Os filmes de serial killers entraram em franca decadência após a década de 80. Após várias sequências risíveis de ‘Sexta-Feira 13’, ‘A Hora do pesadelo‘ e ‘Halloween‘, os filmes de terror tiveram uma queda de qualidade, e o gênero foi limado das telas do cinema.
Em meados dos anos 90, eis que surge um novo terror, citado pela Variety antes de sua estreia como ‘D.O.A’ (Dead on Arrival, gíria para ‘futuro fracasso nas bilheterias’). Era ‘Pânico‘ (Scream, 1996), dirigido pelo mestre do terror Wes Craven (‘A Hora do Pesadelo’) em parceria com o roteirista Kevin Williamson, até então desconhecido.
‘Pânico’ não obteve grande sucesso em sua estreia, mas o boca a boca positivo fez o filme crescer nas semanas seguintes, e arrecadar US$ 103 milhões nos EUA. Era um fenômeno de bilheterias, e o começo de uma nova era para o terror, que rendeu vários frutos e um novo subgênero. Vieram duas sequências do original, e derivados como ‘Eu sei o que vocês fizeram no verão passado 1 e 2‘, ‘Prova Final‘, ‘Lenda Urbana‘, entre outros.
A franquia de terror popularizou a metalinguagem nos filmes, adicionando várias citações pop nos diálogos dos personagens.
Após a MTV lançar uma série baseada em ‘Pânico‘, com um elenco sofrível e uma história que lembra mais ‘Sexta-Feira 13’ do que o filme que se baseia, eis que a Fox surge com o brilhante ‘Scream Queens‘.
Os dois primeiros episódios exibidos em seguida já nos dão uma ideia do que esperar: a série é uma mistura genial de ‘Pânico‘ com ‘Meninas Malvadas‘, abusando da metalinguagem e satirizando os filmes de terror, a internet e a nova geração, que prefere postar no Facebook que está sendo esfaqueada do que chamar por ajuda.
‘Scream Queens‘ é o tipo de série “ame ou odeie”, e dividiu a opinião do público (obtendo uma audiência mediana). Para os curiosos, já vale avisar que não se trata de uma série de terror, e sim de comédia – com um humor ácido e politicamente incorreto.
A história começa em 1995, com uma das irmãs da fraternidade Kappa House dando a luz em meio a uma festa, dentro de uma banheira. Enquanto as irmãs a criticam por ter parido em um momento inoportuno e partem para dançar a música preferida delas (Waterfalls, da TLC), a garota morre. Nesse momento, já sabemos que a série é uma comédia satírica sobre a futilidade dos jovens de hoje em dia.
‘Scream Queens’: Jamie Lee Curtis recria cena clássica da mãe em ‘Psicose’
Vinte anos depois, somos apresentados à diabólica Chanel Oberlin (Emma Roberts), a Mean Girl que comanda a fraternidade distribuindo coices e ameaças às suas súditas. Após supostamente ter queimado uma de suas irmãs com ácido, ela desperta a fúria da Diretora Munsch (Jamie Lee Curtis), ex-Kappa, que decreta que todos os alunos do campus estão livres para se inscreverem na fraternidade. Quando assassinatos começam a acontecer (o primeiro episódio traz duas mortes insanas), a universidade vira um inferno. Com um assassino em série vestido de diabo causando mortes e fazendo novas vítimas, todos são suspeitos e ninguém está à salvo.
Jamie Lee Curtis, protagonista da franquia ‘Halloween‘, é um show à parte. Sua atuação é um deleite ao espectador e aos fãs dos filmes de terror, e é visível que ela estava se divertindo no set. Emma Roberts (‘American Horror Story: Freakshow’) é a personificação ideal da garota popular da escola, que maltrata a todos e nunca está feliz com a vida. Linda e insuportável.
O produtor Ryan Murphy, que nos brindou com as séries ‘American Horror Story‘ e ‘Glee‘, conseguiu um elenco invejável para sua nova série, que conta com Abigail Breslin (‘Pequena Miss Sunshine’), Lea Michele (‘Glee’), Diego Boneta (‘Pretty Little Liars’), Oliver Hudson (‘Nashville’), Keke Palmer (‘Masters of Sex’) e Nick Jonas.
Até a cantora Ariana Grande topou fazer uma participação especial, mesmo em uma atuação sofrível que nos faz rir. Intencionalmente ou não, a cena em que ela aparece beira o ridículo e tira risos involuntários. E aos que não entenderam a cena em questão: trata-se de uma crítica à atual necessidade dos jovens de postarem tudo que se passa em suas vidas nas rede sociais.
Apesar de alguns – poucos – erros, Murphy acerta em cheio no roteiro do episódio-piloto, que consegue fazer referências pop a diretores de públicos totalmente diferentes, como Michael Bay e Nancy Meyers, em um enredo frenético que não dá espaço para o espectador perder o interesse no que está assistindo. E as referências não param por aí: Taylor Swift, Game of Thrones e vários outros ícones da cultura moderna são mencionados em uma verborragia hilária e inserida no contexto da atual juventude.
O design de produção estiloso apresenta o mundo das fraternidades norte-americanas, com cores saturadas abusando de figurinos extravagantes, muito rosa e vermelho sangue.
Com apenas 15 episódios em sua primeira temporada, a série promete manter o ritmo frenético que conquistou no primeiro episódio, nos entregando uma história divertida e assustadora que promete um desfecho chocante (e com poucos personagens vivos).
Se você curte humor ácido e filmes de terror, ‘Scream Queens‘ é um prato cheio. Uma série que não se leva a sério, e consegue prender o telespectador do início até o final. Os produtores das séries ‘Pânico‘ e da incansável ‘Pretty Little Liars‘ deviam assistir a série para aprender como não deixar uma história entediante e manter o interesse do seu público.