sábado, abril 27, 2024

Artigo | ‘Maze Runner’ permanece como uma ótima adaptação jovem-adulta que merece ser apreciada

Um jovem garoto acorda dentro de um cubo que mais se parece com uma jaula e logo se vê em um mundo completamente novo e povoado por inúmeros rostos desconhecidos e que apenas o fitam enquanto ele tenta se encontrar. Essa é basicamente a sequência de abertura de Maze Runner: Correr ou Morrer’, adaptação cinematográfica da série assinada por James Dashner e que, de forma até mesmo aplaudível nos oferece uma perspectiva interessante para as diversas distopias da literatura juvenil que ganham suas releituras para o cinema e para a TV.

É um fato dizer que o mercado do entretenimento, com a chegada da década de 2010, sofreu um boom na quantidade e na corrida para conseguir os direitos intelectuais dos romances futuristas delineados por autores emergentes como forma de deixá-los mais acessíveis para a nova geração de espectadores e transformá-los, mercadologicamente, em franquias de grande sucesso tanto de bilheteria quanto de crítica – ainda que esse segundo objetivo não seja alcançado com tanta facilidade pelo fato de normalmente caírem nos clichês do gênero e oferecem investidas tão vazias quanto as mensagens que tentam passar. Entretanto, é interessante analisar que Maze Runner’ não se inclina totalmente às saídas formulaicas de compilações semelhantes assim como também não busca inspiração em obras clássicas como Admirável Mundo Novo’ ou 1984′ para criar um universo próprio.

O longa dirigido por Wes Ball se trata sim de uma ficção científica, mas ao mesmo tempo mergulha numa esfera muito mais intimista e inesperada que tem como base a sobrevivência humana perante forças externas e incontroláveis. Podemos até traçar paralelos aqui com os diversos tour-de-force do homem contra a natureza, mas essas comparações também trazem os seus limites, o que torna quase difícil definir a que este filme realmente se reverencia – pelo menos durante boa parte de suas quase duas horas de duração. Entretanto, uma coisa é certa: ainda que ocupe o mesmo patamar pós-apocalíptico de outras séries de estrondoso sucesso, como Jogos Vorazes’ e a saga Divergente’ (que inclusive chegou aos cinemas poucos meses antes do longa em questão), essa nova adaptação tem seu brilho próprio e que deve ser levado em consideração sim, por mais que os deslizes se tornem aparentes conforme a narrativa chega a uma conclusão.

A trama principal gira em torno de Thomas (Dylan O’Brien), um confuso e rebelde garoto que é praticamente “jogado aos leões” em um cosmos rudimentar no qual diversas outras figuras – todos do sexo masculino – já estão acostumados. Na verdade, grande parte dos personagens já vive na verdejante e de certo modo acolhedora clareira por quase três anos, o que o colocar automaticamente dentro de um conformismo inaceitável e angustiante, mas que deixa para ser explorado apenas depois das formais apresentações. Dentro dessa nova sociedade – uma versão mais civilizada e mais segura de O Senhor das Moscas’ -, temos o natural líder, Gally (Will Poulter), seus “vassalos” e algumas pessoas dotadas de maior independência e personalidade, como Newt (Thomas Brodie-Singer) e Minho (Ki Hong Lee).

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Thomas não é abraçado por todos e logo se vê como parte de uma comunidade liderada pelo autoritarismo de alguém que é movido instintivamente pelo medo; não é à toa que podemos premeditar uma série de conflitos entre ele e Gally, visto que seu “superior” quer manter todos vivos e reafirma o conceito de lar e de casa mais de uma vez para que permaneçam contentes e satisfeitos com a estagnada situação em que se encontram. É claro que esse escopo não seria o pior dos imagináveis, mas a clareira se encontra no centro de um imenso e inescapável labirinto, cujo acesso se abre de manhã e se fecha com o cair da noite: como forma de tentar encontrar uma saída, a mini-sociedade instituiu os corredores, ou seja, aqueles com grande habilidade física e que podem traçar um caminho através das maciças paredes de aço.

Porém, os protagonistas lidam com alguns problemas: o labirinto é dividido em seções que se abrem de modo diferenciado, mas seguindo um padrão, e que se transmuta com novas passagens ou becos sem saída; segundo, os assustadores corredores são habitados por criaturas monstruosas híbridas com maquinários gigantescos, chamadas de Verdugos. Elas carregam um veneno desconhecido consigo, mas que gradativamente consome a energia das vítimas e as transforma em seres violentos, sem qualquer noção de civilidade e canibais. É claro que a chegada de Thomas premedita uma grande mudança na orgânica estrutura idealizada pela comunidade; entretanto, é a chegada de Theresa (Kaya Scodelario), a última integrante do grupo e a única personagem feminina de toda a trama.

Eventualmente, esses conflitos ideológicos logo separam dois grupos: um que deseja sair da prisão na qual estão confinados e um que preza pela continuidade e pela manutenção do que já conhecem. O filme não procura explicar exatamente o porquê de todos estarem ali ou o porquê da existência do labirinto e das criaturas, mas fornece uma subjetividade catártica e visceral de seus protagonistas em relação à sobrevivência e à sua inserção dentro de um cenário caótico. Diferentemente de outras distopias, Maze Runner’ mostra-se interessante ao buscar o realismo dentro do impossível, em detrimento da criação de uma mitologia própria e que, para o escopo narrativo em questão, se mostraria desnecessário e inutilizável.

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Infelizmente, o filme não permanece no ápice o tempo todo e acaba cedendo às fórmulas do gênero com a virada para o terceiro ato. Após as incríveis e bem coreografadas cenas de ação, os personagens acabam encontrando uma facilidade científica completamente destruída e que nos remonta até mesmo às construções cênicas de franquias como Resident Evil’ e então começam a compreender o real motivo de estarem ali. A fraca resolução deixa a desejar, mas talvez seja os minutos finais que retornam para uma pontinha de esperança para a aguardada continuação. E talvez uma das coisas que mais chame a atenção seja o roteiro, não pelo brilhantismo de seus diálogos – ainda mais porque eles podem ser previstos desde o começo da história -, mas sim por não se preocupar em privar-se de sacrifícios para a evolução dos arcos das personagens e até mesmo para a construção de laços com o público.

A primeira iteração dessa franquia distópica é interessante e satisfatória. É claro que a saturação de obras das vertentes narrativas em questão mostra-se cada vez mais emergente dentro da indústria cinematográfica, o que nos leva a duvidar da capacidade criativa dos artistas atuais; todavia, sua perspectiva sombria e tensa é algo a levarmos em conta, até mesmo para suas continuações.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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