domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Meu Álbum de Amores – Comédia Romântica homenagea a Música Brega Brasileira

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Apaixonado pelo teatro, o diretor e roteirista Rafael Gomes tenta transpor as declarações românticas dos palcos à linguagem cinematográfica. 

Desta vez ao lado dos roteiristas Vinicius Calderoni (45 Segundos do Segundo Tempo) e Luna Grimberg (da série As Five), o diretor mistura o tom dramático aos acordes da “música brega” em Meu Álbum de Amores. Esta assinatura teatral está presente nos seus três filmes que compõem, segundo o próprio criador, a trilogia dos corações sentimentais, com 45 Dias Sem Você (2018) e Música Para Morrer de Amor (2020).



Após um rapaz de coração partido em viagem de autodescobrimento pela Argentina e Europa; e de um grupo de jovens na cidade de São Paulo em busca de amor entre canções, lamentações e máximas filosóficas, o terceiro longa não foge da premissa dos anteriores. Nesta aventura nostálgica e de homenagem à música popular brasileira, chamada “música brega”, Meu Álbum de Amores segue a odisseia novelesca do dentista Júlio Tavares (Gabriel Leone). 

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A trama começa com a proposta de Júlio de “juntar os panos” com sua namorada de cinco anos, Alice (Carla Salle). Ela, entretanto, recusa, termina a relação e parte para uma viagem no exterior. Os mesmos elementos foram vistos nos seus filmes anteriores: a obsessão pelo ser amado e o caminho de redenção. O problema, no entanto, é que não existe reabilitação, mas uma mistura de narrativas com a descoberta de um pai famoso e muitas indagações do que é o amor.

Se fosse uma novela, com vários episódios, a estrutura do filme seria compreensível, mas em pouco tempo são apresentados números musicais, conversas imaginativas entre os ex-amantes, um possível romance com a colega de trabalho (Olívia Torres), um irmão “espírito livre” e uma busca pelas amantes do pai cantor Odilon Ricardo (Gabriel Leone, também). Os roteiristas tentam fazer esses elementos se encaixarem como numa peça, mas na linguagem do cinema as ideias ficam espalhadas no ar. 

Tanto Júlio quanto seu novo irmão Felipe (Felipe Frazão), uma figura com muitos seguidores no Instagram e vontade de ser cantor, descrevem as relações amorosas desfeitas como: planos que são deixados de lado porque alguém lhes “abandonou”. Os personagens utilizam repetidamente essa palavra e se queixam de usá-la como sinônimo de rompimento. Várias vezes o roteiro faz ensaios linguísticos de forma anti-natural para falar de término de relacionamentos. 

No plano da ação de Meu Álbum de Amores, os filhos de Odilon Ricardo tentam realizar a vontade do seu testamento de deixar as cinzas do cantor com a mulher que ele mais amou. Assim, eles têm discussões rasas com atrizes que lembram de noites com o famoso. Desses encontros saem frases prontas como: “O que o amor precisa é maturidade”. Há reencontro com ex-namorada, à la Alta Fidelidade (1999), mas sem nenhuma semelhança no tempero. 

Aos 74 anos, o cantor goiano Odair José (do clássico “Vou Tirar Você Desse Lugar”) aparece no filme para atribuir rosto à trilha sonora, mas o personagem parece ter sido inspirado em Belchior e seu ”desaparecimento” midiático nos anos 2000. Os problemas no roteiro são diversos, desde a falta de verdade nos diálogos, nos acontecimentos e, principalmente, nos sentimentos expostos em falas. Com uma pitadinha de relacionamento entre mãe e filho, que funcionou com Denise Fraga e Caio Horowicz no segundo filme da trilogia, desta vez, a temática fica completamente perdida nas mãos de Maria Luísa Mendonça e Gabriel Leone

Por outro lado, Gabriel Leone é capaz de personagens inspirados e desafiadores, vide seu protagonista na série DOM, do já saudoso Breno Silveira, da Amazon Prime Video. Contudo os seus personagens Júlio Tavares e Odilon Ricardo são desprovidos de sensações, simpatia e qualquer elemento de conexão. O irmão “wannabe” cantor é igualmente uma personagem sem nenhuma aderência. 

A intenção do roteirista e diretor é mostrar como os sonhos são desfeitos quando um relacionamento rompe-se. Não é novidade nos inúmeros títulos que já trataram do tema, como o supracitado Alta Fidelidade, de Stephen Frears, e (500) Dias com Ela (2009), de Marc Webb. Ou mesmo, o recente brasileiro Todas as Canções de Amor (2018), de Joana Mariani.

O diretor e os roteiristas podem ter se inspirado na trilogia dos corações partidos de Wong Kar-Wai (Dias Selvagens, Amor à Flor da Pele e 2046), mas falta estética e a mistura da linguagem teatral a fílmica precisa ser melhor trabalhada. Em Meu Álbum de Amores, Rafael Gomes mostra esforço para destacar-se na ainda tímida produção de comédias românticas nacionais, mas ainda está longe de fazer o público encontrar-se na sua obra. Diferente, por exemplo, dos trabalhos de referências palpáveis de Matheus Souza (Me Sinto Bem Com Você) e da direção divertida de Julia Rezende (Depois a Louca Sou Eu). 

Meu Álbum de Amores estreia nos cinemas no dia 18 de agosto de 2022.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Apaixonado pelo teatro, o diretor e roteirista Rafael Gomes tenta transpor as declarações românticas dos palcos à linguagem cinematográfica. 

Desta vez ao lado dos roteiristas Vinicius Calderoni (45 Segundos do Segundo Tempo) e Luna Grimberg (da série As Five), o diretor mistura o tom dramático aos acordes da “música brega” em Meu Álbum de Amores. Esta assinatura teatral está presente nos seus três filmes que compõem, segundo o próprio criador, a trilogia dos corações sentimentais, com 45 Dias Sem Você (2018) e Música Para Morrer de Amor (2020).

Após um rapaz de coração partido em viagem de autodescobrimento pela Argentina e Europa; e de um grupo de jovens na cidade de São Paulo em busca de amor entre canções, lamentações e máximas filosóficas, o terceiro longa não foge da premissa dos anteriores. Nesta aventura nostálgica e de homenagem à música popular brasileira, chamada “música brega”, Meu Álbum de Amores segue a odisseia novelesca do dentista Júlio Tavares (Gabriel Leone). 

A trama começa com a proposta de Júlio de “juntar os panos” com sua namorada de cinco anos, Alice (Carla Salle). Ela, entretanto, recusa, termina a relação e parte para uma viagem no exterior. Os mesmos elementos foram vistos nos seus filmes anteriores: a obsessão pelo ser amado e o caminho de redenção. O problema, no entanto, é que não existe reabilitação, mas uma mistura de narrativas com a descoberta de um pai famoso e muitas indagações do que é o amor.

Se fosse uma novela, com vários episódios, a estrutura do filme seria compreensível, mas em pouco tempo são apresentados números musicais, conversas imaginativas entre os ex-amantes, um possível romance com a colega de trabalho (Olívia Torres), um irmão “espírito livre” e uma busca pelas amantes do pai cantor Odilon Ricardo (Gabriel Leone, também). Os roteiristas tentam fazer esses elementos se encaixarem como numa peça, mas na linguagem do cinema as ideias ficam espalhadas no ar. 

Tanto Júlio quanto seu novo irmão Felipe (Felipe Frazão), uma figura com muitos seguidores no Instagram e vontade de ser cantor, descrevem as relações amorosas desfeitas como: planos que são deixados de lado porque alguém lhes “abandonou”. Os personagens utilizam repetidamente essa palavra e se queixam de usá-la como sinônimo de rompimento. Várias vezes o roteiro faz ensaios linguísticos de forma anti-natural para falar de término de relacionamentos. 

No plano da ação de Meu Álbum de Amores, os filhos de Odilon Ricardo tentam realizar a vontade do seu testamento de deixar as cinzas do cantor com a mulher que ele mais amou. Assim, eles têm discussões rasas com atrizes que lembram de noites com o famoso. Desses encontros saem frases prontas como: “O que o amor precisa é maturidade”. Há reencontro com ex-namorada, à la Alta Fidelidade (1999), mas sem nenhuma semelhança no tempero. 

Aos 74 anos, o cantor goiano Odair José (do clássico “Vou Tirar Você Desse Lugar”) aparece no filme para atribuir rosto à trilha sonora, mas o personagem parece ter sido inspirado em Belchior e seu ”desaparecimento” midiático nos anos 2000. Os problemas no roteiro são diversos, desde a falta de verdade nos diálogos, nos acontecimentos e, principalmente, nos sentimentos expostos em falas. Com uma pitadinha de relacionamento entre mãe e filho, que funcionou com Denise Fraga e Caio Horowicz no segundo filme da trilogia, desta vez, a temática fica completamente perdida nas mãos de Maria Luísa Mendonça e Gabriel Leone

Por outro lado, Gabriel Leone é capaz de personagens inspirados e desafiadores, vide seu protagonista na série DOM, do já saudoso Breno Silveira, da Amazon Prime Video. Contudo os seus personagens Júlio Tavares e Odilon Ricardo são desprovidos de sensações, simpatia e qualquer elemento de conexão. O irmão “wannabe” cantor é igualmente uma personagem sem nenhuma aderência. 

A intenção do roteirista e diretor é mostrar como os sonhos são desfeitos quando um relacionamento rompe-se. Não é novidade nos inúmeros títulos que já trataram do tema, como o supracitado Alta Fidelidade, de Stephen Frears, e (500) Dias com Ela (2009), de Marc Webb. Ou mesmo, o recente brasileiro Todas as Canções de Amor (2018), de Joana Mariani.

O diretor e os roteiristas podem ter se inspirado na trilogia dos corações partidos de Wong Kar-Wai (Dias Selvagens, Amor à Flor da Pele e 2046), mas falta estética e a mistura da linguagem teatral a fílmica precisa ser melhor trabalhada. Em Meu Álbum de Amores, Rafael Gomes mostra esforço para destacar-se na ainda tímida produção de comédias românticas nacionais, mas ainda está longe de fazer o público encontrar-se na sua obra. Diferente, por exemplo, dos trabalhos de referências palpáveis de Matheus Souza (Me Sinto Bem Com Você) e da direção divertida de Julia Rezende (Depois a Louca Sou Eu). 

Meu Álbum de Amores estreia nos cinemas no dia 18 de agosto de 2022.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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