Crítica | O Urso: 2ª temporada nos leva ao êxtase completo em meio a dilemas complexos e refeições deliciosas

Paredes rachadas, utensílios desgastados e o ritmo frenético da mais alta gastronomia se fundem ao fervilhar de mentes incansáveis, embalsamadas em culpa e temperadas com trauma, na 2ª temporada de O Urso. Diante do desafio de abrir um novo restaurante, Carmy, Sydney e o restante de seu pelotão são forçados a ir muito mais além em seus conflitos internos e externos, a fim de realizar um sonho que – em certos momentos – parece até ter gostinho de pesadelo.

Conforme a insanidade de uma movimentada cozinha se confunde com a síndrome do pânico, do impostor e a ansiedade crônica, mais somos convidados ao universo particular incomum e denso, onde o riso, o amor, o ódio, a fúria e a busca por perfeição se tornam tão nossos quanto dos próprios protagonistas. E nessa montanha-russa emocional com aroma de sucesso, Christopher Storer e a emissora FX entregam uma das obras-primas mais fascinantes da TV contemporânea.

E agora que todas as devidas introduções foram feitas em seu ciclo inaugural, O Urso tem espaço suficiente para expandir o arco de seus personagens, permitindo que todos tenham seu próprio momento em tela, onde a vulnerabilidade, as agruras e alegrias de cada um sejam genuinamente expostas para o público. E nessa fase de desabrochamento, a narrativa da série do canal FX ganha novas camadas profundas e aprendemos ainda mais a apreciar a jornada particular de cada caótico membro desse restaurante.

Como parte dessa espécie de jornada da redenção, somos presenteados com episódios mais longos e segmentados, focados unicamente no amadurecimento particular de cada um dos personagens. E sob uma escrita afiada e profundamente delicada, assistimos O Urso por uma ótica diferente e nunca nos identificamos tanto com figuras tão díspares e peculiares assim.

Essa relação cada vez mais íntima firmada entre a audiência e a produção muito se dá pela brilhante coletânea de performances. Ayo Edebiri e Jeremy Allen White, lideram o elenco com voracidade e vigor, como duas pessoas caóticas buscando o equilíbrio uma na outra. Já Ebon Moss-Bachrach nos arrebata com sua transformação como Richie, revelando uma versão emocionante e sensível, que até então permanecia escondida. Abby Elliott, Lionel Boyce e Liza Colón-Zayas completam o time com performances igualmente ricas e apaixonantes.

Repetindo o mesmo formato da direção com cortes rápidos, valorizado por uma montagem cirúrgica e frenética, O Urso ainda nos surpreende ao reunir um grupo impecável de estupendas participações especiais. Com Bob Odenkirk, Jon Bernthal, Gillian Jacobs, John Mulaney, Sarah Paulson e Jamie Lee Curtis, o episódio “Peixes” é um alucinante flashback do catastrófico Natal da família Berzatto. Digno de prêmios, o capítulo em questão é um adendo à trama contemporânea, que muito mais do que explicar a disfuncional dinâmica familiar entre Carmy, seus irmãos e sua instável mãe, responde as perguntas mais profundas que nutrimos a respeito da tumultuada e incansável mente do nosso premiado chef.

E superando todas as expectativas, O Urso retorna poderosamente às telinhas como um dos mais ricos espetáculos da televisão. Abordando questões psicoemocionais de maneira visceral e palpável – sem cair em enfadonhas reflexões e discursos pedantes -, a original FX é uma injeção de adrenalina que eleva nossos sentidos a níveis astronômicos. Salpicando o caos com pitadas de leveza que garantem um respiro entre uma cena e outra, a 2ª temporada da comédia dramática é uma genuína experiência transcendente. Aguça o apetite com pratos deliciosos, deixa um sabor agridoce nos lábios e se encerra nos deixando à deriva, com o amargor de um vazio que não pode ser preenchido.

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