Netflix | Primeiras Impressões de Sintonia – 2ª Temporada

Já conferimos os quatro primeiros episódios da segunda temporada de Sintonia, série produzida por Kondzilla e Gullane, na Netflix. Se a primeira temporada conseguiu cativar o público com uma abordagem dinâmica e credível do cotidiano de jovens da favela de São Paulo, a segunda volta com o mesmo espírito envolvente, além de mais drama, suspense e ação nas vida de Doni (Jottapê Carvalho), Nando (Christian Malheiros) e Rita (Bruna Mascarenhas).  

Gravada durante a pandemia, a nova temporada teve um ano de atraso para chegar ao público na próxima quarta-feira, dia 29 de outubro. Sensação em 2019, pelo linguajar original e qualidade de produção, Sintonia apresenta novos rostos este ano, como Fanieh, Gabriela Mag, Bruno Gadiol e Marat Descartes (Quando Eu Era Vivo). 

Leia mais: Crítica Sintonia – 1ª temporada | Um Retrato da periferia de SP embalado por tiros, louvores e Funk 

Novidades de MC Doni

Um dos principais pontos desenvolvidos na continuação é a carreira musical do jovem funkeiro MC Doni. Com seis shows por noite, participação em programa de TV e milhares de seguidores, o rapaz realiza o sonho de viver da música, contudo não é apenas de alegrias que se compõe a profissão de artista. Ao lado dos gêmeos Jaspion (Júlio Silvério) e Rivaldinho (Jefferson Silvério), alívio cômico do seriado, Doni aprende que quando o dinheiro entra em campo, logo aparecem os empresários, os produtores e todos os agentes responsáveis pelo negócio do funk girar e faturar milhões por ano. 

Neste ponto, Konrad Kondzilla é mestre e, portanto, ninguém melhor do que o próprio para levar até o público o processo de descobertas dos talentos da periferia. A segunda temporada junta os artistas do funk e o modelo de feat. (em bom português, dueto) da indústria ao explorar a escalada de Doni junto a influencers das redes sociais, os instagramers e os tiktokers, como Gabriela Mag

Além do aprendizado de Doni para lidar com a fama e o dinheiro, pode-se esperar música chiclete na trama ao lado de Fanieh (conheça o hit Meu Bem da cantora). Prepara-se também para outras participações especiais, como Alok e MC Kevinho, os quais devem lançar uma canção inédita para o seriado.

Jornada do Crime de Nando

Paralela a jornada do cantor de funk, a trama entrega mais responsabilidade e jogo de cintura para Nando, agora o “patrão” no comando da favela e fechado com Badá, o chefe local em prisão. Quando a coisa esquenta, Nando saca o telefone e logo troca umas palavras com o prisioneiro 24h disponível para resolver conflitos, como a polícia está no esquema, os telefonemas são apenas um detalhe. Desse modo, Sintonia apresenta como é a vida sob um sistema de milícia, envolvida com traficantes e policiais, algo já institucionalizado em várias localidade do Brasil. 

Desde o primeiro episódio, um suspense é posto na narrativa: alguém do tráfico de drogas está passando os detalhes de produção e distribuição à polícia. Em consequência da apreensão do produto, a favela perde o abastecimento, as vendas e o dinheiro para de circular na comunidade. 

Afastado da esposa Scheyla (Júlia Yamaguchi) e da filha, Nando se dedica cada vez mais aos negócios do tráfico, resolve os dilemas dos moradores e tenta descobrir quem é o X9. Assim como Doni, ele começa a faturar alto e sai da favela. Ainda que ambos morem longe agora, eles estão ligados ao local, seja pela família, seja pelo crime. 

Caminho Glorioso de Rita

Na contramão dos amigos, Rita continua plantando as suas sementes vagarosamente para, quem sabe, colher os frutos mais tarde. Voltada completamente à igreja e com uma fé inflexível, a menina larga a vida de camelô, arruma um emprego no shopping e deseja fervorosamente reabrir a igreja da favela. Neste caminho, ela busca ainda a redenção e a concessão de perdão ao pai que a abandonou aos 14 anos. Além de percorrer um caminho de descoberta amorosa ao lado de Levi (Bruno Gadiol) e longe do pernicioso Formiga (Matheus Santos). 

Com a novidade de cenas da infância dos três amigos pelas ruas da favela, é possível compreender cada vez mais a essência e versatilidade do grupo, assim como os desentendimentos na comunidade por conta da desordem urbana. O final do quarto episódio é magnético. Ou seja, o roteiro criado por Felipe Braga (Marighella) e outras mãos continua afiado, as interpretações evoluíram entre os atores principais e também os coadjuvantes, como a de Cacau (Danielle Olímpia). 

Com direção de Johnny Araújo, Daniela Carvalho, Gabriel Zerra e Thiago Eva, os episódios são rápidos, envolventes e dinâmicos, tal como o ritmo do funk. A linguagem jovem e periférica em cada bordão, vestimenta e ambientação fazem de Sintonia um dos projetos mais autênticos e estimulantes de um Brasil multicultural na Netflix.

Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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