sábado, abril 27, 2024

‘Nosferatu’ | O que esperar do novo filme do diretor de ‘A Bruxa’ e ‘O Farol’

Esse remake vai acontecer, certamente, em algum momento futuro

Dentre os diretores que surgiram como destaque em seus respectivos gêneros nos últimos anos nenhum tem uma filmografia tão incomum e subjetiva quanto Robert Eggers no terror, este que começou sua carreira em 2007 com o curta João e Maria (uma releitura do famoso conto com duração de pouco menos de trinta minutos) mas cuja fama só veio em 2016 com o lançamento de A Bruxa.

O estilo de terror psicológico e social proposto por ele, além de interpretado sob o ponto de vista da protagonista Thomasin, estabeleceu uma nova fase para o gênero com mais obras lançadas sob uma perspectiva mais psicológica de seus personagens, indo na contramão da febre dos filmes found footage liderados por Atividade Paranormal. Foi a época que exemplares do gênero (que em pouco tempo se tornaram bem conceituados com público e crítica) surgiram tais como Hereditário e Homem Invisível.

O diretor, então, tomou seu tempo para trabalhar no seu novo projeto, este que seria um mergulho ainda mais intenso na exploração de uma narrativa interpretativa e com forte apelo ao terror psicológico. O Farol acabou sendo um sucesso com a mesma proporção de aceitação e rejeição do exemplar anterior; por um lado sua estética e direção foram comemoradas como algo que não se tem normalmente em um filme de grande circulação.

Com “O Farol” Robert Eggers provou estar apto para entregar um remake único

Por outro, o forte tom interpretativo da obra foi uma das razões do por que alguns espectadores não conseguiram se manter ligados à trama até o fim. Mesmo assim, após mais um êxito, Eggers se vê engajado em mais dois projetos: The Northman e uma releitura de Nosferatu.

O primeiro é cronologicamente sua produção mais próxima e, apesar de ter ainda escassas informações a respeito da trama, sabe-se que ele deve abordar a cultura viking de alguma forma. Já Nosferatu ainda é um projeto distante, sem maiores detalhes revelados, mas que não impede que especulações acerca de sua abordagem ou desenvolvimento sejam elaboradas. 

O filme com a criatura homônima foi lançado inicialmente em 1922 como um exemplar do movimento cinematográfico conhecido como Expressionismo Alemão. O motivo da sua produção, entretanto, está mais atrelado à complicações legais do que qualquer outra coisa. À época o diretor F. W. Murnau não conseguiu obter os direitos de adaptação do livro Drácula, que pertenciam a família do autor Bram Stoker.

“Nosferatu” de 1922 pode ser interpretado como um simbolismo daquele ano para a Alemanha

Como uma forma de burlar essa barreira legal ele elaborou um enredo que seguia à risca a mesma história narrada no romance, porém nomes de personagens foram modificados (o principal antagonista não mais era o conde Drácula mas sim o conde Orlok). Como esperado houve consequências legais e foi determinado que todos os rolos de filme fossem destruídos.

Ainda assim a força da obra ao longo das décadas foi apenas aumentando, bem como a mística do personagem que tinha um visual mais grotesco que o Drácula de Bela Lugosi alguns anos depois, e por detalhes técnicos empregados pelo diretor de conceder um tom ameaçador para a sombra do vampiro; esse jogo de luz e sombra no cenário era uma característica do mencionado movimento cinematográfico mas narrativamente virou um detalhe a mais para o vilão.

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Em termos de significado, Nosferatu ainda gera muitas discussões sobre possíveis mensagens implícitas em seu enredo e cenografia. Era característico dos filmes integrantes do expressionismo tecer críticas a situação da Alemanha pós primeira guerra, que precisava lidar com uma economia combalida e surgimento de grupos extremistas. Com isso em mente, o filme de Murnau foi ganhando ares de ser um grande comentário sobre a fraqueza da então vigente República de Weimar e como Orlok simbolizava as forças antagonistas àquela democracia.

O filme se aproveita das inovações do uso de luz e sombra do movimento alemão.

Nosferatu se tornou uma obra referência para cineastas alemães nos anos subsequentes e em 1979 ganhou uma “refilmagem espiritual” pelas mãos de Werner Herzog; uso das aspas se dá porque apesar do título semelhante o filme adaptou mais fielmente a obra de Stoker, logo todos os personagens apresentados são homônimos aos dos livros.

Ainda assim essa versão, principalmente no que concede à composição de cenário e figurino, exibe uma aproximação muito maior com a obra de 1922 do que a adaptação oficial de 1931 ou dos filmes da Hammer durante os anos 50 e 60, ainda mais quando observada a caracterização que Drácula recebeu que ressoa com a mesma utilizada por Max Schreck anteriormente.

Quanto a comentários sócio-políticos muito do que é teorizado em torno dessa versão ecoa na época extremamente divisiva que a Alemanha passava entre um bloco ocidental e oriental. A figura ameaçadora de Drácula, por vezes, passa a ser associada com o medo que ambos os lados tinham um do outro e suas atitudes grotescas (como se alimentar de sangue inocente) representava a forma cartunesca com que ambos os lados do muro eram reproduzidos para as populações.

A versão de Herzog caminha em outra direção da obra de 1922.

Sendo assim, por qual caminho Eggers pode seguir? Partindo do pressuposto que o diretor já mostrou que prefere ambientar seus enredos em contextos de época, é bem provável que sua versão do conde Orlok mantenha o cenário de século XIX e não sacrifique o simbolismo carregado por sua aparência. Não seria inesperado o diretor utilizar o atual imaginário popular formado sobre pandemias e questões sanitárias para montar um vilão simbólico.

Se anteriormente o vampiro representava uma corrosão ou divisão social, uma nova interpretação pode muito bem funcionar como um olhar do conceito de doença em si, com o ato de conversão praticado pelo conde funcionando como uma infecção. Esse tipo de olhar não seria incomum, visto que Guillermo del Toro assinou a série de livros Noturno explorando o vampirismo como uma praga.

Outro elemento que o diretor costuma dedicar tempo é a contextualização social da época em que a história se passa, essa estrutura da sociedade funciona como mecanismo da crescente do terror. A ambientação do famoso sanatório do Dr. Seward, onde Renfield também é mantido preso até a chegada de seu mestre, poderia ser um cenário de opressão tão elevada quanto a casa da família em A Bruxa ou a ilha do farol em O Farol

Ainda é tudo muito nebuloso e no campo da especulação, mas o diretor em questão já provou ter criatividade para entregar produtos que têm movido o terror em frente; muito da liberdade criativa para esse remake vai depender do que ele irá entregar com The Northman. Porém, não deixa de ser algo que gera grande expectativa.

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