domingo , 22 dezembro , 2024

‘The Handmaid’s Tale’ | 2×10: ‘Last Ceremony’ – A mão que afaga, também bate

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Depois de um certo tempo, a ritualização de tudo se transforma em um simples modo de gestão pública. Os mecanismos metódicos de arrumação, de comportamento, de postura e a apropriação do corpo alheio passam a ser encarados como uma ordem, que traça diretrizes, limites e estabelece especificidades para garantir a “seguridade” de um povo em meio a uma extinção iminente. The Handmaid’s Tale nos provou que essa didática doentia já se habituou a todos. Cobrindo verdades com mentiras, maquiando reações e abafando a percepção real sobre o que significa Gilead, essa tal nova América cambaleia – bem ou mal – lobotomizando as emoções de mulheres que gradativamente são desconectadas de si mesmas, vivendo aquém ao mundo.

Leia também nossas análises dos episódios 1 (June), 2 (Unwomen) da 2ª Temporada , 3 (Baggage), 4 (Other Women), 5 (Seeds), 6 (First Blood), 7 (After) e 8 (Women’s Work)



Sufocante como já sabíamos que seria, a segunda temporada pressiona a audiência, a fim de que ela não respire. O desconforto se revelou pesado demais para muitas pessoas, que gradativamente julgaram a produção original da Hulu por “celebrar” a tortura sem precedentes. No entanto, o que de fato Bruce Miller construiu nessa série foi um universo paralelo a respeito do que certos comportamentos – reverberados e maximizados em larga escala – podem provocar em um contexto social global. Acostumados a desassociar o machismo e a misoginia de parâmetros mais generalizados, a sociedade mundial criou para si o conceito da interpretação exagerada, equivocada e – por que não – do famoso mimimi. Mas em uma era onde ainda testemunhamos na transmissão ao vivo da Copa do Mundo uma repórter sendo assediada por um torcedor aleatório, que tentou beijá-la no exercício de sua função, chocar o nosso raciocínio com extremidades se faz tão importante como combater toda prática abusiva.

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‘Last Ceremony’ é um episódio doloroso. A expectativa em torno da temida gestação de June produz o sentimento angustiante do rompimento de um vínculo tão profundo, que só poderia ser gerado no ventre de uma mulher. Em meio a uma sucessão de rituais cercados por muita espera e desvirtualização de princípios, uma fagulha de esperança nasce, resguardando nossa protagonista por pelo menos mais algumas semanas. No entanto, a anestesia absoluta de almas perdidas em si e alimentadas pelo ódio e intolerância reproduz aquela cena que tanto sofremos na primeira temporada da série. E como um corpo que se desliga de si, testemunhamos os reflexos perversos daqueles mesmos conceitos generalizados que condicionaram a consciência humana por anos a fio a respeito do que é abuso, assédio e estupro.

The Handmaid’s Tale’: Falamos com Bruce Miller, o criador da série sensação

E conforme caminhávamos a passos generosos em direção a uma metanoia, THT nos lembra que transformar algo enredadamente condicionado é simplesmente um caminho permeado por buracos, algumas valas e desvios de rotas que prolongam a jornada. O choque de realidade se faz extremamente desconfortável, mas justificável. À medida que absorvemos a dimensão da ritualização de Gilead – conforme novas camadas desse regime são reveladas, aprendemos também a compreender que desligar-se não é tão simples como as corajosas aias repetem para si mesmas. E em um contexto onde a mão que afaga é a mesma que bate, esperança e infortúnio se mesclam, em uma das cenas mais sofríveis aos olhos da audiência.

Com um final estarrecedor, que nos deixa a ver navios e angustiados pela falta de significado explícito, The Handmaid’s Tale se revela estar mais longe do que imaginávamos de uma eventual alvorada. Sendo penosamente realista com os fatos que compõem a narrativa, uma fotografia bucólica – coberta por neve – se esconde entre os gritos de desespero da nossa aia narradora, que perdida e cercada pela imensidão do nada, tenta tatear alguma solução para esse pesadelo que Gilead construiu ao seu redor.

 

 

 

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Depois de um certo tempo, a ritualização de tudo se transforma em um simples modo de gestão pública. Os mecanismos metódicos de arrumação, de comportamento, de postura e a apropriação do corpo alheio passam a ser encarados como uma ordem, que traça diretrizes, limites e estabelece especificidades para garantir a “seguridade” de um povo em meio a uma extinção iminente. The Handmaid’s Tale nos provou que essa didática doentia já se habituou a todos. Cobrindo verdades com mentiras, maquiando reações e abafando a percepção real sobre o que significa Gilead, essa tal nova América cambaleia – bem ou mal – lobotomizando as emoções de mulheres que gradativamente são desconectadas de si mesmas, vivendo aquém ao mundo.

Leia também nossas análises dos episódios 1 (June), 2 (Unwomen) da 2ª Temporada , 3 (Baggage), 4 (Other Women), 5 (Seeds), 6 (First Blood), 7 (After) e 8 (Women’s Work)

Sufocante como já sabíamos que seria, a segunda temporada pressiona a audiência, a fim de que ela não respire. O desconforto se revelou pesado demais para muitas pessoas, que gradativamente julgaram a produção original da Hulu por “celebrar” a tortura sem precedentes. No entanto, o que de fato Bruce Miller construiu nessa série foi um universo paralelo a respeito do que certos comportamentos – reverberados e maximizados em larga escala – podem provocar em um contexto social global. Acostumados a desassociar o machismo e a misoginia de parâmetros mais generalizados, a sociedade mundial criou para si o conceito da interpretação exagerada, equivocada e – por que não – do famoso mimimi. Mas em uma era onde ainda testemunhamos na transmissão ao vivo da Copa do Mundo uma repórter sendo assediada por um torcedor aleatório, que tentou beijá-la no exercício de sua função, chocar o nosso raciocínio com extremidades se faz tão importante como combater toda prática abusiva.

‘Last Ceremony’ é um episódio doloroso. A expectativa em torno da temida gestação de June produz o sentimento angustiante do rompimento de um vínculo tão profundo, que só poderia ser gerado no ventre de uma mulher. Em meio a uma sucessão de rituais cercados por muita espera e desvirtualização de princípios, uma fagulha de esperança nasce, resguardando nossa protagonista por pelo menos mais algumas semanas. No entanto, a anestesia absoluta de almas perdidas em si e alimentadas pelo ódio e intolerância reproduz aquela cena que tanto sofremos na primeira temporada da série. E como um corpo que se desliga de si, testemunhamos os reflexos perversos daqueles mesmos conceitos generalizados que condicionaram a consciência humana por anos a fio a respeito do que é abuso, assédio e estupro.

The Handmaid’s Tale’: Falamos com Bruce Miller, o criador da série sensação

E conforme caminhávamos a passos generosos em direção a uma metanoia, THT nos lembra que transformar algo enredadamente condicionado é simplesmente um caminho permeado por buracos, algumas valas e desvios de rotas que prolongam a jornada. O choque de realidade se faz extremamente desconfortável, mas justificável. À medida que absorvemos a dimensão da ritualização de Gilead – conforme novas camadas desse regime são reveladas, aprendemos também a compreender que desligar-se não é tão simples como as corajosas aias repetem para si mesmas. E em um contexto onde a mão que afaga é a mesma que bate, esperança e infortúnio se mesclam, em uma das cenas mais sofríveis aos olhos da audiência.

Com um final estarrecedor, que nos deixa a ver navios e angustiados pela falta de significado explícito, The Handmaid’s Tale se revela estar mais longe do que imaginávamos de uma eventual alvorada. Sendo penosamente realista com os fatos que compõem a narrativa, uma fotografia bucólica – coberta por neve – se esconde entre os gritos de desespero da nossa aia narradora, que perdida e cercada pela imensidão do nada, tenta tatear alguma solução para esse pesadelo que Gilead construiu ao seu redor.

 

 

 

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