domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica 3| Corra! – Um suspense realmente envolvente…

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…MAS O PLOT TWIST NÃO É TUDO ISSO

 

Calma! Não quero dar nenhum spoiler sobre o filme, ninguém precisa correr desta resenha – salvo se você tiver achado excessivamente brega esse trocadilho infame. Quero apenas calibrar expectativas. Muito se fala que a virada do filme é inesperada, que ninguém irá descobrir o mistério. Bom, eu desvendei parte dele logo no primeiro diálogo entre os protagonistas. Claro que para saber o mistério central, tive que aguardar pela final (o filme chega a ser até irritante em seu didatismo). Muita gente na pré-estreia ficou surpresa com a virada final do filme. Pessoalmente, achei no máximo interessante. E é possível que muita gente acostumada aos gêneros terror e suspense não fique tão impressionado. Mas, o melhor do filme é que ele não depende dessa virada para funcionar.



Os melhores pontos do filme estão na construção do seu protagonista e em como a narrativa consegue envolver o público em uma atmosfera sufocante de perigo. São esses dois pontos que fizeram o público sair extasiado da pré-estreia promovida pelo CINEPOP em parceria com a Universal.

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A atmosfera do filme é enervante, deixando quem assiste apreensivo pela vida do protagonista. O diretor Jordan Peele alcança esse efeito recorrendo a expedientes até conhecidos: a casa isolada, no meio do nada, o protagonista que não se encaixa no contexto e, especialmente, pequenas bizarrices, como personagens agindo de forma estranha, ou diálogos com segundas intenções. O próprio trailer já exibe vários personagens com comportamentos estranhos.

Essa atmosfera enervante consegue alcançar o máximo de eficiência porque temos um protagonista com o qual nos importamos. Chris (Daniel Kaluuya) é fotografo e policial do aeroporto, gente boa, carinhoso com a namorada. Chris tem consciência do preconceito, porém, não levanta bandeiras ou faz discursos. O roteiro é bastante mordaz neste ponto: o filme aponta vários preconceitos (vamos falar em detalhes mais adiante), porém, a postura do protagonista não é panfletária. Isto evita que o público encare ele como um chatonildo. Acontece que muitos do movimento negro exigem uma postura combativa, dizendo que a casa-grande gosta de negro subserviente. Para os padrões militantes, Chris poderia ser enquadrado como subserviente (embora ele não o seja). Independente do que diz a militância, se Chris fosse um ativista panfletário, a plateia poderia ser resistente ao personagem. Ironia: o filme usa um personagem anti-militante para contornar a resistência da plateia e fazê-la torcer por alguém que sofre preconceito, fazendo ela se colocar no lugar da vítima de racismo. Agora, se o diretor está atacando os militantes radicais, ou dando de luva de pelica em preconceituoso, isto eu não sei dizer.

Elemento essencial para aderirmos ao personagem é a sua situação de vítima. O trailer já deixa clara essa situação, estimulando a adesão do público. E, mesmo entre aqueles que não viram ao trailer, a situação de vulnerabilidade do protagonista fica clara no primeiro ato: todo o deslocamento que Chris sofre indica que ele será a presa. E como temos a tendência a ter dó da vítima, já começamos o segundo ato torcendo por Chris. Aqui, os demais traços da personalidade dele vão reforçar nosso engajamento junto ao protagonista.

É uma relação bastante dinâmica: traços da personalidade e o ambiente contribuem para comprarmos o drama do protagonista. E isto ficou evidente na sala de sessão quando o público até aplaudiu o desfecho de um dos personagens.

Então, tenha certeza, o melhor de Corra! (Get Out) não está em seu plot twist. Mais do que sua virada, o filme é bom porque, por meia das atuações e ambientações, ele nos coloca na perspectiva do protagonista. E também porque a sequência final, após descobrirmos tudo, é muito bem orquestrada. Com violência na medida exata, o final é uma lição de catarse.

Vale registrar a atuação de LilRel Howery, que interpreta Rod, o amigo de Chris e alívio cômico certeiro. Howery tem o timing para as piadas, quase sempre inseridas pelo roteiro de forma precisa para aliviar a tensão e nos preparar para o pior – apenas a sequência na delegacia parece mal encaixada na narrativa, apesar de engraçada.

Corra! não chega a ser o maior suspense/terror de todos os temos. É sim um filme muito bem dirigido, com roteiro interessante, e eficaz na manipulação das emoções do público. E que ainda consegue tratar do preconceito racial nos EUA de forma brilhante. Peele sempre acha o tom exato para expor o racismo cotidiano, quase invisível (até cutuca eleitores de Obama). Eis um dos principais méritos da obra, usar o terror e o suspense para esfregar o racismo na nossa cara.

E aí, gostou do filme? Ficou surpreso com a virada do filme, ou descobriu antes? Acho que a crítica está exagerando, ou o filme é tudo isso mesmo? Vamos, comente, compartilhe e curta nossas redes sociais:

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Os melhores pontos do filme estão na construção do seu protagonista e em como a narrativa consegue envolver o público em uma atmosfera sufocante de perigo. São esses dois pontos que fizeram o público sair extasiado da pré-estreia promovida pelo CINEPOP em parceria com a Universal.

A atmosfera do filme é enervante, deixando quem assiste apreensivo pela vida do protagonista. O diretor Jordan Peele alcança esse efeito recorrendo a expedientes até conhecidos: a casa isolada, no meio do nada, o protagonista que não se encaixa no contexto e, especialmente, pequenas bizarrices, como personagens agindo de forma estranha, ou diálogos com segundas intenções. O próprio trailer já exibe vários personagens com comportamentos estranhos.

Essa atmosfera enervante consegue alcançar o máximo de eficiência porque temos um protagonista com o qual nos importamos. Chris (Daniel Kaluuya) é fotografo e policial do aeroporto, gente boa, carinhoso com a namorada. Chris tem consciência do preconceito, porém, não levanta bandeiras ou faz discursos. O roteiro é bastante mordaz neste ponto: o filme aponta vários preconceitos (vamos falar em detalhes mais adiante), porém, a postura do protagonista não é panfletária. Isto evita que o público encare ele como um chatonildo. Acontece que muitos do movimento negro exigem uma postura combativa, dizendo que a casa-grande gosta de negro subserviente. Para os padrões militantes, Chris poderia ser enquadrado como subserviente (embora ele não o seja). Independente do que diz a militância, se Chris fosse um ativista panfletário, a plateia poderia ser resistente ao personagem. Ironia: o filme usa um personagem anti-militante para contornar a resistência da plateia e fazê-la torcer por alguém que sofre preconceito, fazendo ela se colocar no lugar da vítima de racismo. Agora, se o diretor está atacando os militantes radicais, ou dando de luva de pelica em preconceituoso, isto eu não sei dizer.

Elemento essencial para aderirmos ao personagem é a sua situação de vítima. O trailer já deixa clara essa situação, estimulando a adesão do público. E, mesmo entre aqueles que não viram ao trailer, a situação de vulnerabilidade do protagonista fica clara no primeiro ato: todo o deslocamento que Chris sofre indica que ele será a presa. E como temos a tendência a ter dó da vítima, já começamos o segundo ato torcendo por Chris. Aqui, os demais traços da personalidade dele vão reforçar nosso engajamento junto ao protagonista.

É uma relação bastante dinâmica: traços da personalidade e o ambiente contribuem para comprarmos o drama do protagonista. E isto ficou evidente na sala de sessão quando o público até aplaudiu o desfecho de um dos personagens.

Então, tenha certeza, o melhor de Corra! (Get Out) não está em seu plot twist. Mais do que sua virada, o filme é bom porque, por meia das atuações e ambientações, ele nos coloca na perspectiva do protagonista. E também porque a sequência final, após descobrirmos tudo, é muito bem orquestrada. Com violência na medida exata, o final é uma lição de catarse.

Vale registrar a atuação de LilRel Howery, que interpreta Rod, o amigo de Chris e alívio cômico certeiro. Howery tem o timing para as piadas, quase sempre inseridas pelo roteiro de forma precisa para aliviar a tensão e nos preparar para o pior – apenas a sequência na delegacia parece mal encaixada na narrativa, apesar de engraçada.

Corra! não chega a ser o maior suspense/terror de todos os temos. É sim um filme muito bem dirigido, com roteiro interessante, e eficaz na manipulação das emoções do público. E que ainda consegue tratar do preconceito racial nos EUA de forma brilhante. Peele sempre acha o tom exato para expor o racismo cotidiano, quase invisível (até cutuca eleitores de Obama). Eis um dos principais méritos da obra, usar o terror e o suspense para esfregar o racismo na nossa cara.

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