sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Disque Amiga Para Matar – A 2ª Temporada consagra seu tom mórbido tragicômico

Assim como a surpreendente primeira temporada, Disque Amiga Para Matar (Dead to Me) continua com o ritmo de provocações e absurdos cômicos no seu segundo ano na Netflix. Grande parte do sucesso da criação de Liz Feldman é o seu tom zombeteiro e sombrio sobre as mais rocambolescas situações. Um roteiro engraçado e autocrítico, no qual as próprias protagonistas, após cometer um assassinato, verbalizam seus privilégios (dinheiro e pele clara) sobre nunca serem suspeitas de qualquer delito. 

Se a primeira temporada era em torno do segredo de Judy (Linda Cardellini) sobre a morte do marido de Jen (Christina Applegate), a segunda temporada as coloca de forma calamitosa em pé de igualdade. Da maneira que o seriado desenha suas protagonistas, todos os tipos de comportamentos são possíveis e plenamente críveis, até a anormal amizade entre as duas. Unidas, Judy e Jen, decidem encobrir o assassinato de Steve (James Marsden), só que Jen deixa alguns detalhes de fora e Judy tem o mau hábito de falar demais. 

Como tratar um tema de assassinato e ocultação de cadáver de forma amistosa? Com uma trilha sonora baseada em canções dos anos 60, como Connie Francis, The Mamas and the Papas e Otis Redding, o seriado ganha cores de um subúrbio pacato e acolhedor, exceto pelo desvio de caráter de quase todos os personagens. Este jogo de normalidade e desviância é o charme e o ponto eficiente de Disque Amiga Para Matar

De forma folhetinesca, James Marsden segue na trama como um surpreendente elemento, encorpando o seu universo amoral. Para engrossar o caldo, o filho mais velho Charlie (Sam McCarthy) ganha destaque e começa a ser uma peça de desengrenagem para os segredos da família. Seu crescimento intensifica ainda mais por ser um dos pontos entreabertos a serem resolvidos numa provável terceira temporada

Tanto Cardellini quanto Applegate continuam radiantes em seus personagens, de maneira a ser impossível pensar em outras atrizes tão perspicazes para essas performances. As novidades ficam por conta de Michelle (Natalie Morales) e as cenas de força dramática. Esmiuçar a nova personagem ou estes momentos seria como mastigar a comida antes de servi-la a alguém. Em outras palavras, vale destacar o esforço dos roteiristas para gerar comoção, graça e escárnio ao mesmo tempo. 

Com os seus 30 minutos bem redondinhos, Disque Amiga Para Matar comporta o tempo necessário para que os seus 10 episódios passem em piscar de olhos. Até porque o conteúdo da série é brincar com o nosso conceito de politicamente correto e fazer troça das nossas normas sociais, ainda que de forma elegante e regada a vinho e entorpecentes. É possível se desapegar da incredulidade de uma modorrenta investigação criminal (na verdade, duas) e perceber que Liz Feldman trata da desmoralização do sonho americano, no qual todos escondem cinzas embaixo do tapete.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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