Uma das expressões mais ditas entre cristãos, uma breve rima argumentativa que concentra um significado tão simbólico. Utilizar as Escrituras da Bíblia como mecanismo justificativo aleatório é um dos aspectos mais comuns da sociedade mundial. Tanto para os que creem, como para os que não creem. A extração e distorção de fragmentos do livro alimenta questionamentos, promove desentendimentos, má compreensão e auto validação equivocada, apenas como uma espécie de argumento auto afirmativo anestésico. Má interpretação é sempre um problema, mas quando o genuíno valor das palavras começam a se destacar das páginas, é aí que reside a essência genuína do texto bíblico. The Handmaid’s Tale consolidou o conceito de Gilead nestas deturpações, que se estenderam por 22 episódios, até então. E quando homens se calam diante da verdade, a verdade vem e se manifesta por conta própria.
Leia também nossas análises dos episódios 1 (June), 2 (Unwomen) da 2ª Temporada , 3 (Baggage), 4 (Other Women), 5 (Seeds), 6 (First Blood), 7 (After) e 8 (Women’s Work)
‘The Word’ talvez seja um dos episódios mais honrosos, em diversos âmbitos possíveis. Dentro da trama, ele honra o compromisso de June em garantir a plenitude de sua pequena vida. Aos que de fora se encontram, testemunhando semanalmente as mais diversas atrocidades e abusos, honra o ímpeto visceral de ver um pouco de sangue que não seja das nossas aias. Em se tratando de narrativa, o capítulo dignifica os verdadeiros fundamentos do Cristianismo, se desmistificando dos famosos mecanismos justificativos, que distorcem o material original e fazem o uso daquela tal expressão inicial, de que texto sem contexto, é apenas um pretexto. E envolta nessa abordagem macro, THT nos entrega um final revigorante, se apegando fortemente àquelas rachaduras tão comentadas ao longo de toda a temporada, se aprofundando nos problemas mais arraigados no próprio poder de Gilead, que passaram tempo demais escondidos entre quatro paredes.
Entre chamas flamejantes desconhecidas que exercem efeitos meramente distrativos, o episódio se condensa em uma sucessão de reviravoltas. Fagulhas emocionais que ameaçaram ganhar força ao longo de todo este ciclo, reverberam das maneira mais apaixonante possível, com sensibilidade, um sentimento de compaixão profunda e a sensação crescente de que a aclamada produção da Hulu possui rumos ainda mais corajosos. Ao final dessa caminhada, refletimos sobre o emaranhado de conflitos vividos por nossa protagonista, tentamos traçar seus pensamos e expressar suas decisões. Mas assim como a temática da segunda temporada é firmada no posicionamento de June como um ser independente e não alguém com um novo nome, vinculada a um novo “dono”, sua luta para rasgar os trajes de Offred e para que June se liberte dão início a uma nova fase na série, muito mais pessoal do que esta que encerramos.
The Handmaid’s Tale’: Falamos com Bruce Miller, o criador da série sensação
Com um episódio que incita princípios de uma rebelião que ganha ainda mais coro, The Handmaid’s Tale preenche as lacunas que faltavam nesse quebra-cabeça, iniciando um novo tablado, onde peças dispersas fazem nossos olhos percorrerem atrás de novos caminhos e novas respostas. E para cada ciclo que se fecha, a série se mostra ainda mais latente e pertinente, sempre com histórias frescas ainda não descobertas, todas na ponta da língua para serem compartilhadas. Sobram fragmentos pelo caminho, pessoas ainda não conhecidas, motivações pouco exploradas. Mas uma nova trilha se forma, projetando nossa protagonista a um labirinto de subversões escapistas, cercadas por uma floresta fechada que promete engolir cada uma de suas novas motivações. E neste frenético e desesperador final, a promessa de June se cumpre. O que virá a partir disso? Apenas 2019 nos responderá.