O Museu do Amanhã
O último episódio da nova temporada de Black Mirror era também o mais misterioso, cuja trama foi guardada a sete chaves. Antes de começar, devo fazer uma recomendação. Como todos sabem, não existe uma ordem específica a ser seguida na hora de assistir a Black Mirror, já que se trata de uma série de antologia. No entanto, a única ordem que deve ser seguida é deixar Black Museum para o final. O espectador irá apreciá-lo mais assim.
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O que acontece é que o último episódio chega como grande homenagem ao legado da série e a tudo que diz respeito a Black Mirror. Somos levados a um museu, daí o título do episódio, onde se encontram a maioria dos artefatos tecnológicos apresentados ao longo destas quatro temporadas – sim, eu disse quatro, já que itens da nova temporada também entram em cena aqui, criando conexão com o que você acabou de assistir (vide USS Callister, por exemplo). Daí a recomendação inicial. Fora isso, temos referências a episódios inesquecíveis, como San Junipero também. A vontade é assistir de novo para tentar pegar tudo.
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Apesar da brincadeira cheia de referências ser muito bem vinda, sentimos também que Black Museum, que é dirigido por Colm McCarthy (do ainda inédito no Brasil Melanie – A Última Esperança, ou The Girl With All the Gifts, no original), não mergulha totalmente nelas, utilizando-as como foco narrativo de sua trama. Esse, porém, é só um pequeno detalhe, já que o episódio utiliza outros aparatos, inéditos na mitologia, para impulsionar a história. Outro detalhe aqui é que Black Museum, o segundo episódio mais longo (depois de USS Callister), é na realidade três episódios em um.
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Acompanhamos Rolo Haynes (Douglas Hodge), o guia do local, realizando um tour com a jovem Nish (Letitia Wright), que enquanto espera seu carro ser recarregado, decide visitar o museu. Daí, enquanto mostra todas as peças de sua coleção – hoje em desuso, o que pode colocar este episódio ainda mais no futuro dentro desta cronologia, Rolo Haynes revela um pouco de seu passado também, e da época em que era o representante de tais inovações tecnológicas. O sujeito esteve à frente, por exemplo, de uma máquina capaz de transmitir todo tipo de sensação física através de um implante em seu usuário. Desta forma, o dedicado médico Peter Dawson (Daniel Lapaine) se torna capaz de curar muitas doenças. Como efeito colateral, no entanto, ele se torna viciado na dor, até um chocante desfecho.
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Assim, como um cientista louco em desgraça, Haynes vai narrando suas experiências condenáveis, sempre deficientes de consciência e moral. A segunda história que o sujeito revela é sobre a tecnologia capaz de inserir na mente de uma pessoa a consciência de outra. A operação é utilizada quando Carrie (Alexandra Roach), uma jovem mulher, entra em coma. Jack (Aldis Hodge), seu marido, sofre diariamente, até que o sujeito sem escrúpulos chega com a proposta de implantar em sua mente a consciência de sua mulher desfalecida. Uma ideia a princípio bem intencionada, mas que em pouco tempo se mostrará extremamente disfuncional. Estas duas histórias soltas servem para complementar Black Museum, mas sentimos que poderiam ser episódios próprios, mesmo que sem a força de um episódio independente de verdade. De fato, estas subtramas soam como episódios rejeitados, cujo desenvolvimento ficou na metade do caminho, e foram usados como sobra apenas para encaixar as lacunas de um episódio maior.
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O problema aqui é realmente seu cerne, resultando em uma história de vingança, sem que nos envolvamos verdadeiramente com nenhuma das partes; nem com o antagonista, nem com a vingativa heroína. Até mesmo a causa da vingadora soa sem a identificação necessária. Como resultado, Black Museum é um episódio sem muita força, mas que vale por sua intenção e o clima auto-referencial.
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