sábado, abril 27, 2024

Cannes 2023 | Exclusivo | Após lançamento de Retratos Fantasmas, Kleber Mendonça Filho planeja filme com Wagner Moura nos anos 1970

Em Sessão Especial em Cannes, no último sábado, dia 19 de maio, Kleber Mendonça Filho realizou o lançamento do seu documentário Retratos Fantasmas, seu quinto longa-metragem. Fruto de sete anos de trabalho de pesquisa, o projeto é composto 60% por fotografias e vídeos de acervos pessoais, da produção pernambucana de cinema, televisão e outras instituições. 

Em bate-papo exclusivo com o CinePOP, o diretor dos premiados O Som ao Redor (2012), Aquarius (2016) e Bacurau (2019) fala do processo de montagem do filme, suas inspirações e seu próximo projeto com Wagner Moura

Leticia Alassë e Kleber Mendonça Filho no Festival de Cannes 2023

Começo do projeto Retratos Fantasmas

Ele é todo composto por pedaços de imagens, fotografias, lembranças e um texto que precisava ser escrito para fazer aquilo funcionar”, comenta Kleber Mendonça Filho sobre o seu processo criativo. Com o título advindo de uma foto com um borrão fantasmagórico do arquivo pessoal do cineasta, Retratos Fantasmas foi um árduo processo de encaixe.

Segundo Mendonça Filho, no início, a montagem do filme não estava funcionando por conta da narração. O destrave, no entanto, ocorreu quando o diretor começou a escrever o roteiro de Agente Secreto, seu próximo filme ambientado em 1977. 

Escrevendo Agente Secreto, eu comecei a entender melhor Retratos Fantasmas, porque o primeiro se passa no centro de Recife. (…) Da mesma maneira, quando voltei para o projeto Agente Secreto, o roteiro do filme ficou muito melhor. Ou seja, foi o intercâmbio de dois filmes completamente diferentes.”, explica o Kleber. 

Referências de documentários 

Kleber elegeu dois “santos padroeiros” para este projeto: Manoel de Oliveira e Agnès Varda. O primeiro lhe ajudou a conceber a ideia dos espaços da sua casa a partir da obra Visita ou Memórias e Confissões (1982), filme­­ autobiográfico sobre a vida e a casa do cineasta Manoel de Oliveira (1908-2015). 

A partir de confissões e reminiscências, o documentário relata a importância da residência na vida do diretor português, sendo apresentado somente depois de sua morte.Eu o vi aqui em Cannes, em 2015, quando finalmente foi mostrado e, nessa época, eu já tinha o projeto do que viria a ser Retratos Fantasmas. (…) Ele me deu uma base emotiva e estética para fazer meu filme”; confessa o brasileiro.  

Documentário Retratos Fantasmas, de Kléber Mendonça Filho, estreia em Sessão Especial em Cannes.

Na época da montagem, os documentários de Agnés Varda foram lançados na plataforma de streaming MUBI e o processo de se colocar na história da cineasta franco-belga também o ajudou a compôr sua própria assinatura. Além das cenas de seus filmes e arquivos da cidade de Recife, os filhos do diretor estão presentes em seus momentos em família, assim como a memória da sua mãe historiadora. 

Política nacional no cinema

Com a linguagem documental na sua cinematografia, desde Crítico, Kleber Mendonça Filho não pensa em retratar a política brasileira no cinema. De acordo com ele, Pedra Costa e Maria Augusta Ramos fazem trabalhos maravilhosos nesse aspecto, mas seu interesse é sobre a lógica das pessoas na sociedade. 

Não deixe de assistir:

Os filmes que eu faço são sobre a vida no mundo e quando você fala sobre a vida, naturalmente aspectos políticos surgem. Aquarius, por exemplo, é sobre uma mulher que não aceita a proposta de alguns homens e a sua renúncia torna-se um ato político. (…) Bacurau é um faroeste de aventura, mas torna-se muito político porque fala das relações de poder no Brasil. (…) Prefiro fazer filmes sobre a vida em sociedade e a lógica das pessoas e sobre a história também, eu gosto muito de filmes de história.”

Wagner Moura em Agente Secreto

Após o lançamento de Retratos Fantasmas, previsto para o segundo semestre deste ano nos cinemas brasileiros, Kleber Mendonça Filho planeja começar as filmagens do seu projeto com Wagner Moura. Com o título de Agente Secreto, o diretor já adianta o período e a localização na cidade de Recife. 

Espero filmar no próximo ano. É um filme de ficção e se passa em 1977, mas não é sobre a ditadura, é sobre o Brasil quase 50 anos atrás. Um retrato bem áspero. O Brasil ainda tem muitos problemas, mas 50 anos atrás era bem mais hard. É um thriller de aventura e eu estou querendo muito filmar.”, declara Kleber entusiasmado com o futuro trabalho. 

Veja a entrevista completa no video abaixo: 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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