quarta-feira, maio 1, 2024

Crítica | Eduardo e Mônica – Uma boa releitura que fala sobre as idas e vindas da vida

Dentre muitas das boas composições feitas por Renato Russo, o cantor parecia mais inspirado quando, assim como Roberto e Erasmo Carlos, criava pequenas histórias ou causos que soavam comuns e ao mesmo tempo inusitadas. Quando ouvimos canções como Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica instantaneamente imaginamos e criamos todo cenário daqueles encontros e desencontros. Pensamos na feição dos personagens e até como tudo aquilo acontecia na vida real. De modo que é natural a transposições de ambas as músicas para o audiovisual, e que estas obras também funcionem de forma orgânica.

Assim como o próprio Faroeste Caboclo (2013), Eduardo e Mônica é dirigido por René Sampaio, que, tal como a origem do grupo Legião Urbana, é de Brasília e viveu a época de ouro do chamado Rock Brasília. Inclusive, Sampaio comandou apenas esses dois longas em toda sua carreira no cinema, além de algumas séries feitas para TV, virando, dessa maneira, quase que um especialista em dar vida as histórias de Renato e companhia. Não por acaso, ambos os títulos, no fim das contas, deixam impressões parecidas, já que as tramas são funcionais, o elenco é afiado e esteticamente a película não faz feio. Deixando, contudo, um gosto agridoce na boca, aparentando que podia se tirar mais daquilo ali.

Só que não há nada de errado nisso, já que claramente existe na produção a visão e versão clara de um autor – no caso, autores, já que vários roteiristas assinam o texto. É óbvio que, ao longo dos anos, tudo que idealizamos sobre a canção talvez seja diferente do que René expõe em tela, no entanto é inegável que a essência de Eduardo e Mônica do Renato está entranhada no filme. O primeiro encontro, o conflito de opiniões e hábitos, o choque das idades e por assim suas prioridades e anseios estão lá. Mas, acima de tudo, vemos nele a frequência perfeita que conectou o famoso casal.

É óbvio que muito do mérito do filme Eduardo e Mônica está na química entre os atores protagonistas Alice Braga e Gabriel Leone, que entregam performances simples, mas absolutamente naturais. São muitos os encontros e desencontros da trama, mas quando eles estão juntos demonstram uma energia que é fundamental para tudo funcionar bem. Assim como Sampaio é perspicaz ao criar um background mais amplo e real das figuras abordadas, com problemas cotidianos e familiares, dando solidez a cada uma das personas.

O longa discute que a vida não é exata como matemática, indo de encontro àquela história de que a coisa só funciona com gente de personalidades (ou almas) gêmeas. Há um brilhantismo natural em estrofes de Renato como “Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud… Ele gostava de novela e jogava futebol-de-botão com seu avô“, que é reproduzido de maneira inteligente pelas lentes do cineasta.

A primeira frase da canção, “quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”, não apenas oferece o tom da música como também telegrafa como será a estrutura do filme. Há todo momento os personagens parecem seguir caminhos antagônicos quando, pelo sentimento, resolvem rumar para outro lado, ainda que rapidamente se arrependam e voltem atrás. Aliás, mesmo quando teimam com o amor e se distanciam, não demoram a fazer uma nova visitar.

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De novo, Renato Russo foi bem atento e detalhista a citar pequenos gestos ou acontecimentos em Eduardo e Mônica, ajudando, imensamente, o trabalho da equipe de realizadores, que só precisaram costurar tudo. E é ótimo que tenham se dado a liberdade de falar sobre política, ditadura militar e pensamento equivocados, sem jamais vilanizar ninguém, contudo deixando claro como ideias desse tipo só trazem sombras. Por fim, mesmo que não impressione, o longa de René Sampaio é eficiente naquilo que se propõe e imprime com fidelidade o que o compositor brasiliense estava querendo dizer ao conceber o clássico musical oitentista.

**Fabricio Boliveira, ator que foi protagonista de Faroeste Caboclo, faz uma pequena aparição em um bar onde está a personagem Mônica.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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