sábado, abril 27, 2024

Opinião | Novo ‘Indiana Jones’ traz revisionismo para ‘O Reino da Caveira de Cristal’

Ao contrário das expectativas da Lucasfilm – e dos fãs em geral, Indiana Jones e a Relíquia do Destino não se tornou unanimidade entre crítica e público. Feito para dar um fim digno ao maior personagem dos cinemas, o longa queria apagar da mente dos apaixonados pelas aventuras de Indy o sabor agridoce deixado por Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, lá em 2008. Porém, mesmo que as coisas não estejam saindo conforme o planejado, com alguns especialistas apontando o filme como um provável fracasso de bilheteria neste ano, a divergência de opiniões acerca deste último capítulo está promovendo uma ação que a Lucasfilm conhece bem: o revisionismo.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©2022. All Rights Reserved.

Quem cresceu com o lançamento da trilogia prequel de Star Wars ou já era fã na época, provavelmente já entendeu tudo deste texto no finalzinho da introdução, porque já viveu exatamente o que está acontecendo agora. Na época de seu lançamento, as prequels da família Skywalker eram muito desejadas pelos apaixonados pelo novelão espacial. Afinal, depois de quase 20 anos longe dos cinemas, a franquia Star Wars chegava novamente às telonas, prontinha para fazer uma nova geração de fãs cair de amores pelos personagens que dominaram a Cultura Pop nas décadas anteriores.

No entanto, apesar das primeiras reações dos fãs emocionados serem positivas, o tempo passou e os anos 2000 vieram carregados de críticas à nova saga. Entre ameaças a atores do elenco – com alguns chegando a cogitar o suicídio diante da pressão das críticas – e críticas chamando o George Lucas de adjetivos pejorativos, como “vendido” e “mercenário”, a trilogia prequel se tornou “o filho feio” de Star Wars. Tudo relacionado a ela era extremamente negativo e gostar dos longas, principalmente dos dois primeiros, era motivo de piada em meio ao fandom.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©1999. All Rights Reserved.

Só que os anos se passaram, a Disney comprou a Lucasfilm e decidiu retomar a franquia Guerra nas Estrelas nos cinemas. Novamente, mais de uma década depois dos cinemas ficarem sem aventuras dos Skywalker, os fãs se empolgaram como poucas vezes e mobilizaram a internet num trenzinho de hype para o novo filme, o que acabou despertando o interesse de quem não tinha assistido à saga para correr a tempo de conferir os seis filmes anteriores a tempo de ver o tão aguardado Episódio VII.

O problema é que os dois primeiros filmes da “Era Disney” (O Despertar da Força e Rogue One) fizeram muito sucesso, mas também não foram unanimidade. Para piorar a situação, em 2017, com o lançamento do Episódio VIII, as críticas foram por água abaixo e a bilheteria passou longe do que o estúdio esperava. Começaram, então, os debates se Star Wars havia saturado ou não. E a pá de cal foi o Episódio IX, que deve ter agradado a apenas três pessoas no mundo inteiro.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©2019. All Rights Reserved.

Paralelamente aos novos filmes, foi crescendo nas redes sociais uma vertente de fãs apontando que as prequels não eram ruins, apenas mal compreendidas e que teriam envelhecido muito bem. Isso porque traziam elementos clássicos da saga, como as lutas com Sabres de Luz, a trama política e um “clima de Star Wars” que não se repetiu na trilogia nova. E mesmo que não seja unanimidade entre os fãs, já que muitos ainda detestam as prequels, é inegável que os filmes do final dos anos 90 e início dos anos 2000 se beneficiaram muito com o fracasso da trilogia nova. Esse movimento é natural das grandes sagas, fazendo valer aquela frase dos mais velhos de: “Antigamente era tudo melhor”.

Não que realmente fosse tudo melhor, mas esse pessoal se apega a agora sensação de nostalgia que até mesmo um filme ruim pode causar quando se é submetido a algo pior que ele. E agora, com o lançamento de A Relíquia do Destino, é a vez dos fãs de Indiana Jones passarem por esse processo de revisionismo da saga.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©2008. All Rights Reserved.

Em 2008, houve novo frenesi para o lançamento do quarto e até então último capítulo da saga de Indiana Jones. No Brasil, então, foi uma verdadeira histeria, já que Harrison Ford veio gravar cenas em Foz do Iguaçu e acabou fazendo uma Brazilian Tour, com direito ao ator se perdendo numa trilha da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. E tudo conspirava a favor do filme. Harrison voltaria, o talento promissor da época, Shia LaBeouf, se juntava ao elenco e o lendário Steven Spielberg retornaria ao cargo de diretor. Só que as coisas desandaram e a crítica detestou o filme com todas as forças. E ainda que tenha feito uma bilheteria bastante expressiva, virou consenso dentre os fãs que o capítulo final não era um bom filme e não passava de mais um caça-níqueis da Lucasfilm.

A repercussão foi tão negativa que, tal qual as prequels, O Reino da Caveira de Cristal virou motivo de piada na Cultura Pop. O caso que melhor exemplifica isso é o oitavo episódio da 12ª temporada de South Park. Chamado de A Questão Chinesa, o episódio mostra Stan, Cartman e seus amigos indo aos cinemas para ver o quarto Indiana Jones, mas se deparam com um filme sobre Steven Spielberg e George Lucas deixando a metáfora de lado e literalmente estuprando o Indiana Jones. O filme é tão traumático que causa uma perda de memória generalizada em praticamente todos que assistiram ao longa.

Não deixe de assistir:

Reprodução/ Paramount

As cenas são bem explícitas e o episódio causou uma polêmica colossal em seu lançamento, apesar de ter muitos fãs saindo em defesa dele diante da crítica pela dita busca incessável por dinheiro da Lucasfilm. Mas é o exemplo perfeito para ilustrar o quanto o quarto capítulo da saga do Indiana Jones foi massacrado na época.

Entretanto, com as críticas mistas de A Relíquia do Destino, até mesmo O Reino da Caveira de Cristal está sendo reavaliado como positivo pelos fãs, principalmente por seu final mais otimista. É que o público meio que cansou dessa perspectiva da Lucasfilm de que os grandes heróis do passado precisam crescer, se desiludir com a própria vida e se tornar velhos frustrados e assombrados por aquilo que foram no passado, assim como eles fizeram com o Han Solo, o Luke Skywalker e agora com o próprio Indiana Jones. É um caminho possível de ser seguido, mas incomoda quando a empresa aponta ser o único destino para quem fez feliz a infância de milhões de pessoas. É como se a felicidade e uma velhice tranquila não fosse cogitáveis, deixando a eles o único destino de se tornarem amargurados e descartáveis.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©2023. All Rights Reserved.

Diante dessa nova frustração, pontos como o espírito de aventura clássica, a estética de cores saturadas e tonalidade dourada e principalmente o final do quarto filme, que mostra o grande herói se casando com o amor de sua vida e compondo uma família feliz, sem abandonar seu jeitão icônico e paixão pela aventura, deixou de causar uma sensação agridoce em parte dos fãs e passou a despertar um sentimento bom, como se aquele fosse o fim definitivo do herói. E cá entre nós, era esse o fim idealizado por Spielberg, que não retornou para a direção deste quinto e último filme da saga.

De qualquer forma, gostando ou não de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, é curioso como a Lucasfilm parece ter encontrado esse padrão de até mesmo quando as coisas não saem como o esperado, eles dão um jeito de ter suas produções reconhecidas e revisadas por fãs apaixonados.

Divulgação/ Lucasfilm Ltd. & TM ©2022. All Rights Reserved.

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Indiana Jones e a Relíquia do Destino está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.

 

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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