sexta-feira, maio 3, 2024

Crítica | Mistério e sobrenatural se fundem na divertida ‘Lockwood & Co.’, nova série da Netflix

A saga de romances jovem-adulta ‘Lockwood & Co.’ fez um grande sucesso quando lançada em 2013. Criada por Jonathan Stroud, a trama é ambientada em Londres, Inglaterra, e acompanha um grupo de jovens investigadores psíquicos que lidam com espíritos malignos que caminham entre os vivos. Além da popularidade considerável dos livros, a franquia conquistou diversos prêmios e, agora, migra para a Netflix em uma aguardada adaptação que não apenas resgata a essência dos escritos originais, como se consagra como uma divertida e instigante aventura sobrenatural – e uma pedida ótima para finalizar o primeiro mês do ano.

A primeira temporada, supervisionada por Joe Cornish (‘As Aventuras de Tintim’), serve como introdução ao universo arquitetado por Stroud, fornecendo algumas explicações sobre as ocorrências paranormais que vêm ganhando espaço há mais de cinquenta anos. Na investida, o véu que separa o mundo dos vivos e o dos mortos se diluiu tanto, que os fantasmas agora andam ente nós e posam como uma ameaça mortal – podendo nos matar ou nos paralisar pelo resto dos nossos dias. Entretanto, mesmo que os adultos não consigam lidar com essas criaturas, jovens das mais diversas idades começaram a desenvolver poderes psíquicos para enfrentá-los – seja enxergando traços de ectoplasma ou detectando determinados objetos que servem como receptáculo para os espíritos. E é aí que surge Anthony Lockwood (Cameron Chapman) e sua trupe, formada por Lucy Carlyle (Ruby Stokes) e George Karim (Ali Hadji-Heshmati).

Anthony fundou a Lockwood & Co. para se livrar da burocracia quase autoritária das outras agências corporativas que fornecem trabalho similar, utilizando os recursos à mão para recrutar qualquer um que possa auxiliá-lo. George foi o primeiro e se tornou um indispensável aliado de Anthony, enquanto Lucy, recém-demitida de uma das maiores empresas locais depois de ter sido erroneamente culpada pela morte de vários funcionários, foi a última “aquisição”. Enquanto a série carrega o nome do fundador do pequeno grupo, é Lucy quem rouba os holofotes, visto que é dotada de habilidades incríveis que a permitem, inclusive, conversar com espíritos malignos que se recusam a seguir em frente e a deixar o plano terreno.

A produção sabe muito bem como equilibrar o enredo dos livros e as múltiplas incursões adolescentes que dominam as plataformas de streaming ano após ano. De um lado, temos a jornada sobrenatural do trio protagonista contra as forças do mal – em que a problemática linha maniqueísta é fundida e permite que os arcos se tornem mais profundos e mais instigantes. Afinal, lidamos com jovens, que têm seus próprios medos e aspirações, e que, às vezes, deixam que as emoções aflorem em detrimento da razão: Anthony esconde segredos sobre a morte dos pais e da irmã, bem como a necessidade de se provar tão digno quanto ou até melhor que os outros; Lucy sofre com o trauma de ter deixado sua melhor amiga morrer, lidando com a culpa angustiante de ser a única sobrevivente; e George enfrenta o prospecto de ser o “diferentão” do time, acreditando ser descartável em todos os momentos.

Não é apenas a parte paranormal que nos chama a atenção, mas o lado humanizado de cada uma das personas que aparece nos episódios. É claro que a obra não é livre de imperfeições (seja na parte estética, seja na estrutura técnica), mas os deslizes não são fortes o bastante para nos tirar do caminho. Os elementos são bem posicionados e não se valem das fórmulas cansativas de apresentação de “futuros distópicos”, por assim dizer, em que se é imprescindível detalhar as múltiplas informações de determinado cosmos. O que temos é uma sucessão de fatos, que traz elementos clássicos das histórias detetivescas de Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle, em um espectro neo-noir cujo principal inimigo pode ser o seu vizinho.

Para além de enfrentar os fantasmas, Anthony, Lucy e George se veem presos em um jogo de gato e rato que envolve o retorno de uma perigosa entidade e uma caça a objetos possuídos que têm valor significativo no mercado clandestino. Esse mistério secundário ajuda na composição da temporada de estreia – mas peca na reviravolta final, tornando-se previsível e passível de descoberta logo que nos aproximamos no último episódio. De qualquer maneira, o excelente trabalho do elenco e do time por trás das câmeras é o bastante para ficarmos ansiosos para o próximo ciclo.

Não deixe de assistir:

‘Lockwood & Co.’ é uma bem-vinda adição ao catálogo da Netflix e uma ótima surpresa – principalmente àqueles que não esperavam grande coisa da adaptação. Mesmo com as falhas, o produto é muito positivo e cumpre com aquilo que promete desde os minutos iniciais até os créditos de encerramento. Se você tiver oportunidade, assista à série – e não se esqueça de prestar atenção se algo estranho estiver ocorrendo na sua casa. Afinal, pode ser que um fantasma esteja querendo te assombrar.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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