Depois da Palma de Ouro de Justine Triet por Anatomia de Uma Queda (2023) — ganhador do Oscar de Melhor Roteiro —, além dos nomeados ao prêmio de Hollywood, A Zona de Interesse e Os Assassinos da Lua das Flores, a 77ª edição do Festival de Cannes promete mais obras prestigiosas de grandes diretores, nomes promissores e intrigantes filmes de gênero.
Há dois dias da abertura, no dia 14 de maio, o CinePOP apresenta os 10 filmes mais aguardados deste ano. Como toda lista, a nossa mistura expectativas pessoais e análise do que os cineastas e artistas mostraram anteriormente na indústria. Embora a Competição Oficial tenha 22 obras — e apenas quatro diretoras mulheres —, outras seções apresentam títulos igualmente instigantes. Vamos a eles!
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Motel Destino
Esta é a sexta participação de Karim Aïnouz no Festival de Cannes. Desde a seleção de Madame Satã, na mostra Um Certo Olhar, em 2002, o cineasta cearense já apresentou Firebrand (2023), Marinheiro das Montanhas (2021), A Vida Invisível (2019) — prêmio de Melhor Filme em Um Certo Olhar — e Praia do Futuro (2014).
Em Motel Destino, Aïnouz volta às origens num thriller erótico sobre o motel titular à beira da estrada, dirigido pelo bruto Elias (Fábio Assunção) e pela esposa frustrada Dayana (Nataly Rocha). A chegada de um homem misterioso fugitivo da polícia (Iago Xavier) perturba a rotina constante dos negócios da pequena cidade e dá início à teia de desejo e poder. Ou seja, uma promessa intrigante de “filme noir” e “pornochanchada”, como relatou o próprio diretor, além da chance de Palma de Ouro para o Brasil.
Megalópolis
Projeto ambicioso e de longa data de Francis Ford Coppola, Megalópolis verá finalmente a luz do dia após dificuldades de financiamento e custeado com recursos próprios do cineasta a partir dos seus vinhedos — cerca de 120 milhões de dólares, segundo The Hollywood Reporter. Além dos bastidores de produção, Megalópolis é intrigante por conta do seu grande elenco estelar, o qual inclui como protagonista Adam Driver, Forest Whitaker, Jon Voight, Giancarlo Esposito, Aubrey Plaza, Dustin Hoffman e Shia LaBeouf.
Megalópolis narra o duelo entre um arquiteto utópico e o prefeito de Nova York, que discordam sobre a reconstrução ideal desta cidade devastada por uma catástrofe. Planejadas desde a década de 1980, as filmagens finalmente começaram em 2022 e até agora temos apenas um teaser e uma imagem em tons futuristas do filme. Aos 84 anos, Coppola pode obter uma histórica terceira Palma de Ouro, após as vitórias com A Conversação (1974) e Apocalypse Now (1979).
Bird
Seis dos sete filmes de Andrea Arnold foram exibidos em Cannes, portanto, Bird é um forte concorrente à Palma de Ouro e tem como chamariz a presença de Barry Keoghan, duas vezes indicado ao Oscar. Após ter viralizado nas redes sociais completamente nu na cena final de Saltburn (2023), o ator irlandês aparece agora com o torso coberto de tatuagens, uma boina francesa e um cordão de ouro à la rapper.
Conhecida por explorar temáticas sociais de personagens de baixa renda, a diretora de 63 anos trata suas obras de realismo social de forma nua e crua. Bird parece percorrer este mesmo caminho. Em sua sinopse, a obra apresenta Bailey (Nykiya Adams), de 12 anos, que mora com seu irmão Hunter (Jason Buda) e seu pai Bug (Barry Keoghan). O pai os criou sozinho em uma ocupação no norte de Kent, condado situado no sudeste da Inglaterra. Ao se aproximar da puberdade, Bayle busca atenção e aventura em outro lugar.
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O Aprendiz
Em 2018, o iraniano Ali Abbasi encantou o público em Cannes com o realismo fantástico de Border, apresentado na seção Um Certo Olhar. Depois de seis anos, o cineasta faz a ousada proposta de contar a trajetória de uma das figuras mais controversas da atualidade dos Estados Unidos. Ambientado nos anos 1970, O Aprendiz é uma sobre um pupilo e o seu mentor numa trama de poder, ambição e corrupção.
A cinebiografia promete mostrar como o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong, da série Succession) influenciou o jovem empresário imobiliário Donald Trump, vivido por Sebastian Stan. Conhecido do grande público como o personagem Soldado Invernal dos filmes da Marvel, Stan ganhou no início do ano o Urso de Prata de Melhor Interpretação em Papel Principal no Festival de Berlim, pelo filme A Different Man. Quem sabe ele nos surpreenda ainda mais? Somente a caracterização do ator nas fotos de divulgação já chama a nossa atenção.
A Substância
Tal como o ganhador da Palma de Ouro 2021, Titane, de Julia Ducournau, A Substância (The Substance) é um dos poucos filmes de gênero na mostra competitiva. Assumidamente gore e sangrento, o terror corporal de Coralie Fargeat promete entreter e instigar assim como sua primeira obra Vingança (2017), sobre abuso e retaliação.
Em seu teaser de apresentação, A Substância nos provoca como uma propaganda: “Você já sonhou com uma versão melhor de si mesmo(a)? Com A Substância, você pode gerar outra versão de você, mais jovem, mais bonita, mais perfeita… Fácil, não é? Se você seguir as instruções, o que pode dar errado?” O filme é protagonizado por Demi Moore (Feud) e Margaret Qualley (Pobres Criaturas).
O Surfista (The Surfer)
Este filme junta um dos atores mais icônicos de Hollywood, Nicolas Cage, a um criativo atordoador cineasta, Lorcan Finnegan. Apenas esses dois nomes são razões suficientes para acreditar que O Sufista tem um conteúdo singular, vide alguns dos últimos trabalhos de cada um deles: O Homem dos Sonhos (2023) e Vivarium (2020), respectivamente.
Em O Surfusta, Nicolas Cage interpreta um homem que retorna à sua cidade natal, localizada à beira-mar, na Austrália. Só que quando é humilhado na frente do filho por um grupo de surfistas locais, ele perde o controle. Apesar dos ferimentos, ele decide ficar na praia e declara guerra aos seus opressores. Ou seja, promessa de loucura e desforra na Sessão da Meia-Noite.
Lula
Ganhador de três Oscar, Oliver Stone dispensa apresentações. Ao lado do produtor Robert S. Wilson, o cineasta estadunidense constrói um retrato íntimo e evocativo de uma das figuras políticas mais influentes e populares do mundo: o atual presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. Dessa forma, temos duas figuras políticas e polêmicas nesta lista com expectativas de embates de pontos de vista.
O documentário Lula explora a ascensão, queda e retorno triunfante do presidente nas eleições de 2022. Beneficiando-se de um acesso privilegiado sem precedentes a Lula e seus assessores mais próximos, Oliver Stone lança luz sobre a personalidade do carismático líder político durante uma série de entrevistas (sem filtros) e revela o lado de obscuro da operação anticorrupção “Lava Jato”, com a ajuda do jornalista investigativo Luke Harding, cujas revelações levaram à libertação de Lula.
Tipos de Bondade (Kinds Of Kindness)
Após ganhar o prestigioso Leão de Ouro no Festival de Veneza com o polêmico Pobres Criaturas no ano passado, Yorgos Lanthimos volta a concorrer à Palma de Ouro com Tipos de Bondade (Kinds Of Kindness). Esta é a sua terceira participação na competição oficial de Cannes depois de O Lagosta, vencedor do Prêmio do Júri 2015, e O Sacrifício do Cervo Sagrado, Prêmio de Roteiro 2017, além de sua obra-prima Canino, na selecionada na mostra Um Certo Olhar em 2009.
Com uma filmografia como esta é impossível ser indiferente a qualquer projeto do cineasta grego. Kinds Of Kindness é uma fábula tríptica que segue: um homem sem escolhas que tenta assumir o controle de sua própria vida; um policial preocupado porque sua esposa desaparecida voltou e parece outra pessoa; e uma mulher determinada a encontrar uma pessoa específica com um poder especial, destinada a se tornar uma líder espiritual prodigiosa. Além disso, o filme é protagonizado por Emma Stone, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Jesse Plemons e Joe Alwyn.
Os Sudários (The Shrouds)
Considerado como um filme mais pessoal de David Cronenberg, Os Sudários (The Shrouds) seria um modo do cineasta canadense de exorcizar a morte da sua esposa, Carolyn, falecida em 2019 por conta de uma doença. Em competição pela Palma de Ouro, em 2022, com Crimes do Futuro, David Cronenberg sempre nos convida a uma viagem introspectiva da nossa essência com um pé no gênero fantástico e outro na sci-fi, estabelecendo assim um visceral terror.
Protagonizado por Vincent Cassel e Diane Kruger, o enredo segue o renomado empresário de 50 anos, Karsh. Inconsolável desde a morte de sua esposa, ele inventa um sistema revolucionário e polêmico: o GraveTech. O programa permite aos vivos se conectarem com seus entes queridos em suas mortalhas. Uma noite, vários túmulos, incluindo o de sua esposa, são vandalizados. Karsh, então, sai em busca dos culpados. Ou seja, mais um filme de gênero e narrativa de vingança .
Os Rumores (Rumours)
Dada a sua sinopse, Os Rumores (Rumours) já parece um pouco insensato. A narrativa é descrita assim: em uma reunião do G7, os sete líderes das democracias liberais mais ricas do mundo perdem-se numa floresta à noite enquanto tentam redigir uma declaração sobre uma crise global. A ideia é provocativa e bastante atual com as discussões climáticas.
Dirigido a seis mãos, por Guy Maddin, Evan Johnson e Galen Johnson, Os Rumores mergulha em um universo surreal que mistura política com humor francamente absurdo. As primeiras imagens revelam uma atmosfera onírica e muito colorida, indo do roxo ao laranja ardente. O elenco é composto por Cate Blanchett (Tár), Alicia Vikander (Firebrand) e Denis Ménochet (Beau Tem Medo), este no papel do presidente francês.
Menções Especiais
C’est Pas Moi (Não Sou Eu), de Leos Carax
Inventivo e atrevido na sua criação cinematográfica, Leos Carax apresenta um projeto de apenas 40 minutos sobre seus mais de 40 anos de filmografia de forma livre, experimental e, também, política, além de sua longa parceria de sete filmes com o ator Denis Lavant.
Após os marcantes Os Amantes de Pont-Neuf (1991) e Holy Motors (2012), o cineasta francês esteve na competição de Cannes em 2021 com o extravagante e trágico Annette. Mesmo se o musical com Marion Cotillard e Adam Driver não tenha agradado tanto a crítica — 71% no Rotten Tomatoes (RT) —, suas obras são sempre instigantes, seja para o bem ou para o mal.
Baby, de Marcelo Caetano
Com seu segundo longa-metragem, sete anos após o elogiado Corpo Elétrico — com aprovação de 80% no RT —, Marcelo Caetano está entre os sete filmes em competição na Semana da Crítica e disputa a Palma Queer este ano. O filme apresenta uma sinopse envolvente e dá destaque a personagens LGBTQIA +.
Baby narra a trajetória de Wellington (João Pedro Mariano) logo após ser liberado de um centro de detenção para jovens. Sem rumo, ele vê-se à deriva nas ruas de São Paulo. Durante uma visita a um cinema pornô, o rapaz conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa, que lhe ensina novas formas de sobreviver. Aos poucos, a relação dos dois se transforma em uma paixão cheia de conflitos, entre a exploração e a proteção, o ciúme e a cumplicidade.
Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
Assim como Mad Max: Fúria em Duas Rodas lançado em Cannes em 2015, Furiosa: Uma Saga Mad Max é o grande blockbuster desta edição. A tradição segue os passos da apresentação de um grande filme de estúdio estadunidense com lançamento próximo nas salas de cinema, como Top Gun: Maverick, em 2022, e Indiana Jones e a Relíquia do Destino, em 2023. Uma semana depois do elenco subir os degraus do tapete vermelho, o quinto filme da franquia de George Miller estará nos cinemas dos EUA e do Brasil.
Após fracasso de bilheterias Era uma Vez um Gênio (2022) — arrecadou apenas US$ 20 milhões no mundo e custou por volta de US$ 60 milhões, de acordo com Box Office Mojo —, o diretor de 79 anos volta a sua fórmula vencedora de ação, ficção-científica e combate com a previsão de nomeações ao Oscar e grande público nos cinemas. O elenco formado por Anya Taylor-Joy e Chris Hemsworth promete destacar-se na Croisette.