Do Pior ao Melhor | Melhor Filme Oscar 2024

Hoje à noite, dia 10 de março, ocorre a 96° edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a maior festa do cinema e encerra as celebrações das produções de 2023. Todos os anos, os cinéfilos fazem suas apostas depois conferirem todos os filmes e este ranking é uma lista de preferências com curtas justificativas.

As opostas, de acordo com o termômetro das outras premiações Globo de Ouro, Critics Choice Awards e BAFTA, por exemplo, são para Oppenheimer, de Christopher Nolan, protagonizado por Cillian Murphy. Melhor Filme, Direção e Ator, além de Ator Coadjuvante — para Robert Downey Jr. — estão todos apontados para a cinebiografia do criador da bomba atômica. 

Por outro lado, as preferências de cada pessoa fala mais sobre ela mesma do que o próprio filme em si. Desde a votação do Globo de Ouro, em dezembro de 2023, tem sido uma constante analisar os filmes lançados e selecionados no ano passado. Esta é uma das melhores seleções dos últimos anos. Confira a lista abaixo e faça as suas próprias reflexões, mesmo após conhecer o ganhador. 

10. Maestro, Bradley Cooper

Bradley Cooper tem muitos amigos em Hollywood e sua transição de ator de comédias para drama e, em seguida, direção é fascinante. A presença de Maestro entre os “melhores do ano” é um reflexo da sua trajetória, não do filme em si. Sua primeira experiência na direção Nasce uma Estrela (2019) é centenas de vezes melhor do que esta cinebiografia conservadora e sem alma. 

As atuações são regulares, o roteiro segue uma cartilha e a direção apresenta-se apenas em alguns momentos no início do filme. Na maior parte do tempo a narrativa é opaca, saltando de momento a momentos sem nunca conectar Leonard Bernstein a figura biografada ao público.

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9. Os Rejeitados, Alexander Payne

A dupla Alexander Payne e Paul Giamatti já levou um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Sideways – Entre Umas e Outras (2004), dessa vez o drama recai sobre o professor Paul (Giamatti) detestado tanto por seus alunos quanto por seus pares e frustrado na vida profissional e pessoal. Nas férias de fim de ano, ele torna-se responsável por cuidar dos alunos deixados para trás por seus pais no internato. 

Dessa forçada união, desenvolvem-se laços entre o aluno Angus (Dominic Sessa) e a cozinheira enlutada pela morte do filho Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph) e o professor Paul. Vários dramas se entrelaçam para forçar um enredo de redenção e de desenvolvimento pessoal entre essas figuras díspares. Para os apreciadores de dramalhões é uma ótima distração. 

8. Oppenheimer, de Christopher Nolan

O favorito para sair com mais estatuetas da cerimônia é um ótimo filme tanto na parte técnica quanto no enredo. Por outro lado, não é um filme apaixonante, ele choca, impacta, nos coloca nas interrogações humanas e morais do protagonista, mas abre bastante espaço para um jogo político em uma narrativa e montagem mais dificultosa que apreciativa. 

É difícil enxergar um filme sobre o criador da bomba atômica com admiração para ganhar o título de melhor do ano. É válido reconhecer a importância da obra e a sua dimensão discursiva e, até mesmo, sua relevância em abrir discussões para as estruturas geopolíticas atuais. Entre as outras obras, no entanto, Oppenheimer é uma cinebiografia sem o confronto com grandes emoções e visões marcantes. 

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7.Ficção Americana, de Cord Jefferson

Com humor ácido, Cord Jefferson estreia no cinema com uma adaptação provocativa às temáticas afro-americanas dos filmes e outros produtos audiovisuais e literários. Ao apontar estereótipos dos personagens pretos nas obras artísticas, a adaptação do livro de Percival Everett é engraçada e antenada às questões atuais. 

Algumas cenas são como retratos cáusticos da nossa sociedade ainda dominada sobre narrativas brancas sob o ser preto ou preta. Para quem ainda se pergunta sobre reparação histórica e antirracismo, Ficção Americana é um bom primeiro passo para desmistificar alguns preconceitos e sua indicação aos Oscars é louvável, apesar de ser um filme tecnicamente aquém dos seus concorrentes. 

6. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer

Como falar dos horrores do Holocausto de forma diferente apos mais de 100 filmes sobre o assunto? Jonathan Glazer apostou na atmosfera de indiferença do povo alemão e acertou. Muitos filmes não tem a audácia de mostrar que o “monstro” é uma pessoa como eu e você com uma visão do mundo distorcida sob um discurso dominante socialmente aceito, presente no livro de Martin Amis.

Depois de sentir toda a profundidade de som e ambientação proporcionada por Zona de Interesse, é pouco provável não refletir sobre os discursos da extrema direita atual que poderá nos levar ao mesmo ponto de terror e inimozidade entre pessoas de etnias diferentes. Pergunte às pessoas como elas se sentiram após o filme, este pode ser o seu termômetro social. 

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5. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet

Filmes sobre tribunais costumam ser enfadonhos, muitos advogados gritando e testemunhas com bias sendo interrogadas. Justine Triet, no entanto, nos conta a história de uma casamento por meio de um julgamento moral do olhar dos outros sobre o que é um relacionamento e como a mulher é imputada ao dever de “fazer dá certo”. 

Se você observou apenas o suspense do “matou ou não matou”, tudo bem. A escalada da constante dúvida é um dos pontos arrebatadores do filme e a interpretação de Sandra Hüller é magistral neste aspecto, nunca nos deixando 100% certo de nenhum acontecimento. Porém, Anatomia de Uma Queda é sobre relacionamentos e narrativas. 

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4. Barbie, de Greta Gerwig

Apesar de ter apreciado bastante o lançamento de Barbie e sua ousadia criativa para colocar elogios e críticas sociais associadas à figura de uma boneca, o seu poder de causar grandes emoções ainda é menor do que os outros filmes acima dela na lista. É um dos melhores filmes do ano, com certeza, e merece ganhar reconhecimento sobre todo a produção estética e as canções marcantes. 

Particularmente, eu adoro filmes cômicos com críticas sociais os quais as pessoas assimilam aos poucos e englobam nos seus discursos sem imposição. Barbie representa o quanto é difícil existir sem sentir que devemos ter função no mundo para valorizar a própria existência. Além de todo discurso feminista e igualitário, o existencialismo é o mais forte. 

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3. Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos

Polêmico e exuberante, Pobres Criaturas é um grito de descoberta da vida de uma mulher de maneira livre e descomprometida. Seu aspecto fantasioso nos permite imaginar uma vida sem barreiras tradicionais e morais. Por exaltar a liberdade sexual de uma mulher, o filme é execrado pelos conservadores ao mesmo tempo que louvado por nos fazer sonhar. 

Sem as atuações magnânimas de Emma Stone e Mark Ruffalo, essa comédia poderia ser algo somente absurdo, mas com almas tão vivas em tela o absurdo torna-se um desejo de possibilidade de sonhar. O perigo dos filmes de fantasia é exatamente este, fazer o público sonhar de olhos abertos e, nesse aspecto, Pobres Criaturas é excelente. 

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2. Os Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese

Além das cinebiografias, as denúncias políticas baseadas em fatos reais são outra dinâmica recorrente dos filmes indicados ao Oscar. Somente por este princípio, Os Assassinos da Lua das Flores poderiam estar muitas casas abaixo, mas ele consegue quebrar este teor somente denunciativo a dar alma aos personagens considerados como vítimas na história, não apenas em uma posição desvantagens congênita. 

Mesmo os vilões têm aspectos empáticos ou totalmente anedóticos, o que torna a narrativa divertida ao mesmo tempo que reflexiva para construção histórica dos Estados Unidos. Como sabemos, o país foi construído e desenvolvido sob o sangue de milhares de povos originários. Tudo isso é extremamente poderoso graças ao compretimento técnico e histórico de Martin Scorsese.

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1. Vidas Passadas, de Celine Song

O que você busca ao começar assistir a um filme? Eu busco algo que mexa com as minhas emoções e desconcerte meus pensamentos. Simples, não? Emoções fortes e boa reflexão. Este é o que Vidas Passadas propõe a todas as pessoas independente de gênero, idade ou etnia. Todos nós vamos nos apaixonar ou, ao menos, nos envolver com outras pessoas emocionalmente. 

Celine Song apresenta uma reflexão arrebatadora sobre as escolhas da vida e nossos sentimentos e ações em relação a elas. Desde que assisti Vidas Passadas, em fevereiro de 2023, ele não sai do meu discurso com exemplo de como um romance deve ser. Leve, verdadeiro e sem rompantes emocionais tal como nas nossas vidas. Os silêncios fazem o nosso coração bater no mesmo compasso da personagem principal. Quer viver uma grande aventura, fantasia, ação e suspense? Apaixone-se! 

Leia mais: Crítica | Vidas Passadas traz uma ESPETACULAR narrativa sobre trajetórias e destinos

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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