo, animações em Stop-Motion que ficaram marcadas pelas homenagens ao cinema e ao humor britânico; Além, claro, das sequências de seus sucessos, como Shrek 2 e Madagascar 2, e Bee Movie: A História de Uma Abelha, que foi redescoberto pela internet recentemente e ganhou um status quase de filme cult.

Os anos 2010 marcaram uma nova fase do estúdio, que agora só fazia filmes em 3D, seguindo a tendência do mercado, o que acabou perdendo um pouco do charme. Coincidiu também com uma grave crise financeira que começou a se instalar na DreamWorks, que chegaria até a abrir processo de falência. Mas ainda assim, mesmo com todos esses problemas, o estúdio conseguiu emplacar sequências e nada menos que a melhor trilogia animada da década: a franquia Como Treinar Seu Dragão.

Até agora só falamos dos filmes em si, mas há um ponto que precisa ser falado quando o assunto é DreamWorks: Diversidade. Desde o início, o estúdio não se omitiu de ter protagonistas de diferentes etnias, como em O Príncipe do Egito e Spirit: O Corcel Indomável, que não mostram os personagens como caucasianos, mas sim como egípcios e nativo-americanos. Também ousou ao trazer personagens femininas fortes e fora dos padrões estéticos, como a Fiona e a Glória, de Shrek e Madagascar, respectivamente, e personagens masculinos que fogem do estereótipo do herói fortão, como em Kung Fu Panda e Megamente. O Soluço, protagonista de Como Treinar Seu Dragão, é deficiente físico. O exemplo mais recente de representatividade foi em Cada Um Na Sua Casa (2015), que traz Tip (Rihanna), uma menina negra, como a protagonista.

Ao longo dos anos, a DreamWorks sofreu muito com as comparações com as produções da Disney e da Pixar, mas ainda assim não se acovardou e seguiu trazendo suas ideias originais, subversivas e diversificadas para encantar gerações com seu humor característico, que foi por muitos anos criticado, mas que acabou sendo muito elogiado quando a concorrência passou a adotar em seus filmes. Enfim, a DreamWorks Animations, que foi salva da falência pela Universal Studios, é um estúdio fantástico que merece bastante reconhecimento e admiração. Por isso, desculpa, DreamWorks, nós te subestimamos.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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