sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica de Álbum | Tell Me You Love Me – Das declarações de amor e ódio

Quando ouvimos o nome Demi Lovato, é quase automático nos lembrarmos de sua época no Disney Channel e nos diversos programas dos quais ela participou como atriz e cantora. Afinal, Lovato construiu sua carreira, assim como muitos outros nomes da indústria do entretenimento – Miley CyrusSelena GomezAriana Grande – nos canais voltados para o público infantil. E, também seguindo os passos de suas conterrâneas, a artista amadureceu de forma exponencial, alcançando um estrelato aplaudível em meio a quedas e reviravoltas. Após reencontrar-se como pessoa e profissional, Demi também se viu em meio a um terreno fértil para colocar suas angústias no que sabia fazer de melhor: cantar e compor; e foi nesse panorama que ela entregou a seus devotos fãs e a uma saturada indústria fonográfica o que podemos considerar como a melhor obra de sua carreira.

Tell Me You Love Me, seu sexto álbum de estúdio, é acompanhado por uma triste história que há muito vinha se repetindo dentro do cotidiano da cantora. Um ano após o lançamento de Confident, Lovato anunciara que daria uma pausa na carreira e se afastaria dos holofotes, sobrecarregada com a toxicidade da mídia; felizmente, deu a volta por cima e canalizou suas renovadas energias para uma composição que traz o melhor do soule do R&B sem se afastar do pop – marca de seus CDs. E, como se não bastasse, ela também trouxe um pouco de si para quase todas as faixas, encabeçando a produção e a escrita de pequenas pérolas que, indubitavelmente, insurgem como algumas das melhores tracks de sua vida profissional.

O disco já se inicia com uma memorável e enaltecedora canção, Sorry Not Sorry, no qual a mistura do envolvente baixo vai ao encontro de sutis sintetizadores, culminando em um discurso deliciosamente sarcástico, reafirmado pelo verso que empresta nome ao título. A animada música serve como base para as múltiplas versões de si mesma que a mezzo-soprano traz à tona, agregando experiências e declarações impiedosas para quem bem desejar ouvir – algo que ganha uma palpabilidade inegável na próxima faixa, homônima à obra. Aqui, o épico e orquestral prólogo nos engana, direcionando-nos para determinado lugar apenas para mudar de rumo e misturar os estilos de uma balada com um sedutor desabafo, cujo ápice se constrói no retumbante refrão.

A narrativa contada por Demi é uma alegoria a si mesma, desenrolando-se na forma de uma montanha-russa. Os altos e baixos perpassam por gritos de liberdade apenas para esbarrarem um desapego em relação àquele que quebrou seu coração – Lonely, por exemplo, delineia-se em uma vibrante ambiguidade na qual a artista faz um incrível uso de sua potência vocal e a casa com a do rapper Lil Wayne, uma parceria inesperada e que funciona em todos os sentidos. A track em questão entra em uma belíssima contradição com Concentrate, respaldada em um folk que transforma-se em um surpreendente rock, levando-nos em um crescendo que não explode – muito pelo contrário: retorna para os tons melódicos e apaixonantes de uma guitarra clássica que se aglutina ao perceptível baixo de forma impecável.

O álbum não apenas revela a tecedura inenarrável de Lovato, mas estrutura-se com grande poder, tendo ciência de como se montar e se mostrar para o público em prol de permitir que nos apaixonemos mais de uma vez. A explosão sinestésica própria do pop restringe-se propositalmente à primeira metade, reduzindo o frenético dinamismo com canções como Daddy IssuesRuin The Friendship e Only Forever. Durante a transição de uma faixa para outra, percebemos como Demi se rende ao R&B e a um experimentalismo que, no escopo geral, funciona mais do que deveria. É refrescante e animador a forma como Demi pode até não prometer muita coisa, mas acaba por entregar uma joia que, nos últimos anos, é muito difícil encontrar em meio a um excesso de remodelagens e reciclagens musicais.

Os ápices espalham-se no disco, porém não de modo profuso. Temos o primeiro encarnado por Sexy Dirty Lover, uma sexyrendição da lead à sua própria beleza que traz uma nostalgia imediata, transportando-nos para o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 – ainda que dotado com sua própria personalidade. O segundo ganha força quando acompanhado de Lonely e se materializa em Cry Baby, que se inicia com uma vertente puramente country, evoluindo um catártico chorus que quebra qualquer monotonia aparente – e, na verdade, essa “monotonia” contribui para a surpresa que nos espera.

Conforme nos aproximamos da conclusão, o aspecto soul fica mais forte, mas sem ficar cansado. Concentrate, mencionado e analisado acima, também serve como um leve empurrão para que Hitchhiker feche o potente solilóquio proferido por Demi. E, fluidamente, percebe-se que ela volta a acreditar no amor que a tanto fez sofrer, talvez com um pé atrás, mas mostrando que, agora, ela tem uma maturidade suficiente para se entregar de corpo e alma quando o momento certo chegar.

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Tell Me You Love Me apresenta ao mundo um conhecido nome através de uma nova perspectiva, uma visão incrivelmente empática que tem a capacidade de conversar com diversos aspectos cotidianos, desde o mais sombrio até o mais amável. E é por essa razão que Demi Lovato, com toda a importância que sua história carrega, é um nome que realmente deveria ser lembrado mais do que atualmente é.

  • Sorry Not Sorry – 4/5
  • Tell Me You Love Me – 4,5/5
  • Sexy Dirty Love – 5/5
  • You Don’t Do It For Me Anymore – 4/5
  • Daddy Issues – 3,5/5
  • Ruin The Friendship – 3,5/5
  • Only Forever – 4/5
  • Lonely – 4,5/5
  • Cry Baby – 5/5
  • Games – 3/5
  • Concentrate – 5/5
  • Hitchhiker – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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