segunda-feira , 9 dezembro , 2024

Crítica | Street Food: América Latina – Uma Série Para Quem AMA Comer e Viajar!

Você, que está em casa há meses de quarentena, e está looooouco pra viajar, eis a série ideal para você: ‘Street Food: América Latina’. Com apenas seis episódios curtinhos com menos de meia hora cada, essa temporada (a anterior foca nos países da Ásia) joga luz sobre a cultura gastronômica de seis países da América Latina: Brasil, Argentina, México, Peru, Colômbia e Bolívia.



Criado por David Gelb e Brian McGinn, o formato é igual em todos os episódios: escolhe-se um personagem central a quem o episódio explana mais a história pessoal que envolve seu amor pela culinária e a quem espectador acompanha por mais tempo (geralmente é um personagem interessante); em paralelo, apresenta-se mais dois personagens, que oferecem outros pratos típicos da cidade elegida; conjuntamente, há o depoimento de um ou mais especialista em gastronomia ou crítico de culinária, que trazem suas observações sobre o porquê daqueles pratos serem tão representativos para a região.

Embora o formato seja igual, o que torna especial cada um dos episódios é a escolha certeira dos personagens entrevistados. No Brasil, joga-se luz sobre a tristíssima, porém vitoriosa, história de Dona Suzana, do Ré Restaurante, em Salvador. Talvez um dos depoimentos mais emocionantes, junto com o das cholitas, de La Paz, Bolívia, e a resistência cultural das mulheres cholas naquele país, por muito tempo marginalizadas e invisibilizadas, mas que hoje são reconhecidas culturalmente e não só dispõem de pontos de venda nas esquinas de La Paz, como também estão conquistando espaços em diversas camadas da sociedade.

Não passa despercebido que a maior parte das entrevistadas em todos os episódios seja mulheres. Colocadas numa perspectiva global, é inteligente observar como a jornada dessas mulheres, de diferentes culturas, é muito parecida: são mulheres que tinham um sonho, mas foram de alguma forma proibidas de segui-los; mulheres que engravidaram cedo e precisavam cuidar de seus filhos; mulheres que nunca tiveram nada e tiveram que lutar muito não só para vencer na vida, mas também contra as imposições da sociedade; e, no caso do Mercado La Perseveranza, em Bogotá, Colômbia, o quanto essas mulheres encontraram na sororidade a força que precisavam para conquistar seus espaços de trabalho por definitivo.

Por outro lado, o roteiro geral de ‘Street Food: América Latina’ parece ter querido deixar o melhor para o fim – o que é esquisito, afinal, se o espectador não gosta do que vê de cara, tende a abandonar. O episódio de abertura, de Buenos Aires, Argentina, desliza na arrogância, com a crítica gastronômica enchendo a boca para repetir discursos supremacistas como “Buenos Aires é o mais próximo da Europa na América Latina”, como se isso de alguma forma os tornasse melhores. Também surpreende a escolha de um chef de ascendência japonesa para representar a culinária peruana no episódio de Lima, Peru, como se aquele país não tivesse uma histórica e vasta culinária indígena e inca, o que dá ao episódio um tom mais elitista que os demais da temporada.

Mas como o assunto é mesmo a comida, ‘Street Food: América Latina’ é um prato cheio, com o perdão do trocadilho. Com uma fotografia belíssima que preenche a tela e dá água na boca, o espectador se esquece de que está em casa e quase estende a mão para pegar um acarajé, um ceviche, um buñuelo, um asado, uns picarones (gente, sério, isso aqui é muuuuuuito bom, coloquem na sua lista de coisas a comer no pós-vacina!). A câmera passeia pelas ruas das cidades como se estivéssemos lá. O episódio de Salvador, então, enche nossos olhos com poéticas tomadas da água do mar, do sol e da praia. Que saudade de viajar!

Em um momento como o que estamos atravessando esse ano, ‘Street Food: América Latina’ cumpre dois papéis fundamentais: o de nos fazer sentir como se estivéssemos viajando e também o de mostrar a importância dessas pessoas que trabalham no comércio de comida de rua, que são uma das parcelas que está mais sofrendo com a quarentena. Ver essa série só reforça o quanto nós devemos e precisamos apoiar o comércio local. Por isso, a recomendação: para assistir ‘Street Food: América Latina’ peça um delivery de algum petisco beeeeem gostoso, porque é uma série que dá fome.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Você, que está em casa há meses de quarentena, e está looooouco pra viajar, eis a série ideal para você: ‘Street Food: América Latina’. Com apenas seis episódios curtinhos com menos de meia hora cada, essa temporada (a anterior foca nos países da Ásia) joga luz sobre a cultura gastronômica de seis países da América Latina: Brasil, Argentina, México, Peru, Colômbia e Bolívia.

Criado por David Gelb e Brian McGinn, o formato é igual em todos os episódios: escolhe-se um personagem central a quem o episódio explana mais a história pessoal que envolve seu amor pela culinária e a quem espectador acompanha por mais tempo (geralmente é um personagem interessante); em paralelo, apresenta-se mais dois personagens, que oferecem outros pratos típicos da cidade elegida; conjuntamente, há o depoimento de um ou mais especialista em gastronomia ou crítico de culinária, que trazem suas observações sobre o porquê daqueles pratos serem tão representativos para a região.

Embora o formato seja igual, o que torna especial cada um dos episódios é a escolha certeira dos personagens entrevistados. No Brasil, joga-se luz sobre a tristíssima, porém vitoriosa, história de Dona Suzana, do Ré Restaurante, em Salvador. Talvez um dos depoimentos mais emocionantes, junto com o das cholitas, de La Paz, Bolívia, e a resistência cultural das mulheres cholas naquele país, por muito tempo marginalizadas e invisibilizadas, mas que hoje são reconhecidas culturalmente e não só dispõem de pontos de venda nas esquinas de La Paz, como também estão conquistando espaços em diversas camadas da sociedade.

Não passa despercebido que a maior parte das entrevistadas em todos os episódios seja mulheres. Colocadas numa perspectiva global, é inteligente observar como a jornada dessas mulheres, de diferentes culturas, é muito parecida: são mulheres que tinham um sonho, mas foram de alguma forma proibidas de segui-los; mulheres que engravidaram cedo e precisavam cuidar de seus filhos; mulheres que nunca tiveram nada e tiveram que lutar muito não só para vencer na vida, mas também contra as imposições da sociedade; e, no caso do Mercado La Perseveranza, em Bogotá, Colômbia, o quanto essas mulheres encontraram na sororidade a força que precisavam para conquistar seus espaços de trabalho por definitivo.

Por outro lado, o roteiro geral de ‘Street Food: América Latina’ parece ter querido deixar o melhor para o fim – o que é esquisito, afinal, se o espectador não gosta do que vê de cara, tende a abandonar. O episódio de abertura, de Buenos Aires, Argentina, desliza na arrogância, com a crítica gastronômica enchendo a boca para repetir discursos supremacistas como “Buenos Aires é o mais próximo da Europa na América Latina”, como se isso de alguma forma os tornasse melhores. Também surpreende a escolha de um chef de ascendência japonesa para representar a culinária peruana no episódio de Lima, Peru, como se aquele país não tivesse uma histórica e vasta culinária indígena e inca, o que dá ao episódio um tom mais elitista que os demais da temporada.

Mas como o assunto é mesmo a comida, ‘Street Food: América Latina’ é um prato cheio, com o perdão do trocadilho. Com uma fotografia belíssima que preenche a tela e dá água na boca, o espectador se esquece de que está em casa e quase estende a mão para pegar um acarajé, um ceviche, um buñuelo, um asado, uns picarones (gente, sério, isso aqui é muuuuuuito bom, coloquem na sua lista de coisas a comer no pós-vacina!). A câmera passeia pelas ruas das cidades como se estivéssemos lá. O episódio de Salvador, então, enche nossos olhos com poéticas tomadas da água do mar, do sol e da praia. Que saudade de viajar!

Em um momento como o que estamos atravessando esse ano, ‘Street Food: América Latina’ cumpre dois papéis fundamentais: o de nos fazer sentir como se estivéssemos viajando e também o de mostrar a importância dessas pessoas que trabalham no comércio de comida de rua, que são uma das parcelas que está mais sofrendo com a quarentena. Ver essa série só reforça o quanto nós devemos e precisamos apoiar o comércio local. Por isso, a recomendação: para assistir ‘Street Food: América Latina’ peça um delivery de algum petisco beeeeem gostoso, porque é uma série que dá fome.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
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