quinta-feira, abril 18, 2024

Entrevista | “Missão Cupido era para ser protagonizado por Fábio Porchat”, revela o diretor Rodrigo Bittencourt

Lançamento do Dia dos Namorados deste ano, Missão Cupido não é bem uma comédia romântica, mas uma esquete de humor surrealista, na qual Deus (Rafael Infante) é diretor de uma agência de seguros cujos clientes são os humanos e os anjos são seus funcionários, os quais asseguram as vidas na Terra. Após um longo período de espera no calendário, o filme – rodado entre 2017 e 2018 – entrou no circuito e disputou espaço com Invocação do mal 3 – A ordem do demônio e a comédia nacional Quem vai ficar com Mário? Com a chegada de Velozes e Furioso 9, nesta quinta, não teve mais espaço. 

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O CinePOP, entretanto, realizou um bate-papo exclusivo com o diretor Rodrigo Bittencourt, no qual o cineasta revelou várias peculiaridades do filme, uma delas talvez ajudasse o filme a permanecer por mais tempo nas salas de cinema. Com coprodução da Paramount Pictures, o diretor gaba-se de ser um profissional eclético, vide suas obras Totalmente Inocentes (2012), com Fábio Porchat como chefe do tráfico, e Real – O Plano por trás da História (2017), a política brasileira à la Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino

Referências Cinéfilas 

Em Missão Cupido, as referências cinematográficas inundam a tela e fica evidente como o diretor aprecia fazer homenagens ou mostrar o seu gosto cinéfilo aos espectadores. “O Sétimo Selo [de Ingmar Bergman, 1957] é o filme da minha vida. Eu queria fazer uma cena assim no Real – O Plano por trás da História, mas não rolou, então deixei para o próximo e agora a metáfora de jogar xadrez com a morte, que é uma cena pequenininha, não podia ficar de fora”, conta o diretor que também é músico. 

Outros filmes evidentes na composição das cenas são Kill Bill vol. 1 e 2 (2003/2004) e Sin City – A Cidade do Pecado (2005), já outras foram retiradas no corte final. “Tinha uma cena de batida de carro entre a Rita (Isabella Santoni) e o Miguel (Lucas Salles), do filme Se Meu Fusca Falasse (1968). Depois a gente deve colocar no YouTube”. Ele também conta ter realizado cenas com uma pegada de Woody Allen. Será que o público vai perceber? 

A Ideia Principal 

Apesar de misturar várias referências e gêneros, Bittencourt define que a mensagem principal é uma metáfora da ligação entre a morte e a vida. “A gente não pode temer a morte, porque a gente também teme a vida. A personagem da Agatha Moreira, a morte, então apaixona-se pela vida, a Rita, que é uma mulher feminista”.   

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Produzido por Clélia Bessa, de Como Ser Solteiro (1998) e Copa de Elite (2014), Rodrigo confessa ter escrito o roteiro sozinho, mas pensou que sofreria preconceito do público feminino por ser homem e ter feito um filme sobre mulheres. Afinal de contas, a comédia não é pró-feminismo, pelo contrário a personagem principal vivida Isabella Santoni exagera no estereótipo da feminista chata. Nem parece a mesma atriz a brilhar na série DOM, da Amazon Prime, lançada no dia 4 de junho. 

“Eu pensei que ia sofrer preconceito das mulheres por eu ser homem e ter feito um filme sobre mulheres.”

Era para ser Porta dos Fundos, mas ficou com cara de Parafernalha

Aliás, encontrar o elenco perfeito não foi fácil e os planos mudaram de rota no meio do processo de produção. “Eu tinha feito o primeiro filme do Fábio Porchat, o Totalmente Inocentes, estreamos juntos no cinema. A gente tinha planejado fazer o Missão Cupido juntos, que chamava-se Estúpido Cupido, inclusive saiu matéria em O Globo, ele dizendo que estava escrevendo comigo. Mentira! Não escreveu uma linha. A gente tinha planejado fazer juntos, no entanto, aos 45 minutos do segundo tempo, ele não podia mais. Reescrevi o roteiro inteiro e, aí sim, pensando no Lucas.

Rafael Infante e a novata Agatha Moreira foram escolhas pontuais que deram certo, contudo a protagonista Isabella Santoni quase não embarcou no projeto. Bittencourt  relembra: “Chamei-a especialmente para fazer o papel de Rita. Ela disse: ‘mas Rodrigo, eu não me vejo na personagem’. Eu repliquei: ‘Mas como assim? Você é muito viva, eu preciso de uma Rita viva. Você adora essa coisa do surf, acordar cedo, o sol, você é totalmente vida. Você tem que fazer o filme’. Ela, então, aceitou fazer. Eu tinha escrito para ela mesma”. 

“Eu amo comédia romântica. Quero fazer muita comédia romântica ainda na minha vida”. 

Com Lucas Salles, Victor Lamoglia – que já viveu um anjo em Ninguém Tá Olhando (2019) , Thaís Belchior e Daniel Curi, Missão Cupido tornou-se um reencontro dos humoristas do Parafernalha, canal de humor na internet fundado por Felipe Neto. Embora tenha trabalhado com o youtuber na Multishow, Rodrigo Bittencourt afirma que o encontro de atores do canal do YouTube ocorreu sem intenção. 

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Não sabia que o Daniel Curi era do Parafernalha, porque eu não vejo o canal, mas o personagem dele eram três na verdade. Eram três querubins, um vivido por ele e outro dois youtubers, mas não deu certo.” Qual o motivo? “Os youtubers não conseguiam fazer o filme, a gente ensaiava e eles não conseguiam entrar no personagem e se concentrar. Para falar uma palavra bacana, eles estavam muito animados. Não vou dizer quem era para não machucar os meninos. Eu tive que tirar eles do filme, foi a primeira vez que eu tinha que demitir pessoas do meu filme. Foi horrível.

“Missão Cupido é o entrelaçamento amoroso da vida e da morte.”

Águas passadas. Ele não revela quem eram os youtubers demitidos, mas com certeza não eram mais integrantes da Parafernalha. Como todo projeto, a realização de Missão Cupido teve altos e baixos, demorou para chegar aos cinemas e levou segundos para sair. A missão agora é chegar ao público por meio das novas plataformas de streaming. Como é uma coprodução da Paramount Pictures, talvez a gente o aguarde na ParamountPlus.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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