domingo , 22 dezembro , 2024

‘The Handmaid’s Tale’ | 2×09: ‘Smart Power’ – A semente da discórdia

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Como alguém que lutou tanto para ter sua própria voz se submete à voz de terceiros? O penúltimo episódio da segunda temporada de The Handmaid’s Tale se inicia com esse incógnita tão profunda na alma. Encaramos o olhar vazio de Serena, que parece contemplar repetidamente a sucessão de chibatadas que afligem sua dignidade. Pela primeira vez no lugar onde ela ajudou a submeter tantas outras mulheres, o ardor da vergonha e constrangimento começam a lhe pesar, em uma espécie de conflito existencial entre a nova “ética” de Gilead e a verdadeira, que se perdera entre protestos e uma intervenção perversa que tenta exalar virilidade. Dobrando a esquina com o final de seu ciclo, a produção original da Hulu se sustenta para além dos horrores de um regime totalitarista, trazendo aquilo que tanto almejávamos testemunhar: o nascimento da semente da discórdia.

Leia também nossas análises dos episódios 1 (June), 2 (Unwomen) da 2ª Temporada , 3 (Baggage), 4 (Other Women), 5 (Seeds), 6 (First Blood), 7 (After) e 8 (Women’s Work)



Em Gilead, quem tenta fugir ou corromper a ditadura age de forma subversiva. E nessa trama, a subversidade permeia os cantos escuros não vistos. À medida que acompanhamos os oito primeiros episódios, vez ou outra vemos fragmentos dessas rachaduras, em corrupção de “princípios”, como Marisa Tomei logo de cara nos mostrou, além de toda a logística planejada para garantir que June não mais visse o sol nascer entre as sombras de cortinas negras e janelas pouco arejadas. Mas a subversão começou a ganhar formas mais concretas quando Serena se recordou de quem era. Quando Offred saiu de cena e abriu alas para June entrar. E nesse universo tortuoso onde nomes se perdem em substantivos possessivos, uma nova fagulha começa a latejar, nos deixando ansiosos pelo que sabemos que pode muito bem vir por aí.

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Serena tem ganhado um destaque surpreendente nessa nova temporada. Se desenvolvendo para além do olhar carrancudo coberto de mágoa por sua possível infertilidade, a antagonista começa a ganhar camadas mais sutis, que conforme destoam dos princípios que ela ajudou a promover e firmar, se consolidam também como uma grande contradição em sua alma. Até que ponto é possível se submeter à subversão instalada na nova-velha América? Essas questões, que pensávamos se calar ao ser obrigada a embarcar em uma indesejável viagem ao Canadá, ganham ainda mais coro, vindo por vozes até então inaudíveis devido à comodidade da distância territorial, social e institucional entre ambas as nações. Até que seus pés tocam o chão de um território novo e seus olhos começam a percorrer os reflexos de seu pecado tão egoísta, mesquinho e avassalador.

The Handmaid’s Tale’: Falamos com Bruce Miller, o criador da série sensação

Smart Power’ é um episódio fascinante, por não apenas juntar dois mundos tão aquéns, como também por verbalizar aquelas antigas indignações que acompanham a audiência desde a primeira temporada. Ao colocar Gilead em conflito com o resto do planeta – representado estrategicamente pelo país vizinho – indignações não ditas são proferidas e a fachada que o irredutível e arrogante comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) tenta sustentar com sua esposa perfeita cai diante dos seus olhos, graças a mais uma bomba tão poderosa como aquela que já vimos.

E em meio a perguntas angustiantes e uma mente que passa a ser constantemente confrontada por si mesma e por outras mulheres talvez pensadas como inexistentes, Serena se vê em uma encruzilhada crucial, que vai redefinir os rumos não apenas da aguardada season finale, assim como da próxima temporada já confirmada. Com uma narrativa absolutamente progressiva, que revela aqueles enxertos da história original de Margaret Atwood (eventualmente deixados de fora), The Handmaid’s Tale nos dá o sabor da discórdia, prometendo muito mais de onde isso veio. O que nos espera a seguir? Só Serena nos dirá.

 

 

 

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Leia também nossas análises dos episódios 1 (June), 2 (Unwomen) da 2ª Temporada , 3 (Baggage), 4 (Other Women), 5 (Seeds), 6 (First Blood), 7 (After) e 8 (Women’s Work)

Em Gilead, quem tenta fugir ou corromper a ditadura age de forma subversiva. E nessa trama, a subversidade permeia os cantos escuros não vistos. À medida que acompanhamos os oito primeiros episódios, vez ou outra vemos fragmentos dessas rachaduras, em corrupção de “princípios”, como Marisa Tomei logo de cara nos mostrou, além de toda a logística planejada para garantir que June não mais visse o sol nascer entre as sombras de cortinas negras e janelas pouco arejadas. Mas a subversão começou a ganhar formas mais concretas quando Serena se recordou de quem era. Quando Offred saiu de cena e abriu alas para June entrar. E nesse universo tortuoso onde nomes se perdem em substantivos possessivos, uma nova fagulha começa a latejar, nos deixando ansiosos pelo que sabemos que pode muito bem vir por aí.

Serena tem ganhado um destaque surpreendente nessa nova temporada. Se desenvolvendo para além do olhar carrancudo coberto de mágoa por sua possível infertilidade, a antagonista começa a ganhar camadas mais sutis, que conforme destoam dos princípios que ela ajudou a promover e firmar, se consolidam também como uma grande contradição em sua alma. Até que ponto é possível se submeter à subversão instalada na nova-velha América? Essas questões, que pensávamos se calar ao ser obrigada a embarcar em uma indesejável viagem ao Canadá, ganham ainda mais coro, vindo por vozes até então inaudíveis devido à comodidade da distância territorial, social e institucional entre ambas as nações. Até que seus pés tocam o chão de um território novo e seus olhos começam a percorrer os reflexos de seu pecado tão egoísta, mesquinho e avassalador.

The Handmaid’s Tale’: Falamos com Bruce Miller, o criador da série sensação

Smart Power’ é um episódio fascinante, por não apenas juntar dois mundos tão aquéns, como também por verbalizar aquelas antigas indignações que acompanham a audiência desde a primeira temporada. Ao colocar Gilead em conflito com o resto do planeta – representado estrategicamente pelo país vizinho – indignações não ditas são proferidas e a fachada que o irredutível e arrogante comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) tenta sustentar com sua esposa perfeita cai diante dos seus olhos, graças a mais uma bomba tão poderosa como aquela que já vimos.

E em meio a perguntas angustiantes e uma mente que passa a ser constantemente confrontada por si mesma e por outras mulheres talvez pensadas como inexistentes, Serena se vê em uma encruzilhada crucial, que vai redefinir os rumos não apenas da aguardada season finale, assim como da próxima temporada já confirmada. Com uma narrativa absolutamente progressiva, que revela aqueles enxertos da história original de Margaret Atwood (eventualmente deixados de fora), The Handmaid’s Tale nos dá o sabor da discórdia, prometendo muito mais de onde isso veio. O que nos espera a seguir? Só Serena nos dirá.

 

 

 

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