sexta-feira, abril 26, 2024

Netflix | Por que ‘O Espetacular Homem-Aranha’ é a melhor série do herói?

Lançada em 2008, a série animada O Espetacular Homem-Aranha foi uma tentativa da Marvel de reviver o Cabeça de Teia na televisão após o fracasso contundente que Homem-Aranha: A Série foi. Para os sortudos que não se lembram, Homem-Aranha: A Série foi lançada em 2003 como um tipo de continuação não canônica dos filmes de Sam Raimi. A animação era toda feita num 3D esquisito, bastante parecido com os gráficos de PlayStation 1 e com uma atmosfera meio gótica. Enfim, foi um desastre e não durou mais que os 13 episódios da primeira e única temporada.

É, Marvel… Teu passado te condena.

A queda foi tão grande que o personagem mais popular da empresa, que estava brilhando nos cinemas na pele de Tobey Maguire, passou cinco anos sem ter uma animação sequer nas TVs. Porém, isso mudou em 2008, quando O Espetacular Homem-Aranha chegou para revolucionar o personagem na TV e trazer para as telinhas algumas das melhores adaptações de histórias em quadrinhos que o mundo já viu. Criada e dirigida por Greg Weisman, além de contar com produção de Avi Arad – que também produziu a trilogia do Aranha nos cinemas -, a série conseguiu reunir diferentes décadas de “Peter Parkers” em um Peter só. Incluindo o de Tobey Maguire, que foi homenageado na abertura, que recriava cenas dos filmes em versão 2D.

O primeiro vilão a ser enfrentado pelo Homem-Aranha é o Abutre, que já introduz elementos clássicos da história do herói, como a Oscorp.

Ao longo de duas temporadas com 13 episódios, cada, a produção conseguiu expandir a mitologia do herói com um nível de profundidade e maturidade muito grande. Na trama, Peter Parker é um adolescente que está se acostumando a ser um nerd no colégio e um super-herói admirado e perseguido fora dela. Tudo isso enquanto tenta conciliar sua vida estudantil, familiar e amorosa com as incertezas da vida de herói mascarado. Dentre tantos méritos que a série tem, o maior deles é entender o personagem. Nos últimos anos, tivemos muitas produções do herói, incluindo filmes, jogos e desenhos animados que priorizaram a vida de combatente do crime em vez da vida de adolescente excluído buscando seu espaço e sua identidade. Nos quadrinhos, o nascimento do Homem-Aranha revolucionou o mercado por mostrar que Peter Parker era mais importante que o Homem-Aranha. Acompanhar a vida do jovem que tinha problemas como qualquer leitor cativou bilhões de fãs pelo mundo, mas parece que poucas adaptações compreenderam isso. Felizmente, O Espetacular Homem-Aranha entendeu e se apegou a isso para construir a melhor adaptação de herói nas telinhas.

Liz Allen, Peter Parker e Gwen Stacy protagonizam um triângulo amoroso em meio a uma trama que envolve o Sexteto Sinistro.

As ambientações dos episódios são sempre divididas entre o Colégio Midtown, a Oscorp, a casa dos Parker, o Laboratório do Dr. Connors e cenários famosos de Nova York. O núcleo de personagens gira em torno dos colegas de classe de Peter, como Gwen Stacy, Harry Osborn, Liz Allen, Flash Thompson e os caras da equipe de futebol, Mary Jane Watson, Tia May, Eddie Brock, J.J. Jameson e Norman Osborn. Mas outros personagens clássicos da mitologia do herói aparecem vez ou outra, já que as tramas têm muitos desdobramentos. Com essa galera toda interagindo, temos momentos muito pessoais de Peter Parker sendo trabalhados, como o drama dele ser o melhor jogador de futebol americano da escola, mas precisar fingir ser um pereba para que ninguém suspeite de seus poderes, o primeiro encontro, os foras que ele leva, as humilhações sofridas por ser um nerd, as conquistas por seu jeito sincero, as decepções amorosas, o conflito com Harry e Gwen… E por aí vai. Além disso, temas pertinentes sobre o amadurecimento e as incertezas da adolescência são trazidos de forma muito responsável. Por exemplo, a transformação de Harry no Duende Macabro vem junto a uma analogia do uso de drogas na adolescência. Os constantes questionamentos sobre Peter e suas escolhas na vida profissional também são recorrentes.

A Globulina Verde é usada para fazer uma analogia sobre o uso de drogas na adolescência.

Mas não pense que só tem Peter Parker na série. Muito pelo contrário! Os duelos e combates físicos e morais do Homem-Aranha são incríveis! A começar pela galeria de vilões que é utilizada. Como era de se esperar, o Duende Verde é o principal antagonista da série, mas eles não se limitam apenas a ele. Nomes mais conhecidos como Doutor Octopus, Venom, Rino, Mysterio e Homem-Areia são presença constante nos episódios, que também trazem uma vilania mais popular nas HQs, como o Cabeça de Martelo, Camaleão, Gata Negra, Cabelo de Prata, Abutre, Shocker, Electro e Kraven, O Caçador. E é óbvio que com esse pessoal todo, diversas formações do Sexteto Sinistro são mostradas para infernizar a vida do herói, que precisa lidar frequentemente com assaltos a banco, sequestros, atentados terroristas e tentativas de homicídio com muita naturalidade. A melhor parte é que esses vilões não são apenas jogados na narrativa. Cada um tem sua própria história e desenvolvimento, mostrando ambos os lados da ameaça.

A relação com a Gata Negra, que, por conta de um erro na tradução, tem sua primeira aparição creditada como “Mulher-Gato” é um dos pontos altos da série.

Os traços da animação, porém, costumavam ser citados como um empecilho para atrair público, já que eram bem cartunescos e a tecnologia da época já permitia uma animação mais realista. Só que a história é tão bem trabalhada, os uniformes e ambientações são tão fiéis aos quadrinhos que chega a ser bobeira reclamar desse estilo de animação da série. Mesmo com esses traços típicos de cartum, momentos retirados diretamente das HQs são adaptados com muita fidelidade, como o primeiro encontro de Peter e Mary Jane. No entanto, a arte pesou na hora do prosseguimento da série. Isso porque a série tinha sido planejada para ser desenvolvida em cinco temporadas, totalizando 65 episódios, fora o plano de adaptar “O Casamento do Homem-Aranha” em um especial após o fim da série. Porém, tudo isso foi por água abaixo enquanto a terceira temporada da série estava sendo escrita. Nela, o vilão principal seria o Duende Macabro e outros personagens Marvel, como CarnificinaMotoqueiro Fantasma, Escorpião, Senhor Negativo e Homem-Hídrico fariam participações ao longo dos episódios. Havia também o planejamento de lançar um filme animado contando sobre o Doutor Connors trabalhando na cura para o Electro.

O espanto de Peter Parker ao se deparar com Mary Jane na porta de casa é um dos momentos icônicos das HQs que entrou na série animada.

Por que isso não aconteceu? Bem, a Disney comprou a Marvel Entertainment e resolveu não dar prosseguimento ao seriado para investir em uma nova abordagem do herói chamada Ultimate Homem-Aranha, que tinha um roteiro mais infantilizado, voltado para piadocas e bobajadas, mas exibia traços mais trabalhos, fugindo do estilo cartunesco da anterior, e apostando em novas tecnologias para ter um estilo de animação mais moderno. A decisão não agradou aos fãs, que fizeram uma petição que reuniu mais de 10 mil assinaturas pedindo a continuação de O Espetacular Homem-Aranha. Só que não deu em nada.

Com visual mais moderno e voltado para o humor, Ultimate Homem-Aranha substituiu O Espetacular Homem-Aranha.

Após vários anos sem ser exibida no Cartoon Network e passando com episódios fora de ordem no Bom Dia & Cia, os 26 episódios de O Espetacular Homem-Aranha podem enfim voltar a ser encontrados com facilidade e na ordem correta no catálogo da Netflix. A produção é fundamental para todos os fãs do herói, de quadrinhos em geral e é ideal para quem quer conhecer um pouco mais sobre o Homem-Aranha sem necessariamente ler os quadrinhos.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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