quinta-feira, abril 25, 2024

Ficção X Realidade | Os 130 dias do Covid-19 e o filme ‘Contágio’

Com o Covid-19 assolando o mundo e trazendo muitas incertezas para o povo confinado, diversos cidadãos do mundo tiveram que encontrar jeitos de se divertir ou entreter sem sair de casa. A resposta mais rápida veio com os serviços de streaming, que possibilitam assistir a filmes e séries sem deixar o conforto do lar. Enquanto exploravam os diversos catálogos, os confinados redescobriram o filme Contágio. Um suspense/ drama lançado em 2011 que mostrava o mundo sendo atingido por um vírus desconhecido.

Na época do lançamento, o filme de Steven Soderbergh foi muito criticado pelo público e até mesmo pela crítica, que o descreveu como chato e pouco cativante. Na época da produção, o roteirista Scott Burns afirmou que a ideia era trazer uma história bem pé no chão, com intenção de explorar o horror do cotidiano. Para isso, professores, pesquisadores e autores de renome no meio da epidemiologia foram chamados para prestar consultoria de como uma doença poderia se espalhar pelo globo no século XXI, e como um vírus desconhecido poderia influenciar no comportamento social e político do planeta. O resultado foi um longa embasado na ciência que praticamente previu cada passo do novo coronavírus. A semelhança entre a pandemia fictícia e a da vida real chamou a atenção do povo, que elevou Contágio a ser o segundo filme mais assistido da Warner entre março e abril.

‘Contágio’ se tornou o segundo filme mais assistido da Warner no final de abril de 2020, perdendo apenas para ‘Harry Potter’.

O filme mostra o período de uma quarentena que dura aproximadamente um ano e meio. Ah, bom avisar que a partir de agora teremos spoilers do longa, ok? Pois bem, nesse tempo, assistimos de forma detalhada o comportamento dos civis e das autoridades no intervalo de 131 dias, até o início dos testes em humanos da “vacina 57”, que viria a ser a tão esperada cura. Nessa semana, entramos no mesmo período de tempo em quarentena que é mostrado no filme. No Brasil, o primeiro caso oficialmente registrado do Covid-19 veio no dia 26 de fevereiro. Por isso, resolvemos comparar os panoramas da realidade com os da ficção.

O personagem de Jude Law mostra que as Fake News podem ser mortais.

Um dos pontos que mais chama atenção é o papel de Jude Law, que interpreta um blogueiro que se diz contra a imprensa tradicional e ganha voz ao surgir na internet fazendo conspirações e apresentando um “remédio milagroso”. Ele diz ter sido infectado e se curado utilizando o medicamento, que não apresentava nenhum efeito real contra a doença. No mundo, diversos blogueiros embarcaram nessa onda, mas o que chamou atenção mesmo foram os representantes de países, que fazem campanha pelo uso de remédios como a hidroxicloroquina e a ivermectina. Enquanto o primeiro medicamento já foi cientificamente comprovado como ineficaz contra o Covid-19, podendo até mesmo a causar problemas cardíacos nos usuários, o segundo ainda não apresentou resultados em testes realizados em humanos, apenas em amostrar isoladas do vírus, o que não garante o funcionamento no corpo humano. Assim como na ficção, esses remédios defendidos cegamente pelos políticos foram amplamente procurados e rapidamente entraram em falta nas farmácias. O fim do personagem de Jude Law é uma prisão, cuja fiança é paga pelos seus apoiadores, resultando na impunidade. No final de tudo, as fake news foram responsáveis por muitas mortes, que poderiam ter sido evitadas caso as pessoas influentes – tanto da ficção quanto da vida real – tivessem o mínimo de responsabilidade.

Pânico e mercados vazios. O filme retratou muito bem a realidade das primeiras semanas.

Outra semelhança entre a realidade e a ficção foi o pânico do início da pandemia. O filme mostra mercados com produtos em falta, prateleiras vazias e um caos generalizado na busca do povo por mantimentos visando a quarentena, chegando ao ponto de ter mercados sendo saqueados. No Brasil, houve uma campanha dos próprios mercados para evitar o pânico. Os super-mercados garantiram que haveria estoque e que os clientes não precisariam se preocupar. Nos primeiros dias foi complicado mesmo, com consumidores lotando as lojas e alguns produtos, como garrafas d’água, chegando a ficar em falta. E, ainda na primeira semana, alguns mini-mercados e mercearias do Rio de Janeiro foram vítimas de saque, obrigando a Polícia Civil a fazer rondas frequentes pelas regiões em que esses mercados estavam. Já na África do Sul, os saques foram frequentes e rendeu dor de cabeça ao governo. E como esquecer dos EUA, onde o povo praticamente acabou com todo o estoque de papel higiênico em dias? Esses eventos foram resultado do medo e do pânico causados pela ideia do isolamento.

A origem da pandemia fictícia vem de um cumprimento em Hong Kong.

A forma de contágio do filme também é muito parecida com a da vida real. Assim como a origem dele. Tanto a MEV-1 quando o Covid-19 são vírus causados por morcegos da China, que se espalharam pelo mundo por meio de viajantes infectados. Ambas são transmitidas pelo ar e pelo toque. O diferencial é a taxa de mortalidade. Já que o MEV-1 matou 26 milhões de pessoas no período de seis meses, enquanto o coronavírus, neste período de quatro meses, matou aproximadamente 544 mil pessoas ao redor do mundo. Um número de perdas inestimável, mas – ainda bem – bastante distante do que é mostrado no filme.

Os protestos nos EUA ganharam as manchetes do mundo

No entanto, as maiores diferenças estão na forma como o mundo lida com suas pandemias. O povo do filme estava meio reticente quanto à quarentena no início da pandemia de MEV-1, mas acabou percebendo a gravidade da situação e respeitou a quarentena. Quer dizer, eles mostram alguns adolescentes saindo pra namorar, mas as ruas são representadas vazias na maior parte do tempo. Já na vida real, a quarentena americana foi rompida em vários estados no ápice da onda de contágio por manifestantes que não acreditavam no vírus. Mais tarde, uma nova onda de protestos tomou as ruas americanas em protesto pelo assassinato de George Floyd pelo ex-policial Derek Chauvin, em Minneapolis. O crime racista levou milhares de jovens às ruas pedindo pelo fim do genocídio das vidas negras. No Brasil, apoiadores de Jair Bolsonaro foram ás ruas para mostrar apoio ao presidente antes mesmo do país entrar no pico do contágio. Algumas semanas depois, foi a vez de manifestantes a favor da democracia e outros apoiando a causa do #BlackLiveMatters tomarem as ruas com manifestações. O caso mais surreal talvez tenha sido a volta do Campeonato Carioca em meio à pandemia, sendo que há um hospital de campanha ao lado do maior estádio da cidade, o Maracanã. Atualmente, mesmo com o país registrando mais de MIL MORTES POR DIA, o Governo Federal e os alguns Governos Estaduais/ Municipais estão reabrindo os comércios e flexibilizando uma quarentena que nunca foi promovida com a devida responsabilidade.

A vacina é descoberta com 131 dias de pandemia.

Por fim, a cura para o MEV-1, a chamada Vacina 57, é descoberta no dia 131 da pandemia. As primeiras doses começam a ser distribuídas após 90 dias e a distribuição mundial é feita após um ano. Na vida real, estamos no mesmo período e ainda nada de vacina ou tratamento para a Covid-19. Porém, ao que tudo indica, a vacina virá do Brasil. Isso poque a chamada “CoronaVac” foi desenvolvida pela parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac Biotech, e começará a terceira fase de testes ainda esse mês. Na próxima segunda-feira (13), as inscrições para os voluntários ao teste da vacina serão abertas. A ideia é que essa fase de testes esteja concluída até outubro. Em entrevista a CBN, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que eles trabalham para ter a vacina até o final do ano.

Contágio está disponível no HBO GO.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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