domingo, abril 28, 2024

Artigo | Como o remake de ‘Onze Homens e um Segredo’ se tornou um dos melhores filmes de roubo do século

Quem não gosta de um bom crime? Se pudermos colocar numa escala de preferência, é bem provável que o gênero em questão perca apenas para a comédia ou a comédia pastelão. Nem mesmo dramas sofisticados ou aventuras mirabolantes conseguem tirar a magia de uma narrativa criminal – isso porque o terreno é muito fértil e dá margens para inúmeras saídas muito inteligentes, tudo perscrutado por boas doses de humor, críticas ácidas, sarcasmo puro e o que mais conseguirmos pensar. Quando Steven Soderbergh anunciou em 2001 que faria um remake do clássico Onze Homens e um Segredo’, certamente causou uma comoção considerável, visto que o longa-metragem de 1960 foi um fracasso de crítica – então de onde ele poderia tirar proveito de uma história desatualizada e que não poderia cair nas mesmas ruínas de antes?

Felizmente Soderbergh tem uma mão muito talentosa – não é surpresa que tenha feito Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento’ no ano anterior. Seu nome estava apenas sendo escrito na gigantesca indústria do entretenimento, e com certeza este filme em questão ajudou a popularizá-lo ainda mais. A simples história de décadas atrás transformou-se em um mergulho agradabilíssimo e satisfatório que trouxe como pano de fundo o roubo a alguns dos cassinos mais famosos de Las Vegas pelas mãos do inteligente e perspicaz Danny Ocean (a sempre bem-vinda presença de George Clooney nas telonas).

Danny, tendo acabado de cumprir seu tempo na prisão, vive em condicional e não espera nenhum minuto sequer para voltar à vida como golpista. Durante sua sentença, o charmoso ladrão arquitetou o improvável plano de assaltar cofres dos fabulosos MGM Grand, Mirage e Bellagio – uma quantia de mais de 150 milhões de dólares – e assim mergulhar em um luxo quase eterno. Para isso, ele recorre a um conhecido colega de golpes chamado Rusty Ryan (Brad Pitt) e, juntos, eles recrutam mais nove membros para uma operação tão perigosa quanto enaltecedora.

Apenas citando estes dois grandes nomes do cinema, podemos prever que o longa será recheado com um elenco mais que predisposto a entregar performances aplaudíveis. Clooney e Pitt não apenas trazem o carisma usual para a cena, mas também encarnam protagonistas tão bem delineados que fica difícil não se apaixonar pelos rápidos diálogos que criam entre si e pelo arco do qual se valem com tanto afinco. Isso sem falar nos coadjuvantes que, apesar de parecerem descartáveis a priori, na verdade têm muito a oferecer para a continuidade da obra. Em suma, cada um deles funciona como uma imprescindível peça de um quebra-cabeça bem elaborado – e caso um falhe, a chance do plano se tornar um desastre épico aumenta exponencialmente.

Ainda que funcionem como anti-heróis, é fácil descobrir quem é o real antagonista da história. Andy Garcia faz um trabalho espetacular dando vida a Terry Benedict, magnata responsável pela administração dos três cassinos e também por “roubar” a sedutora Tess (Julia Roberts) das mãos de Danny, o qual ainda nutre sentimentos pela ex-noiva. Rusty logo percebe que um dos motivos por Danny insistir em invadir esses lugares em específico também insurge como uma vendetta pessoal contra aquele que lhe causou tanto mal – mesmo que isso lhe custe a liberdade tanto própria quanto dos amigos.

É claro que uma narrativa surpreendente e cheia de reviravoltas como esta não poderia se autorespaldar. Não é surpresa, pois, que Soderbergh realize uma composição imagética adoravelmente instigante e que brinca com o anacronismo cênico, colocando várias cronologias que convergem em um clímax próprio que é pautado na comédia, no drama e no policial. Desse modo, o diretor faz inúmeras investidas explicativas para o plano de Danny e Rusty – método esclarecedor que inclusive seria repetido por diversas obras do gênero e que definitivamente marcaria época. E bom, se ele realmente não criou esse modo de recontar histórias, certamente o aperfeiçoou da melhor maneira possível.

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O uso das cores também é de extrema importância, permitindo que o público perceba a diferença entre cenários. Por exemplo, a iluminação mais difusa e perscrutada por tons de vermelho, marrom e dourado dos cassinos entra em contradição com os bastidores do mesmo cenário, cuja paleta quente dá lugar à frieza tecnológica do azul, do branco e do cinza. Volta e meia, são esses elementos que acabam se tornando saturados demais – e até mesmo são deixados de lado quando nos aproximamos dos momentos finais, num epílogo que não apenas estraga a originalidade do roteiro, mas também se mostra forçado depois de tanta liberdade criativa.

‘Onze Homens e um Segredo’ definitivamente foi uma surpresa à época de seu lançamento – ainda mais por transformar uma história em frangalhos em algo bem superior. E talvez mais interessante que tudo, é uma das poucas obras que não se importa com convencionalismos entre “o bem e o mal”, permitindo até mesmo que os anti-heróis consigam realizar o roubo com perfeição.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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